Um estudo publicado em 02 de novembro de 2023, em JAMA Oncology evidencia que mulheres que recebem resultados falso-positivos em mamografias têm um risco aumentado de desenvolver câncer de mama, persistindo por até 20 anos após o resultado inicial. Este achado amplia o entendimento sobre as implicações de longo prazo dos resultados falso-positivos e aponta para a necessidade de estratégias diferenciadas de acompanhamento e rastreamento.
Embora os programas de rastreamento mamográfico estejam associados a uma redução significativa na mortalidade por câncer de mama, os resultados falso-positivos constituem uma preocupação relevante de saúde pública. Nos Estados Unidos, cerca de 11% das mulheres experimentam pelo menos um resultado falso-positivo em uma única triagem, enquanto na Europa, este número gira em torno de 2,5%.
📍 Principais Descobertas
O estudo, utilizando dados do programa de triagem mamográfica de Estocolmo e registros nacionais da Suécia, demonstrou que as mulheres com resultados falso-positivos não só estão em risco elevado de desenvolver câncer de mama subsequente, mas também têm maior risco de mortalidade por esta doença.
Aumentos significativos de risco foram observados entre mulheres de 60 a 75 anos, aquelas que passaram por biópsia após o recall e mulheres com baixa densidade mamográfica. De forma notável, o risco de desenvolver tumores grandes (≥20 mm) e tumores no mesmo lado do resultado falso-positivo foi especialmente elevado.
Para ilustrar a relevância clínica dos resultados falso-positivos em mamografias e seu impacto a longo prazo, a figura a seguir compara a incidência cumulativa de câncer de mama entre mulheres com e sem um resultado falso-positivo no exame inicial:
Fonte: Mao X, He W, Humphreys K, et al., (2023)
Já na tabela a seguir é possível observar as Razões de Risco (HRs) para o desenvolvimento de câncer de mama após um resultado falso-positivo, categorizadas conforme as características do tumor:
Fonte: Mao X, He W, Humphreys K, et al., (2023)
📍 Interpretações e Hipóteses
A pesquisa sugere duas hipóteses principais para explicar esses riscos aumentados. Primeiro, que o risco pode estar relacionado a tumores pequenos não detectados ou a doenças proliferativas benignas da mama. Segundo, um resultado falso-positivo pode indicar um risco intrínseco mais elevado de câncer de mama, possivelmente associado a fatores hormonais, genéticos ou à densidade mamográfica mais alta.
📍 Implicações Clínicas
Com base nestes resultados, o estudo propõe uma vigilância mais próxima e intensiva para mulheres após resultados falso-positivos, especialmente nos próximos dois ciclos de rastreamento. Também recomenda-se uma conscientização a longo prazo sobre a doença para essas mulheres, enfatizando a necessidade de estratégias de rastreamento individualizadas, que considerem a idade e a densidade mamária ao planejar o acompanhamento.
📍 Limitações e Força do Estudo
Apesar da robustez dos dados e da amplitude do seguimento, os autores apontam que a generalização dos resultados para outros países pode ser limitada devido a variações nos intervalos de rastreamento e nas taxas de resultados falso-positivos. Ainda assim, é provável que as conclusões sejam relevantes em contextos fora da Suécia.
O estudo, portanto, destaca a necessidade de refinar as abordagens de rastreamento mamográfico e oferece insights valiosos para a prática clínica. Além disso, nos reforça sobre o rastreamento personalizado como estratégia e a potencial extensão do rastreamento para mulheres mais velhas com histórico de resultados falso-positivos.
*As imagens apresentadas neste conteúdo foram extraídas da pesquisa original. Para uma consulta detalhada ao estudo completo, disponibilizamos aqui o link de acesso.
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Referência:
Mao X, He W, Humphreys K, et al. Breast Cancer Incidence After a False-Positive Mammography Result. JAMA Oncol. Published online November 02, 2023. doi:10.1001/jamaoncol.2023.4519