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Como a idade e a gravidez influenciam mutações genéticas e o risco de câncer de mama?

Como a idade e a gravidez influenciam mutações genéticas e o risco de câncer de mama?
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set. 6 - 5 min de leitura
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  • Mutações Somaticas na Mama:  Embora mutações somáticas sejam comuns em todos os tecidos, seu padrão no tecido mamário saudável era pouco conhecido. Fatores como idade e gravidez influenciam estas mutações, afetando o genoma do epitélio e estroma mamários.

  • Gravidez, Idade e Risco de Câncer: O índice de proliferação das células mamárias aumenta substancialmente durante a gravidez. Idade avançada na primeira gravidez pode levar a um maior número de mutações em um clone celular, possivelmente explicando o risco elevado de desenvolver câncer de mama em mães mais velhas.

  • Descobertas Surpreendentes: Identificado mutações em genes, como NOTCH2 e RUNX1, frequentemente associados ao câncer de mama, mesmo em amostras mamárias saudáveis. Isso sugere que eventos patogênicos iniciais em tecidos saudáveis podem, com o tempo, levar ao desenvolvimento de câncer, semelhante ao que ocorre em outros órgãos.

A mutação somática é um fenômeno natural que ocorre no DNA de células individuais durante a vida de um organismo. Embora essas mutações estejam presentes em todos os tecidos saudáveis, a paisagem mutacional específica da mama humana tem permanecido amplamente desconhecida até o momento.

A mama humana é um órgão particularmente interessante quando se trata de mutações somáticas, graças à sua biologia única. Diferente de outros órgãos sólidos, a mama tem um epitélio que prolifera lentamente e passa por mudanças significativas durante a reprodução, especialmente durante a gravidez. É sabido que durante a gravidez, o índice de proliferação das células mamárias pode aumentar quase cinco vezes, seguido de um intenso processo de apoptose após a amamentação, um fenômeno chamado involução mamária pós-parto.

Com isso em mente, pesquisadores se voltaram para a análise do genoma mamário saudável para entender como a idade e a gravidez podem influenciar a composição genômica do tecido mamário, tanto no epitélio quanto no estroma. Este estudo, publicado em 06 de setembro de 2023 em Nature Communications,  buscou preencher essa lacuna de conhecimento, fornecendo uma visão detalhada das mutações presentes no tecido mamário saudável durante os anos reprodutivos. O que eles encontraram foi esclarecedor.

Primeiro, os pesquisadores descobriram que, assim como outros órgãos saudáveis, a mama saudável acumula mutações com o envelhecimento, especialmente no compartimento epitelial. A taxa de acúmulo de mutações na mama de mulheres que nunca engravidaram é menor do que em outros tecidos, como o endométrio. Isso pode ser devido à renovação celular constante na mama até a menopausa.

Além disso, a gravidez desempenha um papel complexo na arquitetura da mama, afetado não apenas pela gravidez em si, mas também pela idade da mãe no momento da primeira gravidez. O estudo sugere que as células mamárias que já possuem alguma mutação pré-existente podem se expandir rapidamente durante a gravidez, dependendo do tipo de mutação. Com a idade avançada antes da gravidez, o número de mutações também aumenta, tornando mais provável que surjam mais mutações em um mesmo clone celular. Isso pode explicar o risco aumentado de desenvolver câncer de mama em mães com mais idade.

Surpreendentemente, os pesquisadores também descobriram mutações em genes associados ao câncer de mama, como NOTCH2 e RUNX1, em amostras saudáveis, independentemente da paridade. Estes achados sugerem que eventos patogênicos precoces no tecido saudável podem se expandir com o tempo e eventualmente dar origem ao câncer, como ocorre em outros órgãos.

Na figura abaixo, extraída do estudo original é possível observar a representação esquemática da variação no número de mutações e tamanho de clones no epitélio mamário parido e não parido:

Fonte: Nature Communications.The mutational landscape of the adult healthy parous and nulliparous human breast

Em conclusão, este estudo proporciona uma visão única sobre a paisagem mutacional do tecido mamário saudável. E destaca a necessidade de controles verdadeiramente saudáveis em estudos de câncer de mama, ou seja, amostras que representem genuinamente tecidos mamários saudáveis. Isso é crucial para distinguir entre mutações que são naturais e benignas daquelas potencialmente associadas ao câncer.

O entendimento das mutações em tecidos mamários saudáveis não só aprimora nossa compreensão da biologia mamária, mas também pode revelar fatores de risco e as origens do câncer de mama. À medida que continuamos a decifrar o código genético da mama, aproximamo-nos de entender completamente as complexidades do câncer de mama e, por consequência, de encontrar melhores estratégias de prevenção e tratamento.



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Referência: 

Cereser, B., Yiu, A., Tabassum, N. et al. The mutational landscape of the adult healthy parous and nulliparous human breast. Nat Commun 14, 5136 (2023). https://doi.org/10.1038/s41467-023-40608-z


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