Um homem vai ao médico:
- Doutor, estou deprimido, a vida é dura, cruel e injusta. Me sinto sozinho neste mundo ameaçador.
O doutor então diz:
- O tratamento é simples, meu amigo. Um grande palhaço está na cidade. Vá vê-lo, isso com certeza irá te animar!
O homem então começa a chorar e responde, gaguejando:
- Mas doutor... Eu sou o palhaço!
Gênio do humor, capaz de respostas rápidas e conhecido pelo sua incrível capacidade para improviso, muitas vezes beirando quadros maníacos, Robin Williams foi um comediante e ator brilhante que encarnou, desde os anos 70, personagens que fizeram parte da infância e adolescência de mais de uma geração: Mork, Popeye, o Gênio da lâmpada, a babá mais que perfeita, Peter Pan... e continuava a alegrar em seus espetáculos de stand-up comedy, seriados, entrevistas, e até em seus perfis de Instagram e Twitter.
Para mim, uma das lembranças mais marcantes da carreira de Robin Williams foi em 1998, quando estreou no cinema o filme “Patch Adams – O amor é contagioso”, baseado em fatos reais. O personagem-título, um homem extrovertido e excêntrico, divertido, mas com um profundo quadro depressivo, que tenta suicídio, mas felizmente falha. Desta forma, interna-se voluntariamente num hospital psiquiátrico e descobre que ao animar os outros pacientes ele próprio descobre a sua vocação de vida que era cuidar e fazer sorrir, e inicia os estudos de medicina, com métodos nada convencionais.
“Se você tratar uma doença, você ganha ou você perde. Se você tratar uma pessoa, eu garanto que você vai ganhar, não importa o resultado...”, essa é uma das falas mais tocantes ditas no filme.
O filme foi um sucesso de bilheteria, porém um fracasso de crítica, alguns diziam até que foi o pior filme lançado em 1998 (mesmo ano em que foi lançado A Noiva de Chucky, para fins de comparação), mas pouco importa: O filme foi fundamental para fomentar o interesse pela medicina durante os anos que seguiram.
Lembro-me do meu início de faculdade no início do século XXI, tempos de Orkut e pré-smartphones, quando assistir Patch Adams era quase um pré-requisito para qualquer calouro e virou um clichê perguntar por que a pessoa fez medicina e ouvir de volta “Por causa do Patch Adams...”. Desde então dezenas de grupos se espalharam pelo Brasil, alguns formados por médicos e outros formados por voluntários, com o objetivo de alegrar os pacientes de hospitais, principalmente crianças e idosos e o mais famoso desses grupos é o Doutores da Alegria.
Esses episódios fazem acender a seguinte dúvida: Será que os comediantes são mais propensos a depressão? Um estudo publicado no British Journal of Psychiatry , que comparou 523 comediantes a outros 350 atores, sugeriu que comediantes possuem mais características psicóticas do que a população em geral. De fato, as características necessárias para fazer alguém rir são as mesmas detectadas em pessoas com esquizofrenia e transtorno bipolar, sugeriu o estudo.
"Embora a psicose esquizofrênica em si possa ser danosa ao humor, em sua forma mais inicial ela pode aumentar a capacidade da pessoa associar coisas estranhas ou incomuns, ou ajudar a pensar 'fora da caixa'," declarou o coautor do estudo, Gordon Claridge, ao jornal The Guardian.
Isso é interessante, pois foi fundado nos EUA um programa chamado Stand Up for Mental Health, focado em ajudar pessoas a lidar com os transtornos mentais canalizando suas ideias, ansiedades e frustrações na forma de comédia stand-up.
O seu fundador, David Granirer, rejeita qualquer sugestão de que os comediantes tem maior tendência a depressão ou outros transtornos mentais.
"Eu acredito que isso é um estereótipo, como aquele do 'palhaço triste'. Há muitas pessoas diferentes que fazem comédia por razões diferentes, e não só os comediantes usam o humor para ocultar sua tristeza ou dor." Disse Granirer, sedimentando a frase popular de que é melhor rir para não chorar.
A depressão e seus cuidados
Mas nem todos os comediantes passam por dificuldades assim, e a depressão está longe de ser algo exclusivo de personalidades criativas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 350 milhões de pessoas no mundo sofrem desse problema que, em seus casos mais graves, a depressão pode levar ao suicídio. Por ano, cerca de 1 milhão de mortes são causadas por suicídios.
A depressão é bastante frequente em médicos e outros profissionais da saúde. Um estudo realizado pelo grupo americano de apoio Beyond Blue, em 2013, numa amostra de 14 mil médicos, revelou que eles têm um risco de depressão mais de quatro vezes maior que a população em geral, e que cerca de 1 em cada 6 deles pensaram em suicídio nos últimos 12 meses. O estudo mostrou ainda que apesar de os médicos do sexo masculino sofrerem mais de transtorno de ansiedade, por normalmente trabalharem por mais horas semanais e abusarem com mais frequência de álcool e outras drogas, são as profissionais do sexo feminino as que sofrem com mais frequência das síndromes de burnout e têm mais ideações suicidas.
Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, a depressão não é um estado de humor triste que se resolve apenas com conversa e pensamento positivo. A depressão é uma doença orgânica, que afeta o funcionamento da mente de forma profunda e pode levar até a estados de catatonia, com imobilidade e desligamento da realidade.
A pessoa com depressão deve ser ajudada o quanto antes. Suas causas nem sempre podem ser elucidadas, mas é fato que é uma doença crônica, e como toda doença crônica, requer tratamento com profissional habilitado. A vigilância sobre o risco de suicídio deve ser intensa, sabe-se que até 50% das pessoas que já ameaçaram ou tentaram suicídio previamente acabam efetivando-o.
- Todo profissional de saúde deve ser vigilante sobre pacientes que expressam desejo de fazer mal a si próprios.
- Todas as ameaças de suicídio devem ser recebidas com seriedade e investigadas.
- Não importa se o paciente é terminal ou se é um profissional bem-sucedido.
- Não há mal nenhum em perguntar se a pessoa "já teve intenção de acabar com tudo?" Essa informação pode salvar vidas.
Uma entidade que pode ajudar é o Centro de Valorização da Vida (CVV). Fundado em 1962 por voluntários, foi reconhecida pelo Governo Federal como instituição de utilidade pública em 1973, possui uma rede de milhares de voluntários preparados para ouvir, aconselhar, sem criticar, julgar ou cobrar.
São realizados mais de um milhão de atendimentos anuais e esse número costuma aumentar nos fins de ano.
“Tem gente que se sente frustrado pelo que não conseguiu realizar durante o ano, tem gente que se sente solitário ao não ter com quem dividir as festividades, existem aqueles que associam a época à saudade de pessoas amadas”, exemplifica Adriana Rizzo, voluntário do CVV.
“Os motivos são variados e as dores idem, mas todas elas precisam de apoio emocional, de alguém com quem conversar de forma aberta e segura”.
Então se você conhece alguém com depressão ou ideias suicidas, ajude, você pode estar salvando uma vida.
O telefone de contato do CVV é 141 na maioria das regiões, mas o contato pode ser feito internet (www.cvv.org.br), por meio de chat, skype e e-mail ou pessoalmente nos 70 postos de atendimento pelo país.