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Síndrome da Resignação! Uma ameaça alarmante à saúde mental da população refugiada mundial

Síndrome da Resignação! Uma ameaça alarmante à saúde mental da população refugiada mundial
Danielle Granja Serpa
fev. 2 - 5 min de leitura
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Os últimos anos foram marcados pela elevação acentuada, em esfera mundial, do número de indivíduos refugiados, assim como pessoas em busca do reconhecimento da condição de refugiado, em luta por maiores chances de sobrevivência. Este cenário estende-se até os dias atuais e apresenta-se, de forma alarmante, em crescimento exponencial.

O aumento da violência e dos abusos cometidos pelo poder público, da incerteza em geral, da escassez de recursos básicos vitais, do agravamento dos fatores climáticos extremos, das crescentes perseguições raciais/ideológicas e, principalmente, do surgimento de severos conflitos armados entre diferentes nações são fatores determinantes e inerentes da grave crise psicossocial observada nos mais diversos países.

Neste contexto, a população de refugiados soma inúmeros prejuízos, destacando-se os de natureza psicológica. Dados fornecidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), constatam que crianças, em especial as inseridas nesta situação de vulnerabilidade, apresentam maiores riscos de desenvolverem quadros de perturbações mentais graves com danos psicológicos mais severos quando comparados aos indivíduos adultos. Foram relatados diversos casos de mesmas características clínicas, que determinavam uma doença específica observada em crianças refugiadas: a denominada Síndrome da Resignação. Esta abrange particularidades essenciais para a diferenciação de outros diagnósticos: depressão, depressão maior, transtorno do estresse pós-traumático, dentre outros.

A Síndrome da Resignação foi relatada pela primeira vez na década de 1990, na Suécia, em pessoas de faixa etária infantil, que se encontravam em situação de refugiadas ou em processo de reconhecimento de residência em país estrangeiro. Sabe-se que sua etiologia é psicológica. Porém, muitos aspectos de sua fisiopatologia ainda são desconhecidos pelos pesquisadores.

O quadro clínico é marcado por sintomas extremamente complexos e prejudiciais à essa população, sendo esses de início mais sútil, progredindo para manifestações graves, respeitando geralmente uma sequência padronizada. Inicialmente, o indivíduo desenvolve sintomatologia compatível com quadro depressivo importante, acompanhado de isolamento social, seguido de ideação suicida. Evolui então para a ausência de comunicação/interação por parte do paciente, com recusa alimentar, e déficit de reatividade reflexa à quaisquer estímulos neurológicos. Progride para uma importante diminuição das funções motoras, caracterizada por hipotonicidade e, por fim, necessidade do uso de sonda nasogástrica para alimentação e nutrição adequada da criança. Todos estes aspectos configuram um estado comatoso, causado por uma doença de cunho essencialmente psicológico.

O número de crianças afetadas por esta patologia extremamente grave e degradante mostra-se cada vez maior e, consequentemente, preocupante para a saúde não só dos indivíduos doentes, como para as pessoas de sua convivência. A visibilidade e o conhecimento escasso acerca deste grave distúrbio torna-se uma ameaça alarmante para a vida de milhares de crianças refugiadas que, claramente, vivenciam experiências traumáticas e avassaladoras, estando completamente desprotegidas pelo poder público e tendo seus direitos humanos violados de forma banal.

Outro ponto importante a ser ressaltado é a dificuldade de acesso deste grupo aos serviços de saúde, seja por barreiras linguísticas, má gestão governamental do setor de saúde imigratório, pelo medo da deportação ou por falta de adesão ao tratamento pelo paciente.

Diante dos pontos expostos, torna-se evidente a necessidade urgente do desenvolvimento de intervenções viáveis e funcionais para a implementação de uma abordagem adequada e efetiva, que colabore para o alívio do sofrimento destas pessoas. Apesar de já constatado o fato de que a liberdade e o acolhimento desta população colabore para o alívio dos sintomas, maiores esforços na realização de estudos científicos mais aprofundados da Síndrome da Resignação mostram-se uma importante ferramenta para o aperfeiçoamento de um diagnóstico ágil da patologia.

Da mesma forma, se faz necessário a instituição de ações realmente eficazes para abrandar o sofrimento durante o período crítico da doença, além da implementação de tratamentos que busquem acelerar o processo de remissão da enfermidade e, eventualmente, obter métodos que culminem na cura das pessoas afetadas.

Referências Bibliográficas:

  1. MATIAS, i. S., LIMA, W. P., FERREIRA, M. L., SILVA, V. J. A., SAMPAIO, D. B., RIBEIRO, P. J. T. A saúde mental de crianças e adolescentes refugiados e suas consequências na gênese da síndrome da resignação. Revista Research, Society and Development, v. 11, n. 2, e35611225715, 2022 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i2.25715

SCHMID, P. C. Saúde mental e restrição de liberdade: relato de experiência como médica psiquiatra em centro de detenção de refugiados. Saúde em Debate, v. 43, n. 121, p. 626–635, abr. 2019  | DOI: https://doi.org/10.1590/0103-1104201912126

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