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Maio Roxo - Sintomas e Diagnóstico de Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn

Maio Roxo - Sintomas e Diagnóstico de Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn
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mai. 19 - 9 min de leitura
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Por Yan Kubiak Canquerino - Colaborador da Academia Médica

Continuando nossa série sobre DII (Doenças inflamatórias intestinais), hoje vamos nos ater mais às apresentações das doenças e em seguida, à maneira de diagnosticá-las, então respira fundo e vamos lá, porque vai ser um conteúdo denso, porém, completo e no fim recompensador, pois poderá entregar mais qualidade de vida para seus(as) pacientes.

Esse é um artigo para celebrar o mês maio roxo, o qual tem por propósito chamar a atenção para as doenças inflamatórias intestinais que são, principalmente a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa, duas doenças crônicas, incapacitantes e quase sempre assustadoras para o(a) paciente, portanto realizar um diagnóstico precoce, preciso e saber mais sobre essas doenças pode fazer você passar mais confiança e o máximo de bem-estar para uma pessoa que venha a precisar de você.

Vamos aprofundar um pouco o entendimento sobre a doença

As respostas mediadas por células T ficam amplificadas em ambas as doenças. Na doença de Crohn a inflamação é desencadeada por um aumento nas respostas das células Th1 ( T-helper e Th 17, levando a um aumento na secreção de citocinas pró-inflamatorias (IL-17, interferon gamma (IFN-ℽ) e fator de necrose tumoral (TNF-Ⲁ), levando a um ciclo de inflamação autossustentada. Na retocolite, a resposta é Th2 mediada levando a uma ativação de linfócitos natural killer’s e linfócitos B maiores, e é mediado por IL-5 e IL-13. Muitos dos loci genéticos falados nesse artigo referem-se à função das células T.
 

Para não ficar extremamente extenuante e complexa a abordagem sobre a doença, você pode acessar diretamente o artigo fonte para esse texto aqui. Nesse artigo existe claramente a explicação acerca dos vários mecanismos e alterações que podem ocorrer na microbiota intestinal, tanto os fatores de risco inatos da resposta imune quanto os fatores de risco ambientais e modificáveis em relação à dieta e hábitos que podem predispor a pessoa a vir desenvolver as DIIs.

 

O que um paciente com DII irá relatar para você?

Para ficar mais didática a abordagem aqui, vamos separar por doença.

Primeiro, a DOENÇA DE CROHN

A doença de Crohn, como falada nesse artigo, pode acometer qualquer porção do trato gastrointestinal (TGI), portanto, os sintomas podem ser os mais variados possíveis, a depender da porção acometida pela doença. Os sintomas clássicos são dor abdominal, diarreia aquosa e perda de peso. 

A pessoa acometida geralmente sentirá cólica e os sintomas podem persistir por anos até o diagnóstico. A dor pode melhorar após a movimentação intestinal. Pela doença ter uma predileção em acometer o íleo, a dor mais frequentemente está localizada no quadrante inferior direito. É importante fazer o diagnóstico diferencial com a apendicite, pois a dor pode ser aguda ou crônica, sendo mais aguda geralmente e com remissões.

Em relação à diarreia, ela geralmente é  aquosa, embora possa haver sangue. A diarreia costuma estar presente em pacientes que possuem envolvimento retal ou no cólon. O sangramento severo pode estar presente em 1 a 2% dos casos. A diarreia é de frequência intermitente até que o diagnóstico seja feito.

Em relação à perda de peso, ela ocorre devido a multifatores, isto é, devido à diarreia crônica, má absorção de nutrientes ou anorexia devido a um medo de comer, é importante estar atento a isso, pois esses fatores podem ser isolados ou combinados entre si.

 

Como a doença se apresenta macroscopicamente?

A doença de Crohn pode se mostrar com um padrão formador de fístula ou um padrão obstrutivo fibroestenótico. As fístulas intestinais ocorrem em mais ou menos 20 a 40% dos pacientes com Crohn. A fístula pode acontecer para qualquer estrutura adjacente, incluindo intestinos, bexiga, pele ou vagina. As fístulas entéricas são as formas mais comuns de fistulização luminal da doença. As fístulas enterovaginais são as próximas na lista de mais comuns e nelas ocorre a passagem de fezes ou gases através da vagina. Fístulas enterocutâneas, excetuando as fístulas perianais, resultam em drenagem de conteúdo entérico através da pele. As fístulas enterovesicais ocorrem em 3% dos casos.

O padrão fibroestenótico da inflamação resulta no desenvolvimento de obstruções, resultante de estrangulamentos, fazendo com que sintomas obstrutivos se apresentem, isso inclui dor abdominal, náuseas e vômitos. Esse processo pode ser agudo ou crônico. Os estrangulamentos podem ocorrer através de todo o TGI. A obstrução é mais comum no intestino delgado, no entanto é importante lembrar que pode estar presente em outros locais.

Por fim, é importante falarmos dos sintomas sistêmicos da doença, a fadiga é comum estar presente, resultante de inflamação e má absorção de nutrientes. Febres baixas são comuns e frequentes nesses pacientes. Febres muito altas indicam um processo inflamatório mais severo, podendo representar uma formação de abscesso ou perfuração. Guarde esse número! Mais da metade dos pacientes com DC também apresentam sintomas extraintestinais, suas frequências estão na tabela a seguir.

Agora, portanto, para você se localizar, acabamos de falar sobre as apresentações da doença de Crohn, a doença que acomete qualquer lugar do TGI, agora vamos falar sobre a RCU (Retocolite Ulcerativa), aquela que se restringe mais às porções finais do intestino (cólon e reto)

Retocolite Ulcerativa

A inflamação dessa doença se limita à mucosa colônica, fazendo sintomas menos heterogêneos que a doença de Crohn. A severidade dos sintomas está relacionado ao grau de acometimento e inflamação, podendo apresentar um largo espectro de situações clínicas. Existe o sistema de classificação de Montreal que descreve a extensão do envolvimento e pode ser usado para classificar objetivamente a extensão da doença e auxiliar no prognóstico e manejo clínico. O tempo até o diagnóstico tende a ser menor na retocolite em relação à doença de Crohn, tende a ocorrer em semanas, no máximo meses, ao contrário da doença de Crohn que geralmente ocorre em anos.

A principal característica da doença é uma diarreia decorrente do rápido trânsito intestinal, devido ao cólon inflamado, geralmente é pós-prandial podendo ser noturna também. A severidade da diarreia depende da extensão da inflamação. O sangue geralmente é associado com a Retocolite, no entanto ele não está sempre presente, especialmente nos casos mais brandos da doença, os quais são limitados ao envolvimento distal, portanto, a presença e a quantidade de sangue representa indiretamente a seriedade do acometimento.

Outras apresentações e sintomas comuns são dor abdominal e tenesmo. As dores abdominais podem ir desde uma cólica fraca até uma dor severa. Assim como falado no artigo sobre doença de Crohn, é importante falar sobre os sintomas sistêmicos que a doença pode apresentar, como: fadiga, febre e perda de peso.

Ao longo do desenvolvimento da doença, os(as) pacientes podem desenvolver estrangulamentos colônicos, ocorrendo entre 5 a 10% dos(as) pacientes, podendo levar à obstrução e dor. Sempre que houver estrangulamentos, você, médico(a) deve suspeitar de malignidade. 

Além desses sintomas, pode ser que a retocolite se apresente com constipação, principalmente quando existe um envolvimento mais da porção distal do TGI, resultando em um trânsito e motilidade mais lenta comparada às porções mais proximais do intestino. Importante é lembrar que, mesmo com constipação, pode haver excreção de sangue e muco. Diferentemente da doença de Crohn, as apresentações extraintestinais da RCU são menos comuns.

Por fim, observe a tabela que mostra a classificação de Montreal para classificar a extensão da RCU.

Pode respirar, bastante coisa, não é? Mas como falei, vai ser recompensador, uma hora ou outra você pode aplicar esses conhecimentos e impactar positivamente a vida de alguém que venha até você em busca de ajuda.

Só para lembrar que essa série ainda não terminou, na “pegada” do maio roxo, virão mais textos ainda sobre doenças inflamatórias intestinais, não perca!

Deixe sua avaliação do conteúdo nos comentários abaixo e compartilhe alguma informação que tenha sobre o assunto! Até a próxima 🙋🏼‍♂️

 

Deixo ainda algumas sugestões de leitura sobre assuntos relacionados!

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Referências:

SHAPIRO, M. J. ; SUBEDI, S. ; LELEIKO, N.S. Inflammatory Bowel Disease. Disponível em: https://doi.org/10.1542/pir.2015-0110. Acesso em: 17/05/2021.

BRITO, R. C. V. ; PERES C. L; SILVEIRA K. A. F et al. Doenças inflamatórias intestinais no Brasil perfil das internações entre os anos de 2009 a 2019. Disponível em: https://doi.org/10.29237/2358-9868.2020v8i1.p127-135. Acesso em: 17/05/2021.

FLYNN, S. ; EISENSTEIN, S. Inflammatory Bowel Disease Presentation and Diagnosis. Disponível em: 10.1016/j.suc.2019.08.001. Acesso em: 19/05/2021.

Satsangi J;  Silverberg M S ; Vermeire S et al. The Montreal classification of inflammatory bowel disease: controversies, consensus, and implications. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1136/gut.2005.082909. Acesso em: 19/05/2021.

RAMOS, P. G; PAPADAKIS K. A. Mechanisms of Disease: Inflammatory Bowel Diseases. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.mayocp.2018.09.013. Acesso em: 19/05/2021.



 


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