Pesquisa publicada no Journal of the American Heart Association indica que dormir um número inconsistente de horas e adormecer em horários diferentes pode aumentar o risco de desenvolver doença aterosclerótica entre adultos com mais de 45 anos.
O estudo utilizou dados do MESA (Multi-Ethnic Study of Atherosclerosis), pesquisa de coorte longitudinal composto por adultos estadunidenses de diversas etnias que incluiu homens e mulheres com idades entre 45 e 84 anos, livres de doença cardiovascular clínica no início do estudo.
A análise incluiu cerca de 2 mil adultos, com idade média de 69 anos. Pouco mais da metade dos participantes eram mulheres, 38% se identificaram como brancos, 28% como adultos negros ou afro-americanos, 23% como hispano-americanos e 11% como sino-americanos.
Os dados avaliados também incluíram informações dos registros de saúde e questionários dos participantes, como idade, sexo, raça e etnia, educação, renda, índice de massa corporal, pressão arterial, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, hábitos de sono e horários de trabalho (turno noturno x turno diurno, por exemplo).
Entre os anos de 2010 e 2013, os participantes usaram um dispositivo de pulso que detectava estágios de sono e vigília e preencheram um diário de sono por sete dias consecutivos. Além disso, os participantes foram submetidos a um estudo de sono domiciliar de uma noite para medir os distúrbios do sono envolvendo parâmetros como padrão respiratório, frequência cardíaca, estágios do sono e despertares após o início do sono. A duração do sono foi definida como a quantidade total de tempo gasto na cama totalmente adormecido, enquanto o horário de sono foi descrito como o horário em que uma pessoa adormece a cada noite.
A maior irregularidade no número de horas dormidas pelos participantes observada pelos cientistas foi uma variação de mais de 2 horas em uma semana. Aqueles com maior irregularidade no horário do sono variaram o tempo em que adormeceram em mais de noventa minutos em uma semana. De forma paralela, os pesquisadores avaliaram a presença de placa nas artérias por meio da mensuração do acúmulo de placa gordurosa calcificada nas artérias coronárias; presença de placa carótida; espessura das duas camadas internas das carótidas (espessura íntima-média da carótida); e o índice tornozelo braquial.
Os participantes com durações de sono irregulares que variaram em mais de duas horas em uma semana tiveram 1,4 vez mais chances de ter altos escores de cálcio na artéria coronária em comparação com aqueles com durações de sono mais consistentes em uma semana. Além disso, os participantes com durações de sono irregulares que variaram em mais de duas horas em uma semana tiveram 1,12 vez mais chances de ter placa carotídea e quase 2 vezes mais chances de ter resultados anormais de um índice tornozelo-braquial.
Os participantes com horários de sono mais irregulares, variando mais de noventa minutos em uma semana, tiveram 1,43 vez mais chances de ter altos escores de cálcio na artéria coronária em comparação com aqueles com horários de sono mais regulares, variando trinta minutos ou menos em uma semana. Por outro lado, não foram encontradas associações entre a irregularidade da duração do sono e a espessura anormal da íntima-média da carótida.
A metodologia transversal do estudo representa limitação da análise por que os pesquisadores não conseguiram avaliar se uma maior irregularidade do sono causa efetivamente o desenvolvimento de aterosclerose (relação causal). Os resultados, no entanto, estão em consonância com outros estudos presentes na literatura que relacionam a irregularidade do sono e o desenvolvimento de risco de doença cardiovascular.
Referência:
Full, K.M., et al. (2023) Sleep Irregularity and Subclinical Markers of Cardiovascular Disease: The Multi‐Ethnic Study of Atherosclerosis. Journal of the American Heart Association. doi.org/10.1161/JAHA.122.027361
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