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Conheça os riscos do aumento indiscriminado do uso da melatonina para tratamento da insônia

Conheça os riscos do aumento indiscriminado do uso da melatonina para tratamento da insônia
Anna Carolina Flumignan Bucharles
ago. 3 - 5 min de leitura
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Melatonina é um hormônio natural que auxilia a regular o corpo diariamente no ciclo circadiano. Seus níveis aumentam de forma gradual algumas horas antes do horário de dormir, regulando o corpo para o sono e atividades fisiológicas noturnas. Contudo, alguns hábitos ou doenças contribuem para inibir a produção da melatonina endógena. Um exemplo é a exposição à luz azul durante a noite, presente em smartphones.  

O uso da melatonina para tratar casos de insônia tem aumentado drasticamente nas últimas décadas, tanto entre paciente adultos quanto na área pediátrica. Aumentaram as prescrições e também as as doses prescritas.  Estudos recentes demonstram que mais adultos têm utilizado melatonina acima de 5mg, o que causa aumento acima do normal do pico de concentração da melatonina durante a noite. Além disso, há uma previsão de que as vendas de melatonina continuem crescendo devido ao envelhecimento da população, sendo que a população idosa geralmente é a que apresenta maiores problemas de sono. 

O número de adultos com insônia aumentou muito nas últimas décadas (a pandemia do coronavírus acelerou ainda mais esse processo). Além disso, um relatório do CDC (Centers for Disease Control and Prevention) mostrou que boa parte das crianças e adolescentes não dormem o suficiente. Apesar de estudos apontarem a eficácia da melatonina para melhorar o sono em algumas situações - como para tratar problemas de sono REM ou auxiliar no sono de crianças com problemas neurológicos em alguns casos de TDAH e autismo - existe uma preocupação em relação aos malefícios dela quando utilizada sem acompanhamento médico, especialmente em doses altas e por longos períodos. 

Segundo a presidente da AASM (American Academy of Sleep Medicine) e professora de Medicina na David Geffen School of Medicine, na University of California, em Los Angeles, Jennifer Martin, não há medicamentos recomendados para uso por longos períodos para tratar a insônia, seja em crianças ou adultos, devendo primeiramente ser tentada a utilização de métodos não medicamentosos, que geralmente funcionam para a maior parte das pessoas. 

Existem algumas preocupações em relação à prescrição de medicamentos para dormir - como é o caso do eszopiclone, zaleplon e zolpidem - devido a seus efeitos colaterais mais graves, chamados de “comportamentos complexos”. Estes incluem, por exemplo, dirigir ou andar durante o sono, o que pode comprometer a segurança do paciente. Fatores como este fazem com que muitos médicos buscam alternativas consideradas mais seguras, como é o caso da melatonina, vista como algo “natural” (ou um suplemento), obtida mais facilmente e com preço mais acessível.  

Apesar de ser geralmente segura, bem tolerada e apresentar menos efeitos em relação a outros medicamentos para induzir o sono, a melatonina também tem efeitos adversos. Entre os principais estão: dor de cabeça, fadiga, tontura ou sono durante o dia. Alguns estudos relatam efeitos mais sérios, como diminuição da tolerância à glicose e aumento da pressão arterial e frequência cardíaca em pacientes que utilizam simultaneamente melatonina e anti-hipertensivos.

Outro problema de uso inapropriado diz respeito às crianças.  Nos últimos anos, alguns pais têm medicando seus filhos referindo-se à melatonina como bala ou vitamina, especialmente por que muitos produtos que contêm a substância são aromatizados. Isto acaba passando uma mensagem errada sobre o produto, que não deve ser visto como um doce, mas sim como medicação. 

Como métodos não medicamentosos para tratamento da insônia costumam funcionar para grande parte das pessoas, a AASM recomenda primeiro, para todos os públicos, tentar a terapia cognitivo-comportamental. Muitos dos problemas para dormir podem estar associados a outros fatores, como efeito colateral de medicamentos ou mesmo rotina antes de ir para a cama. Mesmo que a prescrição da melatonina seja realmente necessária, as intervenções comportamentais não precisam ser descartadas, devendo ser adotadas em paralelo. 

É importante lembrar que o uso da melatonina não resolve os problemas subjacentes, sendo necessário descobrir quais são e tratá-los concomitantemente. A insônia e os distúrbios do ciclo circadiano são frequentemente transtornos psiquiátricos. O manejo deve prioritariamente ocorrer em estágios iniciais, podendo o uso da melatonina em baixas doses servir tanto em relação a problemas ligados ao sono quanto no tratamento de distúrbios neuropsiquiátricos.
 

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Referência

Kuehn BM. Climbing Melatonin Use for Insomnia Raises Safety Concerns. JAMA. Published online July 27, 2022. doi:10.1001/jama.2022.11506

Palagini L., et al. International Expert Opinions and Recommendations on the Use of Melatonin in the Treatment of Insomnia and Circadian Sleep Disturbances in Adult Neuropsychiatric Disorders. Front. Psychiatry, 10 June 2021 Sec. Sleep Disorders https://doi.org/10.3389/fpsyt.2021.688890

 

 


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