Uma recente pesquisa publicada na revista The Lancet, denominada IMPORT HIGH, apresentou resultados animadores para o tratamento do câncer de mama em fase inicial. O estudo multicêntrico de fase 3, randomizado, controlado e aberto, explorou o papel do "boost" de radioterapia, uma dose extra de radiação direcionada ao leito tumoral após a cirurgia conservadora da mama. Este "boost" tem se mostrado eficaz na redução do risco de recidiva do tumor.
Os autores investigaram a aplicação de uma técnica avançada chamada Simultaneous Integrated Boost (SIB), na qual o "boost" de radiação é fornecido simultaneamente com a radioterapia de toda a mama, usando técnicas de modulação da intensidade do feixe de radiação (IMRT) e de radioterapia guiada por imagem (IGRT). Esse método permite a elevação da dose de radiação no leito tumoral, ao mesmo tempo que fornece uma dose padrão ao tecido mamário adjacente e uma dose ligeiramente menor às periferias do tecido mamário onde o risco de recidiva é menor.
De forma surpreendente, o estudo revelou uma incidência de recidiva de tumor mamário ipsilateral (IBTR) menor do que a esperada em todos os grupos de tratamento dentro de uma população com maior risco de recidiva. O SIB provou não ser inferior ao "boost" sequencial, sendo igualmente eficaz na prevenção da recidiva do tumor e demonstrando taxas semelhantes ou menores de eventos adversos.
Uma das grandes vantagens do SIB é a redução do tempo de tratamento, diminuindo o ônus para os pacientes e seus familiares, além de proporcionar um uso mais eficiente dos recursos para os prestadores de cuidados de saúde. Apesar de suas vantagens, o uso do SIB não é isento de limitações e desafios, o que torna essencial a discussão desses resultados dentro da comunidade médica.
O IMPORT HIGH é o maior estudo randomizado até o momento a avaliar o SIB, fornecendo informações importantes para a prática clínica e delineando possíveis direções para futuras pesquisas. É importante ressaltar, no entanto, que o estudo não demonstrou benefícios adicionais com a escalada da dose de "boost" além das doses biologicamente equivalentes padrão de atendimento.
Uma das conclusões é que as taxas de IBTR são baixas neste grupo de maior risco tratado com pequenos "boosts", independentemente de o "boost" ser entregue sequencialmente ou simultaneamente. Ainda assim, mais pesquisas são necessárias para determinar se esta técnica pode ser aplicada de forma mais ampla e em que circunstâncias ela pode ser mais benéfica.
A pesquisa é um marco significativo no avanço da nossa compreensão da radioterapia para o câncer de mama e traz uma nova esperança para pacientes e profissionais da saúde que lidam com esta doença. As informações detalhadas sobre o estudo podem ser encontradas na publicação original, intitulada
Dose-escalated simultaneous integrated boost radiotherapy in early breast cancer (IMPORT HIGH): a multicentre, phase 3, non-inferiority, open-label, randomised controlled trial
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Referência:
Coles, C. E., Haviland, J. S., Kirby, A. M., Griffin, C. L., Sydenham, M. A., Titley, J. C., ... & Bliss, J. M. (2023). Dose-escalated simultaneous integrated boost radiotherapy in early breast cancer (IMPORT HIGH): a multicentre, phase 3, non-inferiority, open-label, randomised controlled trial. The Lancet.