Nos últimos anos, a crescente adoção de tratamentos de infertilidade tem sido impulsionada por avanços tecnológicos, o desenvolvimento de novas medicações e um acesso ampliado ao cuidado médico. Contudo, novos dados apontam para potenciais desfechos adversos, incluindo doenças cardiovasculares (DCVs) e, especificamente, acidente vascular cerebral (AVC).
Importante ressaltar que DCVs representam a principal causa de óbito entre mulheres, com o AVC classificando-se como a terceira causa mais comum de morte para ambos os gêneros. Mesmo diante de uma queda na mortalidade por AVC nos EUA nas últimas quatro décadas, as DCVs emergem agora como a principal causa de mortalidade materna.
A relação exata entre o tratamento de infertilidade e a propensão para AVC tem sido motivo de debate. Pesquisas anteriores apresentaram resultados díspares: algumas apontaram para um risco reduzido, enquanto outras destacaram um risco ampliado. Alguns estudos hipotetizaram que tal associação poderia se originar de danos diretos às células endoteliais pós-tratamento ou devido à liberação de fatores protrombóticos na sequência de hiperestimulação ovariana.
Contudo, um estudo publicado no JAMA Network Open em 30 de agosto de 2023 oferece uma nova perspectiva sobre o assunto . Foram analisados os prontuários de mais de 31 milhões de pacientes que deram à luz entre 2010 e 2018, com destaque especial para aquelas que se submeteram ao tratamento de infertilidade. Descobriu-se que a taxa de complicações por AVC, necessitando de internação pós-parto, era notavelmente maior nesse grupo. Especificamente, estas pacientes apresentaram 66% mais probabilidade de serem hospitalizadas devido a um AVC, principalmente do tipo hemorrágico.
Além disso, constatou-se que o risco de AVC, tanto hemorrágico quanto isquêmico, tende a se intensificar com o passar dos dias após o parto. Este aumento no risco foi evidenciado já nos primeiros 30 dias após o nascimento.
A tabela a seguir apresenta a associação do tratamento de infertilidade com o risco de complicações cardiovasculares não fatais, com base em dados do Nationwide Readmissions Database entre 2010 e 2018.
Fonte: JAMA Netw Open. 2023. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.31470
Várias teorias foram levantadas para explicar tais descobertas. Uma das linhas de pensamento sugere que complicações vasculares induzidas pelo tratamento de infertilidade, combinadas com possíveis alterações fisiológicas ou danos endoteliais, podem ser o gatilho. Contudo, outra vertente aponta que pacientes submetidas ao tratamento de infertilidade possam já apresentar fatores de risco, agravados pelo processo gestacional.
Concluindo, a pesquisa reforça a necessidade de um olhar cuidadoso sobre o tratamento de infertilidade, especialmente no contexto do risco aumentado de AVC pós-parto. Frente à conexão entre mortalidade materna e DCVs, aprofundar essa investigação torna-se crucial. Como recomendação prática, o estudo propõe uma atenção especializada e contínua para pacientes que passaram por tratamento de infertilidade.
Para obter informações detalhadas sobre este estudo, clique aqui para acessar a pesquisa na íntegra.
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Referência:
Sachdev D, Yamada R, Lee R, Sauer MV, Ananth CV. Risk of Stroke Hospitalization After Infertility Treatment. JAMA Netw Open. 2023;6(8):e2331470. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.31470