Estudo publicado recentemente pelo British Medical Journal (BMJ) analisou base populacional incluindo cerca de 80 mil bebês de mães com prescrição de opioides após o parto (principalmente cesariana). Foi constatado que os bebês não apresentavam maior risco de readmissão hospitalar logo após o nascimento do que aqueles que nasceram de mulheres que não receberam a mesma prescrição.
O artigo de coorte retrospectivo foi realizado com a participação de mães que deram à luz entre setembro de 2012 e março de 2020, em Ontário, Canadá. Os eventos adversos observados na base de dados foram raros em lactentes, sendo que a maioria das ocorrências registradas aconteceu logo após a alta hospitalar inicial.
As descobertas estão de acordo com um estudo anterior também realizado em Ontário, envolvendo cerca de 8 mil mães que receberam assistência social e receberam receita pós-parto de codeína, prescrita preferencialmente para quem tem menor probabilidade de amamentar. As taxas aumentadas de alimentação com fórmula neste grupo podem explicar por que os autores observaram uma taxa menor de reinternações por icterícia e dificuldades de alimentação em bebês nascidos de mulheres que receberam a codeína.
O artigo também ressalta que a maioria dos riscos postulados sobre o uso de opioides em puérperas são baseados em relatórios históricos mal documentados e se relacionam especificamente com o uso materno de codeína. Apesar disso, o artigo do BMJ não deve ser interpretado como um endosso do uso liberal de opioides no pós-parto.
Embora o tratamento adequado da dor pós-parto seja essencial e para algumas mães outros analgésicos não sejam apropriados, médicos e pacientes devem ter cautela ao indicar opioides após o parto. A dor materna não tratada pode interferir no autocuidado, no cuidado do bebê e no vínculo infantil, estando associada a taxas aumentadas de depressão pós-parto e dor crônica persistente.
Referência:
Zipursky J S, Gomes T, Everett K, Calzavara A, Paterson J M, Austin P C et al. Maternal opioid treatment after delivery and risk of adverse infant outcomes: population based cohort study BMJ 2023; 380 :e074005 doi:10.1136/bmj-2022-074005
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