Muitos artigos, livros, palestras, blogs e estudos têm sido produzidos centrados no tema do Paciente neste novo contexto da Saúde do século 21. Assim como provavelmente acontece com você, esse tema também me atrai. Como diversos estudiosos e profissionais da área de saúde têm debatido, mudar uma cultura tão sedimentada como a da área médica é um grande desafio. Não estou nem falando da gigantesca mudança por vir no modelo de negócio da Saúde que é necessária para se alcançar a sustentabilidade do sistema como um todo – sobre o qual já escrevi anteriormente. O que me intriga é: como se dará a disrupção na relação Paciente-Médico (nessa ordem mesmo, o Paciente em primeiro)?
Bem, as teorias e opiniões são as mais diversas possíveis, como podemos imaginar quando se trata de um tema tão complexo. Algumas, sinceramente, tão radicais que parecem uma convocação ao motim dos Pacientes! Mas sem bom senso e equilíbrio, tais propostas não se sustentam, pois a verdadeira disrupção necessária começa na percepção do que esses dois elementos tem um do outro – Paciente e Médico (para facilitar cito os médicos, mas devemos mesmo considerar todos os profissionais da Saúde que cuidam dos pacientes).
O desafio da Saúde Digital no século 21 não será tecnológico, mas sobretudo humano!
Uma das leituras que mais me fez pensar foi o livro “The Patient Will See You Now”, de Eric Topol, cardiologista e diretor do Scripps Translational Science Institute, nos Estados Unidos; uma das lideranças mundiais em repensar a medicina contemporânea (Clique aqui para ler o artigo sobre o livro publicado no NYTimes).
O Dr. Topol volta sua atenção para a "democratização" da medicina através da "digitalização conectada, com o smartphone como a central de comunicação pessoal". Com aproximadamente três bilhões de usuários de smartphones em todo o mundo atualmente, e uma previsão de chegar a quase 6 bilhões em 2020, o Dr. Topol diz: "Estes aparelhos são a tecnologia mais rapidamente adotada na história do homem".
A conectividade e a democratização da informação de saúde – os pré-requisitos para o futuro da Saúde, segundo Dr. Topol – já começaram. Com essa nova configuração, Pacientes e cuidadores estão, ao mesmo tempo, impulsionando melhorias significativas na assistência e na prestação de cuidados como nos estabelecimentos de atendimento médico. Os Pacientes não precisam aguardar mais décadas para adotar novas ferramentas e desenvolver novas soluções para seus problemas de saúde. Eles estão indo à “luta”, engajando-de, desbravando o universo da medicina (o “Dr. Google” não nos deixa mentir) e são eles mesmos os desenvolvedores e os próprios usuários das soluções. Caros leitores, todos nós somos testemunhas e atores nesta mudança na medicina – centrada no Paciente!
Há 7 lições que o Dr. Topol destaca em seu livro, com as quais concordo:
1. Os principais custos médicos são, em grande parte, relacionados a localização, tempo e pessoas. As redes inteligentes permitirão que o lugar, o tempo e as pessoas se tornem mais distribuídos.
A tecnologia vai mudar como e onde a inteligência médica vai existir. Ela será distribuída na nuvem, dentro de comunidades conectadas e em nossas mãos em ecossistemas ligados a telefones inteligentes e sensores (IoMT ou Internet de Coisas Médicas, como Dr. Topol os chama).
2. A democratização da medicina significa o fim do paternalismo.
A democratização dos dados de saúde, informações de saúde e sensores significa a democratização do cuidado e o fim de muito paternalismo médico, que em grande parte existe por causa de assimetrias de conhecimento. Com a minimização dessas assimetrias, o relacionamento sofrerá uma mudança de Paciente como tipo de objeto para Paciente como o COO (Chief Operating Officer) de si mesmo. Como observa Dr. Topol, assim como a imprensa de Gutenberg abalou muitas instituições da época, assim também a disseminação do conhecimento médico subverterá muitas instituições atuais. Veja o artigo: A Saúde 4.0 não virá apenas da transformação digital, mas também da social!
3. A democratização conduzirá à Medicina Peer-to-Peer (“MedP2P”, nova sigla que cunhei para essa forma de relação).
As redes podem conectar pessoas e dispositivos de maneiras que tornam o conjunto mais inteligente do que a soma de suas partes. Os pacientes podem se conectar a pacientes que têm problemas compartilhados e podem compartilhar soluções, e encontrar soluções para problemas difíceis; soluções que de outra forma seriam caras, raras ou subfinanciadas.
4. Devido à democratização do conhecimento médico, a inovação virá de várias formas e de novos lugares.
5. O movimento de Saúde Aberta, cuidados centrados no Paciente e os pagamentos baseados no Valor estão diretamente ligados.
No centro da questão está um novo grupo de pessoas, pacientes e cuidadores, que precisam ter acesso à informação – código, dados, pesquisa e muito mais – para tomar as melhores decisões, que tornarão os pagamentos baseados em valores bem-sucedidos.
6. A educação médica está em quase-turbilhão.
A educação e o conhecimento médicos também serão democratizados e superados. Existem poucos cursos de Saúde Digital em escolas de Medicina. Se os médicos do século 21 devem continuar a ter um papel relevante, eles precisam se tornar tão hábeis com essas novas ferramentas, e na prestação de cuidados através delas, como os seus pacientes em breve serão. Sendo assim, a educação dos médicos atuais precisa ser revista, pois vai entrar em turbilhão caso não se renove rápidamente!
Neste ponto, vale meditarmos neste pensamento de Alvin Toffler. Vamos ter de “aprender a desaprender para podermos reaprender”!
7. Os Pacientes podem, em última instância, se tornarem melhores juízes na compreensão dos riscos do que muitos médicos.
Temos visto como o cenário está mudando, num contexto de bioética, consentimento informado e esclarecido e mais autonomia dos Pacientes. Aqueles que suportam os riscos e os custos podem querer ter uma voz mais ativa neste novo mundo da Saúde Digital. Para os Pacientes, fazer “menos” pode ser uma opção de risco muito menor, e com mais dados disponíveis e mais democratização no acesso a eles, podemos obter um melhor controle sobre que riscos queremos correr como Pacientes.
Há uma revolução em curso na Saúde, um reequilíbrio de forças entre os seus atores, e nesse momento o Paciente está se tornando um dos atores principais!
O futuro das visitas ao médico poderia estar no nosso smartphone? Nesse vídeo abaixo da entrevista do Dr. Eric Topol ao programa da TV americana "CBS This Morning", ele fala sobre como nós poderemos em breve tomar o controle de nossos próprios cuidados de saúde e dados, se nos conscientizarmos de que no final das contas, somos os maiores responsáveis por nossa própria “Saúde”.
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Abraços a todos!
Guilherme Rabello
Gerência Comercial e Inteligência de Mercado
InovaInCor – InCor / Fundação Zerbini