Já estou no fim do primeiro ano da faculdade de Medicina e, nesses cerca de doze meses, pude aprender e amadurecer muitas ideias. Uma delas é o desejo de trazer para a Medicina o verdadeiro amor e a verdadeira vida que se perdeu ao longo do tempo. Como eu costumo falar, a Medicina começou na história sendo uma arte, onde os médicos eram artistas e, desde o momento em que a arte foi tirada da Medicina, a humanidade também se perdeu. A tecnologia aumentou, a técnica foi aprimorada e habilidades foram aperfeiçoadas, mas o amor esfriou e, em alguns lugares, foi esquecido.
Hoje, vejo muitos que ainda vão entrar no curso, vejo colegas e até eu mesmo falando sobre lutar por uma Medicina mais humanizada. Isso me traz esperança. Mas o que eu espero é que sejamos pessoas que permanecem com essa mentalidade até o fim. Quantos começaram o curso com esse fogo ardendo, mas depois de tudo o que teve que estudar e aprender, teve seu fogo apagado. Será que essas pessoas realmente queimavam por isso? Será que isso era o que realmente as motivavam?
Então pare e pense, vestibulando, calouro, veterano e médico formado, o que te faz querer perder o sono e querer ir tratar uma criança, uma grávida, um câncer ou um vovô? Repense. Precisamos de médicos que não sejam egoístas, médicos que saibam abrir mão de suas vontades e interesses e se colocam no lugar daqueles que precisam ser cuidados. Precisamos voltar a ser artistas, mas não precisa pintar uma tela ou compor uma música. Se possível, pinte muitos sorrisos, crie muitos abraços, espalhe muita vida e muita cor.
O ser médico é construído por movimentos. Em cada direção sopra um vento que o ensina, molda e fortalece. Seu contato com as pessoas é a fonte da essência de cada obra das suas mãos, pois as pessoas são formadas por movimentos. Em nível microscópico, as células dançam em um ritmo organizado para manter tudo em ordem e não causar prejuízos ao organismo.
A respiração obedece os ritmos que definem a necessidade de receber oxigênio e de eliminar o gás carbônico. Os mais de 70% de moléculas hidratadas que nos compõem fluem em uma melodia insana que compõem a música da vida e molda o homo sapiens. Tudo é movimento entre um médico e seu paciente. Nada está parado, pois as vidas confluem e as almas se chocam. Essa é a humanidade. As células nunca param de dançar.
Aqueles que estão parados se perdem, confusos ficam e já não entendem mais o seu caminho. A preguiça os persegue e são como o personagem de um dos contos giudicianos, o seu trabalho os torna grandes e metálicos arquivos. Eles não estão em uma prisão, eles são as próprias grades inanimadas e frias que contornam quem está dentro, pois até do lado de dentro de uma prisão há movimento.
A construção do ser médico é ininterrupta e cada um de seus passos define qual será sua conduta sobre a vida de alguém com câncer, talvez um resfriado ou quem sabe as dores de um abuso. Até no descanso existe brisa. Na hora de relaxar as ondas permanecem oscilando. Está tudo bem respirar para não saturar, mas cuidado para não se acomodar demais, pois a verdade mais clara sobre um robô é que ele está morto.
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