A aspirina, há muito tempo o único agente antiplaquetário com indicação de Classe I para prevenção de longo prazo de eventos cardiovasculares em pacientes com doença arterial coronariana (DAC), está sendo questionada por terapias alternativas, de acordo com uma nova meta-análise. Este estudo, publicado no prestigioso Journal of the American College of Cardiology (JACC), buscou explorar como a aspirina se compara aos inibidores de P2Y12, uma nova classe de medicamentos.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo chamaram a atenção para o fato de que a terapia antiplaquetária dupla (DAPT), que combina a aspirina com inibidores de P2Y12, se tornou o novo padrão de tratamento para pacientes com síndrome coronariana aguda ou que passaram por intervenção coronária percutânea (ICP). No entanto, eles citaram o estudo CAPRIE, o primeiro grande estudo randomizado controlado a indicar que a monoterapia com clopidogrel, um tipo de inibidor de P2Y12, pode reduzir os eventos cardiovasculares mais do que a aspirina, embora a redução tenha sido discreta.
Para esclarecer essa questão, os pesquisadores realizaram uma meta-análise de dados individuais em nível de paciente de ensaios clínicos randomizados que compararam a monoterapia com inibidores de P2Y12 à monoterapia com aspirina para a prevenção secundária de eventos adversos em pacientes com DAC estabelecida. Seus resultados sugeriram que a monoterapia com inibidores de P2Y12 pode efetivamente reduzir os riscos de morte cardiovascular, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC) quando comparada à aspirina.
Nesta análise, foram coletados dados de 24.325 participantes de sete diferentes estudos clínicos. Entre esses participantes, 12.178 pacientes foram escolhidos para receber monoterapia com inibidor de P2Y12 - sendo 7.545 com clopidogrel e 4.633 com ticagrelor - e 12.147 foram selecionados para receber aspirina.
A equipe de pesquisa concluiu que a monoterapia com inibidor de P2Y12 foi associada a um risco reduzido de desfechos adversos, principalmente devido a uma menor incidência de infarto do miocárdio. Os níveis de sangramento maior não diferiram significativamente entre os dois grupos, e eventos clínicos adversos foram menos comuns no grupo que recebeu inibidores de P2Y12.
Com base nesses achados, os cientistas sugerem que a monoterapia com inibidores de P2Y12 pode ser uma alternativa preferível à monoterapia com aspirina para prevenção secundária de longo prazo em pacientes com DAC estabelecida. No entanto, eles também enfatizam que a escolha do tratamento deve sempre levar em consideração as características individuais de cada paciente, bem como a avaliação médica cuidadosa.
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Referência:
Gragnano F, Cao D, Pirondini L, et al. P2Y12 Inhibitor or Aspirin Monotherapy for Secondary Prevention of Coronary Events. J Am Coll Cardiol 2023;82:89-105.