Um ensaio clínico randomizado publicado em 03 de novembro de 2023, em JAMA Network Open, investiga a viabilidade e a segurança da perfusão placentária extrauterina (EPP) como uma alternativa para a clamping do cordão umbilical retardado (DCC) durante a ressuscitação de neonatos com muito baixo peso ao nascer (VLBW). Este método pode representar um avanço significativo nas práticas de transição neonatal, demonstrando impacto positivo nos níveis de oxigenação periférica e cerebral.
Fonte: Kuehne B, Grüttner B, Hellmich M, Hero B, Kribs A, Oberthuer A. (2023)
A transição da vida intrauterina para a extrauterina é um momento crítico para qualquer recém-nascido, e em bebês prematuros, essa fase é ainda mais delicada. A abordagem tradicional tem se baseado na prática do clamping do cordão umbilical retardado (DCC), que, apesar de benéfica, possui limitações, especialmente em partos cesáreos.
Em um esforço para melhorar as práticas de ressuscitação neonatal, pesquisadores conduziram o primeiro ensaio clínico randomizado avaliando a perfusão placentária extrauterina (EPP) como uma técnica alternativa ao DCC. O estudo partiu do princípio de que manter o cordão umbilical intacto durante a ressuscitação e proporcionar suporte respiratório poderia estabilizar a transição hemodinâmica do recém-nascido, aumentando os níveis de hematocrito no primeiro dia de vida e melhorando a oxigenação, sem efeitos adversos de curto prazo.
Os resultados revelaram que a abordagem EPP conduziu a níveis semelhantes de hematocrito quando comparada ao DCC, mas com significativa melhoria na oxigenação periférica e cerebral dos neonatos durante a transição. Tal achado sugere que o benefício da EPP pode estar não somente no aumento da transferência de glóbulos vermelhos, mas também na manutenção do retorno venoso efetivo ao coração, prevenindo distúrbios do fluxo sanguíneo cerebral e complicações neonatais.
O procedimento EPP mostrou-se viável e seguro, representando uma alternativa promissora à prática atual do DCC, especialmente em locais com recursos limitados. Ademais, a técnica não interferiu com a esterilidade da sala de operação e se apresentou como custo-efetiva e tecnicamente simples.
A tabela a seguir apresenta uma análise detalhada dos desfechos neonatais e maternos, oferecendo uma visão comparativa e abrangente dos resultados obtidos no estudo:
Fonte: Kuehne B, Grüttner B, Hellmich M, Hero B, Kribs A, Oberthuer A. (2023)
Apesar dos resultados animadores, o estudo reconhece limitações, como sua natureza monocêntrica e a possível falta de poder estatístico para concluir sobre a segurança a longo prazo. Assim, recomenda-se que mais ensaios clínicos multicêntricos sejam realizados para validar a generalização dos resultados.
A perfusão placentária extrauterina emerge como um método alternativo viável ao clamping do cordão umbilical retardado, com evidências de benefícios na oxigenação durante a transição neonatal em bebês com muito baixo peso ao nascer. Este estudo pioneiro abre caminho para futuras pesquisas que poderão consolidar a EPP como uma prática padrão em ressuscitações neonatais.
*As imagens apresentadas neste conteúdo foram extraídas da pesquisa original. Para uma consulta detalhada ao estudo completo, disponibilizamos aqui o link de acesso.
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Referência:
Kuehne B, Grüttner B, Hellmich M, Hero B, Kribs A, Oberthuer A. Extrauterine Placental Perfusion and Oxygenation in Infants With Very Low Birth Weight: A Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2023;6(11):e2340597. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.40597