O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença em
crianças e a segunda causa de óbito em geral. A primeira é acidente. O
Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que no triênio 2023/2025 ocorrerão,
a cada ano, 7.930 novos casos de câncer em crianças e jovens de 0 a 19 anos de
idade.
Os dados mais recentes, de 2020, revelam que foram
registrados 2.280 óbitos em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos no Brasil. Entre
os tipos mais comuns de câncer infantojuvenil estão leucemia, linfoma e tumores
do sistema nervoso central. Entretanto, a oncologista pediátrica do Inca Sima
Ferman, chefe da Seção de Pediatria, diz que os tumores em crianças são
diferentes dos que acometem pessoas adultas.
“Adulto tem muito carcinoma, tumores de células
diferenciadas”. Os tumores de crianças são diferentes. Embora os três tipos
citados sejam mais frequentes, existe uma gama de tumores, como os
embrionários, que ocorrem nos primeiros anos de vida. São exemplos os da
retina, de rim, de gânglio simpático. “São tumores que acontecem mais
frequentemente em crianças menores. Mas todos eles são muito diferenciados e
respondem bem ao tratamento quimioterápico, normalmente”.
Para a oncologista, a doença é muito séria, mas trouxe, ao
longo dos anos, uma esperança de busca pela vida. Há possibilidade de cura, se
o paciente é diagnosticado precocemente e tratado nos centros especializados de
atenção à criança.
Alerta
Nos países de alta renda, entre 80% e 85% das crianças
acometidas por câncer podem ser curadas atualmente. No Brasil, o percentual é
mais baixo e variável entre as regiões, mas apresenta média de cura de 65%. “É
menos do que nos países de alta renda porque muitas crianças já chegam aos
centros de tratamento com sinais muito avançados”. Sima reafirmou que o
diagnóstico precoce é muito importante. Por outro lado, admitiu que esse
diagnóstico é, muitas vezes, difícil, tendo em vista que sinais e sintomas se
assemelham a doenças comuns de criança.
O Inca faz treinamento com profissionais de saúde da atenção
primária para alertá-los da importância de uma investigação mais profunda,
quando há possibilidade de o sintoma não ser comum e constituir doença mais
séria. Sima lembra que criança não inventa sintoma. Ela afirma que os pais
devem sempre acompanhar a consulta e o tratamento dos filhos e dar atenção a
todas as queixas feitas por eles, principalmente quando são muito recorrentes e
permanecem por um tempo. “É importante estar alerta porque pode ser uma coisa
mais séria do que uma doença comum”.
Podem ser sinais de tumores em crianças uma febre prolongada
por mais de sete dias sem causa aparente, dor óssea, anemia, manchas roxas no
corpo, dor de cabeça que leva a criança a acordar à noite, seguida de vômito,
alterações neurológicas como perda de equilíbrio e massas no corpo. “São
situações em que é preciso estar alerta e que podem levar a pensar em doença
como câncer”.
Para os profissionais de saúde da atenção primária,
especialmente, a médica recomenda que devem levar a sério as queixas dos pais e
das crianças e acompanhar o menor durante todo o período até elucidar a
situação para a qual a criança foi procurar atendimento. “E, se for o caso,
fazer exames mais profundos e ver se há alguma doença que precisa ser tratada”.
Individualização
Para cada tipo de câncer, os oncologistas do Inca procuram
estudar a biologia da doença, para dar um tratamento que possa levar à chance
de cura, com menos efeitos no longo prazo. “Para conseguir isso, temos que
saber especificamente como a doença se apresentou à criança e, muitas vezes, as
características biológicas do tumor. Isso vai nos guiar sobre o tratamento que
oferece mais ou menos riscos para esse paciente ficar curado e seguir a vida”.
Em geral, o tratamento de um câncer infantil leva de seis
meses a dois anos, dependendo do tipo de doença apresentada pelo paciente. Após
esse prazo, a criança fica em acompanhamento, ou “no controle”, por cinco anos.
Se a doença não voltar a se manifestar durante esses cinco anos, pode-se
considerar o paciente curado. “Cada vez, a chance de a doença voltar vai
diminuindo mais. A chance é maior no primeiro ano, quando termina o tratamento,
e vai diminuindo mais e mais”, explica a oncologista pediátrica.
Fonte: Agência Brasil, com Redação Academia Médica.
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