Um ensaio clínico publicado na JAMA Network Open em 14 de agosto de 2023, investigou a potencial eficácia da escetamina ou esketamina, na melhoria da resposta a antidepressivos orais em pacientes com depressão. A esketamina é um enantiômero do ketamine, representando uma das configurações espaciais quirais da molécula, sendo estruturalmente uma imagem espelhada não superponível do ketamine. A descoberta tem o potencial de revolucionar o modo como entendemos e tratamos os episódios de resposta flutuante à terapia antidepressiva.
A depressão afeta cerca de 300 milhões de pessoas globalmente. Infelizmente, muitos pacientes experienciam uma recaída ou reemergência dos sintomas, mesmo estando sob tratamento adequado com antidepressivos. Este fenômeno, anteriormente conhecido como tachyphylaxis de tratamento antidepressivo (ADT), é agora referido como resposta antidepressiva flutuante na depressão (FAD). O FAD apresenta um desafio significativo, pois pode contribuir para o desenvolvimento de depressão resistente ao tratamento (TRD).
No estudo, intitulado Esketamine vs Midazolam in Boosting the Efficacy of Oral Antidepressants for major Depressive Disorder. A Pilot Randomized Clinical Trial, a esketamina demonstrou ser uma intervenção promissora, rápida e eficaz para a depressão, sendo posta à prova em comparação com o midazolam, um ansiolítico frequentemente prescrito. Os dados apontaram que a esketamina superou o midazolam em eficácia, mantendo-se dentro de parâmetros seguros de administração.
Notavelmente, a duração do efeito benéfico da esketamina no tratamento do Transtorno Depressivo Maior (TDM), inclusive no Transtorno Depressivo Resistente (TDR), foi estimada entre 10 a 14 dias. No entanto, existem indícios que apontam para uma duração prolongada deste efeito, alcançando possivelmente 4 semanas ou mais, quando a esketamina é administrada em conjunto com antidepressivos orais.
A interação exata entre a esketamina e os antidepressivos tradicionais ainda é pouco compreendida. Estudos sugerem que a esketamina pode atuar em múltiplos receptores, incluindo os receptores de N-metil-D-aspartato (NMDA) e serotonina. Adicionalmente, a esketamina pode ajudar a restaurar as espinhas sinápticas pré-frontais comprometidas, o que pode estar associado à melhoria e sustentação dos efeitos antidepressivos.
Por outro lado, este estudo também teve suas limitações. A avaliação retrospectiva dos sintomas e a falta de uma definição padrão de resposta antidepressiva flutuante na depressão (FAD) podem ter introduzido algum grau de viés. A amostra limitada e a realização em um único centro também restringem a generalização dos resultados. Estudos futuros com amostras maiores e seguimentos mais longos são essenciais para consolidar essas descobertas.
Deste modo, esta pesquisa sugere que o tratamento com esketamina pode ser uma abordagem inovadora no manejo da depressão, especialmente para aqueles pacientes que não têm resposta satisfatória aos antidepressivos convencionais. Tais descobertas são cruciais para nós, médicos, pois fornecem informações valiosas para orientar nossas decisões terapêuticas no tratamento da depressão. Continuaremos atentos aos progressos nesta área tão promissora.
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Referência:
Xiao C, Zhou J, Li A, et al. Esketamine vs Midazolam in Boosting the Efficacy of Oral Antidepressants for Major Depressive Disorder: A Pilot Randomized Clinical Trial. JAMA Netw Open. 2023;6(8):e2328817. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.28817