A doutoranda em ciências biomédicas na Universidade da Califórnia, Maya Gosztyla, publicou na Nature uma coluna com dicas de como administrar melhor o tempo para pesquisas. Devido ao excesso de trabalho, Gosztyla passava horas dentro do laboratório e se cobrava em relação aos resultados e seu progresso. Com esse ritmo e andamento da pesquisa, a doutoranda relatou que teve Síndrome de Burnout em menos de dois anos e que a exaustão induzida pelo excesso de trabalho prejudicou sua produtividade e criou um ciclo vicioso.
O relato de Gosztyla não é o único. Uma pesquisa também publicada na Nature em 2022 descobriu que 70% dos alunos de pós-graduação trabalham mais de 40 horas por semana e que 68% têm dificuldade em manter um bom equilíbrio entre vida profissional e pessoal. De acordo com a pesquisa salarial e de empregos da própria revista em 2021, quase metade (45%) dos cientistas em todos os estágios da carreira relatam sinais de Burnout e excesso de trabalho.
A doutoranda ressalta que o gerenciamento do tempo pode auxiliar a minimizar o esgotamento e administrar melhor as demandas de trabalho. Entretanto, essa estratégia também pode promover uma cultura de hiperprodutividade doentia ou encobrir ambientes de pesquisa tóxicos. Por isso, o gerenciamento de tempo deve ajudar o pesquisador a priorizar seus objetivos profissionais sem sacrificar o bem-estar pessoal.
Maya conta que se inspirou no cientista da computação Cal Newport, autor do livro Deep Work, de 2016, para reduzir substancialmente suas horas no laboratório, o que melhorou sua saúde mental e física. Segundo a doutoranda, essa forma de trabalho não reduziu sua produtividade e possibilitou que ela aproveitasse seu tempo com mais eficácia, priorizando tarefas mais importantes.
Gosztyla organiza suas metas em três temporalidades diferentes, uma a longo prazo de um ou mais anos, a segunda em um prazo médio por trimestre ou semestre e a última em um curto prazo de dias ou 1 semana.
1- Planejamento a longo prazo
Para organizar suas metas para esse prazo, Maya utiliza o gráfico de Gantt, um tipo de gráfico de barras horizontais que traça linhas do tempo do projeto (o Microsoft Excel e o Planilhas Google têm modelos para criá-los). Quando Gosztyla ingressou no doutorado, ela criou um gráfico de Gantt e o atualiza algumas vezes por ano. Nesse gráfico, ela incluiu cronogramas para experimentos importantes, conferências importantes, marcos para programa de doutorado e exploração de carreira.
Dica Extra!
Para evitar a distração das tarefas do dia a dia, Maya recomenda manter o gráfico de Gantt em algum lugar de destaque, como em um quadro de avisos perto de sua mesa.
Outros exemplos de metas a longo prazo trazidos por Gosztyla: para alunos de pós-graduação, pode-se incluir o momento ideal para a formatura, o aprendizado de habilidades específicas ou a exploração da carreira; para um professor pesquisador, pode-se concluir projetos, solicitar financiamento ou melhorar as habilidades de ensino e orientação.
2- Planejamento do trimestre ou semestre
Maya também nominou esse tempo como período acadêmico e para o planejamento do próximo período ela sugere 3 ações:
Reflita. Quais metas você definiu no trimestre anterior? Você as realizou? Por que sim ou por que não?
Tenha uma previsão. Que eventos, compromissos e prazos estão chegando neste semestre?
Priorize. Quais metas você definirá para este trimestre? Quais você vai priorizar?
As metas dos próximos meses devem contribuir para as metas gerais de longo prazo. Isso pode incluir a conclusão de experimentos específicos, a redação de um artigo ou solicitação de subsídio ou a preparação para ministrar um curso. Estabelecer suas metas de pesquisa juntamente com outros compromissos futuros (nomeações de assistente de ensino, obrigações de comitê e assim por diante) ajuda você a definir expectativas razoáveis.
Outra ferramenta possível de se utilizar nesse processo é o quadro Kanban, que apresenta colunas com diferentes rótulos para você categorizar e acompanhar tarefas ou projetos. Você pode atribuir tarefas com base no status (como "em andamento", "fazer o mais rápido possível", "fazer no próximo mês" e "não iniciado") ou prioridade (alta, média e baixa). Várias ferramentas on-line fornecem quadros Kanban, incluindo Trello e Notion. De forma alternativa, você pode fazer manualmente em um quadro as colunas e preencher com as prioridades.
3- Planejamento diário ou semanal
Pode-se usar um planejador diário ou, como Maya prefere, usar uma escala de tempo semanal por sua pesquisa envolver experimentos que duram vários dias. Nos dois casos, é possível atribuir espaços de tempo específicos para cada tarefa, ou usar listas de tarefas.
Esse espaço de tempo é ideal para planejar experimentos em torno de outros compromissos e para organizar protocolos em vários dias; funciona melhor para tarefas que requerem pelo menos trinta minutos para serem concluídas. Para essa estratégia, tudo que você precisa é de um planejador eletrônico ou de papel.
Atenção! Lembre-se de que seu plano deve ser flexível: se um experimento demorar mais do que o esperado ou se os editores de periódicos solicitarem revisões do manuscrito em um prazo apertado, você precisará acomodar essas alterações.
Aplicando o planejamento na prática
Primeiro, decida quantas horas você se sente confortável trabalhando em uma semana. Isso é altamente pessoal - não deixe sua resposta ser influenciada pelas percepções de outras pessoas. Bloqueie quaisquer compromissos fixos, como aulas ou reuniões. Em segundo lugar, crie espaços de tempo para as tarefas mais urgentes e importantes. Tente agendar tarefas recorrentes (como ler trabalhos, preparar materiais de aula ou elaborar o plano da próxima semana) no mesmo horário todas as semanas. Por fim, preencha o tempo restante com tarefas de menor prioridade, incluindo responder e-mails, solicitar suprimentos e assim por diante.
Se você não conseguir encaixar tudo o que deseja realizar nas horas alocadas, suas opções são atrasar as tarefas restantes ou removê-las completamente. Atrasar algumas tarefas é bom, mas faça isso com moderação ou você pode achar que sua lista de tarefas está aumentando.
Se uma tarefa não contribui para os objetivos que você delineou em seus planos gerais e acadêmicos, ela pode ser removida. Para tarefas de pesquisa, é útil visualizar a história que você planeja contar em seu futuro artigo: este experimento contribui para essa história ou está fora de seu escopo?
Com essas estratégias, Maya achou mais fácil recusar novos compromissos quando conseguiu ver claramente que eles não caberiam em sua agenda ou não contribuíram para suas metas. Por fim, com planejamento sua pesquisa ficou mais simplificada. Ela conta que não começa mais um novo experimento até se convencer de que ele é necessário e tem o melhor desenho experimental para testar minha hipótese.
Referência:
GOSZTYLA, Maya. How to manage your time as a researcher. Nature,, 5 dez. 2022. Springer Science and Business Media LLC. http://dx.doi.org/10.1038/d41586-022-04364-2.
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