Corria diletante. Fruto de um esforço que se originava desde 2018. Devido à rotina de estudos dos cursos pré-vestibulares, a atividade física se tornou tão esporádica como ir ao cinema.
Lembro do dia quando decidi mudar. Tal qual um fumante, determinei uma data, 7 de outubro de 2020. Fazia oito meses da pandemia do Covid-19, iniciada em março na minha cidade, eu como bon vivant, afirmava que iria resguardar 6 meses a boêmia não alcoólica e desfrutar da mesa, leitura e música. Em verdade, eu mais aparentava ser o próprio Dionísio. O trajeto se resumira a: cama, cozinha, quarto.
Em outubro isso mudou, as inquietações acerca da minha saúde aos 22 anos já estavam em alta. Foi com os livros e assistindo entrevistas do Drauzio Varella, que ganhei esse incômodo ao sedentarismo. Ele é maratonista, e continua correndo provas mesmo já por volta dos 75 anos. No dia 7 levantei, de máscara, e relutante dei uma volta no quarteirão da minha casa. Foram necessários 32 minutos para caminhar 3 km, no mundo da corrida o ritmo (pace) foi de 10:30 minutos / km.
Era meu máximo, mas o incômodo continuava, a incapacidade de jogar uma partida de futebol inteira plenamente e o fato de estar com o fôlego curto sempre incomodando.
Aos poucos, a quilometragem foi aumentando, 5 km de caminhada já era algo plausível. Em alguns meses, 8 km não era nada impossível, convivendo com bolhas e assaduras, o prazer do exercício convivia com o incômodo do sedentarismo.
Em agosto de 2021, corria no meu limite novamente. Tentando me desafiar mais uma vez. Já havia conseguido concluir os 10km, 15km, 21km. A meta atual era correr os 10km cada vez mais rápido, só haviam dois limites, o cansaço e as dores. Concluí a corrida, 10km em 57 minutos, pace de 5:46 minutos / km. Foi uma conquista particularmente incrível, do sedentário há oito meses sentados no sofá, até o pace 5:46, muita coisa mudou.
Na volta para o estacionamento, avistei um daqueles clubes de corrida, várias pessoas sentadas no entorno de uma mesa, todas fardadas e com trajes esportivos. Entretanto, mais afastada, uma solitária sexagenária, apreciava a cidade através dos seus óculos escuros. Percebi na calma dos seus gestos que ela estava em paz, acabara de praticar o exercício proposto pelo seu clube de corrida e agora repousava tranquilamente.
Essa senhora encontrou o equilíbrio mais fino que pude confirmar. Ela havia acabado de praticar exercício físico e contemplava a vida com um cigarro na mão e um isqueiro na outra. Puro equilíbrio.
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