Níveis excessivos de oxigênio administrados a pacientes
submetidos à anestesia geral durante cirurgia podem estar associados a maior
risco de danos a órgãos como rins, coração e pulmões, de acordo com estudo
desenvolvido nos Estados Unidos e publicado pelo The BMJ. Foram analisados dados de cerca de 350 mil pacientes, com
idade média de 59 anos, submetidos à sedação geral e intubação endotraqueal em
42 centros médicos norte-americanos, entre janeiro de 2016 e novembro de 2018.
Um algoritmo foi utilizado para calcular a quantidade de
oxigênio fornecida acima do nível do ar (21%) em relação ao tempo gasto com
saturação de oxigênio igual ou superior a 92% durante os procedimentos
operatórios, realizados em tempo médio de 205 minutos. Também foi feito o
rastreio de lesão renal aguda, miocárdica e pulmonar, mortalidade em trinta
dias, tempo de internação e acidente vascular cerebral. Injúria renal aguda foi
diagnosticada em 6,5% dos pacientes participante, miocárdica em 2,8% e pulmonar
em 4,4%.
Foi verificado que pacientes na extremidade superior
(percentil 75) dos níveis de oxigênio tiveram chances superiores de 26% de
desenvolvimento lesão renal aguda, 12% de lesão miocárdica e 14% de lesão
pulmonar em comparação com pacientes na extremidade inferior (25º percentil). As
pessoas que receberam mais oxigênio também tiveram chances 9% maiores de AVC e 6%
maiores de mortalidade em trinta dias após o procedimento.
Algumas limitações foram apontadas pelo estudo, como a não
análise de fatores como dieta, estilo de vida e uso de medicamentos que podem
influenciar a suscetibilidade à lesão de órgãos por parte dos pacientes. Porém,
os autores sugerem a realização de novas pesquisas sobre o tema que possam,
inclusive, medir o comprometimento cognitivo gerado pelo fornecimento de níveis
altos de oxigênio. Isto por que alguns experimentos sugerem que o tecido
cerebral pode ser particularmente vulnerável.
Referência:
Oxygen administration
during surgery and postoperative organ injury: observational cohort study, The
BMJ (2022). DOI: 10.1136/bmj-2022-070941