A prevalência do HIV na África corresponde a uma epidemia. Segundo o UNAIDS, programa das Nações Unidas, as mulheres africanas são afetadas de forma muito distinta pela infecção do vírus da imunodeficiência humana. Segundo a organização, mulheres que possuem faixa etária entre 20 e 29 anos são mais impactadas em comparação aos homens da mesma idade e, no caso de países como a Costa do Marfim, Gâmbia e Gana, a infecção por HIV pode ser entre cinco e nove vezes maior.
Neste contexto, pesquisadores da Microbicide Trials Network (MTN), realizaram um estudo conhecido como REACH com 247 mulheres com idade entre 16 e 21 anos, vivendo em cidades da África do Sul, Uganda e Zimbábue. O estudo foi realizado entre fevereiro de 2019 e setembro de 2021 e o principal objetivo dos cientistas foi entender como as mulheres jovens e adolescentes lidam com a aceitação de métodos de prevenção ao HIV. No caso, foram apresentadas duas propostas: anel vaginal dapivirina e uso de Truvada — medida de profilaxia pré-exposição oral diária (PrEP) — e apenas 2% das mulheres recusaram os tratamentos. A maioria delas (97%) usavam o anel vaginal e a PrEP diária.
Qual é o futuro para a prevenção do HIV?
O estudo em questão foi financiado por Institutos Nacionais de Saúde nos Estados Unidos (EUA) e, além de revelar que as mulheres africanas querem exercer o poder de escolha e ter acesso à saúde, os pesquisadores também forneceram apoio às participantes, tirando dúvidas e auxiliando no uso do produto escolhido. A autonomia das mulheres foi respeitada.
A pesquisa foi avaliada de forma positiva pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois o REACH é uma metodologia que fornece informações importantes sobre as melhores formas de apoiar o uso da PrEP oral e do anel de dapivirina.
Felizmente, hoje há muita evolução da ciência na luta contra o HIV, mas em linhas gerais, essa pesquisa demonstra a importância de ouvir as pessoas que estão mais expostas ao vírus e fortalecer a garantia dos sexuais e reprodutivos das mulheres, sobretudo em países caracterizados pelo alto número de casos e pelos desafios no acesso à saúde.
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Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizou a Conferência do Milênio e um dos 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio consistiu na priorização da saúde sexual e da saúde reprodutiva das mulheres, considerando sua autonomia, o combate ao HIV, melhores condições da saúde materna e acesso à informação sobre como utilizar esses métodos.
Estamos em 2022 e a pauta precisa de fortalecimento na África e no mundo. Um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU trata-se justamente de “Assegurar o acesso universal à saúde sexual e os direitos reprodutivos, como acordado em conformidade com o Programa de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento e com a Plataforma de Ação de Pequim”.
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Referências
1.MTN-023/IPM 030. Disponível em: https://mtnstopshiv.org/research/studies/mtn-023ipm-030. Acesso em 04/03/2022. Acesso em 04/03/2022.
2. BUNGE, Katherine E. et al. Brief report: phase IIa safety study of a vaginal ring containing dapivirine in adolescent young women. JAIDS Journal of Acquired Immune Deficiency Syndromes, v. 83, n. 2, p. 135-139, 2020. Disponível em: https://journals.lww.com/jaids/fulltext/2020/02010/brief_report__phase_iia_safety_study_of_a_vaginal.6.aspx. Acesso em 04/03/2022
3. UNAIDS. Mulheres jovens são mais afetadas pelo HIV do que homens jovens na África Ocidental e Central. Disponível: https://unaids.org.br/2019/06/mulheres-jovens-sao-mais-afetadas-pelo-hiv-do-que-homens-jovens-na-africa-ocidental-e-central/. Acesso em 04/03/2022.
4. ONU. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. Acesso em 04/03/2022.