A dependência de cocaína é uma problemática que afeta diversos aspectos da vida do indivíduo, comprometendo sua capacidade de tomada de decisões e aprendizado a partir de experiências passadas.
Uma pesquisa publicada em Neuron, em 25 de outubro de 2023, traz evidências de como a dependência de cocaína altera o cérebro, afetando a percepção de recompensa - o processo cerebral que reconhece e reage positivamente a estímulos benéficos ou satisfatórios, incentivando a repetição de comportamentos que levam a essas recompensas.
Imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) revelam como a dependência de cocaína altera os neurônios dopaminérgicos responsáveis pela forma como percebemos e aprendemos com recompensas. Por exemplo, se um indivíduo saudável ganha R$100 (cem reais), seu cérebro reage positivamente, incentivando comportamentos que levem a mais recompensas financeiras.
No entanto, embora os indivíduos com dependência de cocaína tenham expectativas semelhantes de recompensas em comparação com indivíduos saudáveis, seus neurônios dopaminérgicos emitem sinais mais fracos quando essas recompensas são efetivamente recebidas, tornando menos provável que ajustem seu comportamento em busca de melhores resultados.
Essa disfunção pode tornar mais desafiador para pessoas com dependência de cocaína aprenderem com suas experiências e mudarem comportamentos aditivos. Os pesquisadores sugerem que compreender os mecanismos por trás do comportamento aditivo pode ser um passo crucial para informar estratégias de tratamento.
A pesquisa abordou o papel do erro de predição de recompensa (PE) na dependência de cocaína. O PE é um sistema que calibra expectativas futuras com base em experiências passadas, comparando recompensas esperadas com recompensas reais, como codificado por neurônios dopaminérgicos no mesencéfalo. Se, por exemplo, um indivíduo espera ganhar R$50, mas recebe R$100, a resposta positiva do cérebro pode incentivá-lo a tentar a mesma abordagem no futuro. Estudos em animais já demonstraram que a dependência de cocaína reduz as respostas ao PE, e essa pesquisa corrobora esses achados em humanos.
Os pesquisadores realizaram exames de fMRI em indivíduos com dependência de cocaína e em controles saudáveis durante uma tarefa de tomada de decisão. A tarefa consistia em escolher entre uma recompensa monetária "segura" e uma recompensa "arriscada" que poderia ser muito maior ou muito menor em valor do que a opção segura.
A atividade cerebral foi comparada durante as duas fases do cálculo de PE, primeiro durante a fase de expectativa (enquanto os participantes tomavam suas decisões e antecipavam a recompensa resultante), e depois durante a fase de recompensa real (quando os participantes foram apresentados com o resultado).
Os resultados mostraram que pessoas com dependência de cocaína tinham respostas reduzidas ao PE, com sinais de expectativa de recompensa semelhantes para ambos os grupos, mas um sinal de recompensa recebida mais fraco para os dependentes de cocaína.
A pesquisa representa um passo significativo mostrando que as alterações na percepção de recompensa em dependentes de cocaína podem ser um alvo específico para intervenções terapêuticas com potencial para melhorar significativamente os resultados do tratamento.
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Referência:
GEN - Genetic Engineering and Biotechnology News." (n.d.). Cocaine Addiction Alters Dopamine-Dependent Reward Signals in Humans. Retrieved from https://www.genengnews.com/topics/translational-medicine/cocaine-addiction-disrupts-dopamine-neurons-that-govern-reward-perception-human-study-finds/