A inatividade física é definida como a prática de menos de 150 minutos de atividade física por semana, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Sabe-se que ela é um fator de risco importante para diversas situações, como doenças cardiovasculares, doenças musculoesqueléticas e mortalidade por todas as causas.
O sedentarismo, por si só, é responsável por 9% das mortes por todas as causas no mundo. Agora, um grupo de pesquisadores brasileiros buscou avaliar se ele também é um fator que aumenta as chances do desenvolvimento de sintomas pós-agudos em pacientes que foram infectados pelo vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19.
Os dados analisados foram coletados no âmbito do “Covid-19 Study Group”, que reúne pacientes internados no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Um total de 749 indivíduos elegíveis compareceram à avaliação de acompanhamento presencial, sendo que 614 tinham dados completos e foram incluídos na análise.
A amostra foi composta por pacientes de ambos os sexos (53% masculino), com idade média de 56 anos. A frequência de nível socioeconômico baixo, médio e alto foi de 9%, 50% e 40%, respectivamente, o que representa um perfil semelhante ao da cidade de São Paulo, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNADC—2021) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A avaliação mostrou que 37% dos pacientes fumavam no início do estudo. Eles também apresentavam uma alta taxa de comorbidades: 58% tinham hipertensão, 35% eram diabéticos e 17% eram obesos. Devido à Covid-19, 55% dos pacientes necessitaram de cuidados intensivos e 37% usaram ventilação mecânica invasiva. Apenas 40% dos pacientes atingiam as recomendações de atividade física.
De seis a 11 meses após as hospitalizações (que ocorreram entre outubro de 2020 e abril de 2021), os participantes do estudo foram examinados e responderam a diversos questionários, que abrangiam a prática de atividade física, o estilo de vida e a possível presença de sintomas ligados à Covid-19.
Os resultados da pesquisa, publicados na revista científica Scientific Reports, indicam que pacientes com ao menos um sintoma persistente da infecção pelo coronavírus têm um risco 57% maior de serem sedentários. Esse número cresce para 138% entre aqueles que reportam cinco ou mais “sequelas pós-agudas do SARS-CoV-2”, como dizem os pesquisadores.
Alguns dos sintomas pós-agudos da Covid-19 foram especialmente relacionados ao sedentarismo. Nos modelos estatísticos ajustados, os que chamaram mais atenção foram falta de ar (risco 132% maior de a pessoa ser inativa) e fadiga (101%).
O estudo apresenta, no entanto, algumas limitações. O desenho transversal observacional dificulta o estabelecimento de relações de causa e efeito e pode levar a um viés de causalidade reversa. Além disso, o uso de questionário para avaliar a atividade física é propenso a viés de memória e superestimação.
A pesquisa tem destaque ao agregar mais evidências na ligação entre sedentarismo e Covid-longa. Os autores destacam que essa ligação pode se dar em ambas as vias. Ou seja, tanto o sedentarismo favoreceria a Covid longa, como essa incitaria a inatividade. Segundo os pesquisadores, este estudo é mais um na lista que reitera a importância da prática de atividades físicas como medida de saúde pública.
Referência:
Gil, S., Gualano, B., de Araújo, A.L. et al. Post-acute sequelae of SARS-CoV-2 associates with physical inactivity in a cohort of COVID-19 survivors. Sci Rep 13, 215 (2023). https://doi.org/10.1038/s41598-022-26888-3
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