No contexto médico atual, graças aos avanços em terapias antirretrovirais, o HIV evoluiu para uma condição crônica, prolongando a vida de milhões de pacientes. Porém, enfrentamos o desafio das complicações neurológicas associadas ao HIV-1. Entender essas complicações é vital para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir riscos associados a desordens neurocognitivas.
Diante desse cenário, pesquisadores da Northwestern University Feinberg School of Medicine, Chicago, IL, USA descobriram os mecanismos pelos quais o HIV-1 se aproveita dos processos intracelulares para proliferar e contribuir para a neurodegeneração. O estudo, publicado em Nature Communications, em julho de 2023, lança luz sobre como o HIV-1 contribui para desordens neurocognitivas associadas ao HIV (HAND, na sigla em inglês).
O HIV-1, uma das variantes do vírus responsável pela AIDS, afeta o sistema nervoso central em cerca de 80% dos pacientes, levando frequentemente a desordens neurocognitivas associadas ao HIV, conhecidas como HAND. Mojgan Naghavi, Ph.D., pesquisadora principal do estudo, ressalta que, embora o vírus não ataque diretamente os neurônios, ele infecta células mieloides do cérebro, como macrófagos e microglia, desencadeando o desafio científico de compreender a ligação entre HIV-1 e HAND.
Pesquisas anteriores do laboratório de Mojgan Naghavi, Ph.D., focado em pesquisas relacionadas ao HIV, revelaram que a proteína precursora do amiloide (APP) é altamente expressa em macrófagos e microglia, restringindo a replicação do HIV-1. Em resposta, o HIV-1 promove o processamento de APP, resultando na produção de beta-amiloides tóxicos que contribuem para HAND. Vale ressaltar que o acúmulo de beta-amiloides é considerado um dos principais fatores para a neurodegeneração em doenças demenciais, incluindo Alzheimer.
No estudo atual, os cientistas buscaram identificar os mecanismos subjacentes à função antiviral de APP. Descobriram que o processamento de APP ocorre em subconjuntos de corpos multivesiculares (MVBs), essenciais para a replicação do HIV-1. Em condições normais, o processamento amiloidogênico direciona esses MVBs para lisossomos, organelas responsáveis pela eliminação de resíduos celulares, limpando amiloides e reprimindo a replicação do HIV-1. No entanto, o HIV-1 desvia a classificação de MVB dos lisossomos para vias exocíticas, favorecendo sua replicação, mas também ampliando a secreção de beta-amiloides.
Ao testar células cultivadas com um inibidor aprovado clinicamente da via de processamento de APP, Mojgan Naghavi, Ph.D e sua equipe observaram que ele bloqueava o acesso do HIV-1 aos MVBs, suprimindo assim a replicação viral em microglia e macrófagos. Isso sugere que esta via pode ser um alvo terapêutico promissor para HAND.
Em resumo, as descobertas oferecem um entendimento mais profundo da interação entre HIV-1 e APP, além de abrirem possibilidades para tratamentos mais eficazes para desordens neurocognitivas associadas ao HIV. A equipe de pesquisa, reconhecendo o potencial clínico desta interação, continuará investigando a relação entre HIV-1 e APP, buscando esclarecer como ambas as moléculas influenciam a localização e função vesicular uma da outra.
Se desejar aprofundar seu conhecimento sobre as descobertas deste estudo, disponibilizamos o link para acesso ao artigo completo.
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Referências:
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MedicalXpress. (2023, August). Study uncovers relationship between HIV infection and neurodegeneration. Retrieved from https://medicalxpress.com/news/2023-08-uncovers-relationship-hiv-infection-neurodegeneration.html
- Gu, F., Boisjoli, M. & Naghavi, M.H. HIV-1 promotes ubiquitination of the amyloidogenic C-terminal fragment of APP to support viral replication. Nat Commun 14, 4227 (2023). https://doi.org/10.1038/s41467-023-40000-x