No início de junho, na Itália, aconteceu o Euronaesthesia - encontro anual da Sociedade Europeia de Anestesiologia e Terapia Intensiva. Neste congresso, pesquisadores apresentaram um estudo sobre a informação repassada para pacientes de sexo feminino sobre a droga Sugammadex, usada para reverter o bloqueio neuromuscular realizado no procedimento cirúrgico.
Esse medicamento interage com a progesterona e diminui a eficácia de métodos contraceptivos. Por isso, recomenda-se que o médico que prescreve essa droga informe as mulheres em idade fértil sobre o risco aumentado de falha do contraceptivo e as oriente sobre a melhor conduta em relação a sua anticoncepção a partir daquele momento.
Entretanto, essas recomendações não foram observadas na prática pelos pesquisadores do estudo apresentado no encontro, o qual foi feito em um hospital do Reino Unido. Dos 150 profissionais entrevistados, 70% disseram que não discutem rotineiramente sobre a interação com a progesterona e diminuição da eficácia anticoncepcional provocada pelo Sugamadex com as pacientes que receberam o medicamento. Outro ponto importante mencionado pelos pesquisadores é que dos profissionais entrevistados, 94% disseram estar cientes do risco de falha do contraceptivo.
Esse tipo de conduta, mesmo que não intencionalmente, viola o direito da paciente e da mulher de decidir sobre o seu próprio corpo. Omitir essa informação e não discuti-la previamente com a paciente, demonstrando as opções disponíveis e seus custos e benefícios, tira dela sua autonomia e seu poder sobre um direito que pertence somente a ela.
Apesar do estudo ter sido feito com o Sugammadex, usado predominantemente por anestesistas, a reflexão em relação à comunicação com o paciente sobre as drogas prescritas e os efeitos colaterais de cada uma e se o paciente está de acordo com essa condição cabe a qualquer médico. Visto que todas as drogas possuem efeitos colaterais, é necessário que o médico explique e exponha quais são as principais consequências no uso de tal medicamento.
Como profissional da saúde podemos oferecer informação sobre o tratamento, suas principais vantagens e desvantagens, outros caminhos e alternativas de tratamento para o paciente, a fim de que a pessoa e paciente tenha autonomia para escolher qual caminho quer percorrer com o seu corpo. Além disso, mesmo quando não há outra alternativa de tratamento, podemos fornecer conhecimento e suporte para que ela possa percorrer e terminar o seu percurso de tratamento com segurança e qualidade de vida.
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Referência
(ESAIC), The European Society Of Anaesthesiology And Intensive Care. Women not being routinely informed that a common anesthetic may lessen contraception effectiveness, doctors warn. Disponível em: https://medicalxpress.com/news/2022-06-women-routinely-common-anesthetic-lessen.html. Acesso em: 13 jun. 2022.