Estima-se que, mundialmente, mais de 300 milhões de pessoas convivam com a depressão, doença crônica e incapacitante que está intimamente associada ao suicídio, que foi a segunda principal causa de morte entre pessoas com 15 a 29 anos em 2015.
A poluição por material particulado (PM) ambiental, que basicamente consiste na poluição causada por poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho, ocupa o sexto lugar entre os fatores de risco comportamentais, ambientais, ocupacionais e metabólicos mais maléficos para a saúde humana.
Estudos epidemiológicos e experimentais anteriores não são conclusivos quanto à associação entre a poluição do ar e doenças do sistema nervoso central e déficits de comportamento, como depressão e suicídio. Para esclarecer essa dúvida, um recente estudo realizado na Universidade de Crambidge, na Inglaterra, teve como objetivo determinar a relação geral entre a exposição ao MP e depressão/suicídio com base nas evidências atuais. Para isso, trinta artigos (20 para depressão e 10 para suicídio) com dados de 1.447.313 participantes foram incluídos em uma revisão sistemática com meta-análise
As análises encontraram uma associação positiva significativa entre poluição por material particulado com o risco de depressão e suicídio, especialmente, em pessoas com mais de 65 anos e em regiões desenvolvidas. As associações para depressão parecem ser ainda mais fortes para partículas menores, em longo prazo e em ambientes mais poluídos, por exemplo, para cada aumento de 10 µg/m3 em PM, há uma chance 19% maior de desenvolver a doença e suas complicações.
Embora o mecanismo exato ainda não tenha sido esclarecido, uma hipótese é que o material particulado, principal poluente do ar, induza o desenvolvimento dos transtornos mentais devido a ativação de vias de neuroinflamação e de estresse oxidativo, além de causar ativação crônica e desregulada do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, já associada a efeitos neurocomportamentais adversos.
A depressão e o suicídio têm feito cada vez mais vítimas diariamente e o acesso a tratamentos eficazes ainda é limitado. Portanto, atuar na prevenção a partir do esclarecimento da fisiopatologia e de possíveis fatores de risco envolvidos na gênese da doença é de suma importância, sendo necessários mais estudos que avaliem essa correlação.
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Referências
Liu Q, Wang W, Gu X, Deng F, Wang X, Lin H, Guo X, Wu S. Association between particulate matter air pollution and risk of depression and suicide: a systematic review and meta-analysis. Environ Sci Pollut Res Int. 2021 Feb;28(8):9029-9049. doi: 10.1007/s11356-021-12357-3. Epub 2021 Jan 22. PMID: 33481201.
Conteúdo traduzido e adaptado por Diego Arthur Castro Cabral