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Pesquisadores brasileiros descobrem que suplementação alimentar com óleo de coco pode causar obesidade

Pesquisadores brasileiros descobrem que suplementação alimentar com óleo de coco pode causar obesidade
Academia Médica
jul. 5 - 5 min de leitura
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Um artigo publicado por um grupo de cientistas brasileiros no Journal of Functional Foods demonstrou que camundongos com a alimentação suplementada com óleo de coco apresentaram alterações importantes no consumo alimentar, maior ganho de peso, comportamento ansioso e aumento de marcadores inflamatórios no sistema nervoso central, tecido adiposo e fígado.

Os pesquisadores também observaram que a capacidade da leptina e da insulina (dois hormônios cruciais para o metabolismo energético) de ativar mecanismos celulares responsáveis, por exemplo, pela saciedade e controle da glicemia, estava prejudicada. Além disso, os mecanismos bioquímicos envolvidos com a síntese de gordura estavam estimulados. Os dados sugerem que, embora o processo seja lento e silencioso, a suplementação com óleo de coco por longos períodos pode levar a alterações importantes no metabolismo que contribuem para o desenvolvimento de obesidade e comorbidades associadas.

O consumo excessivo de gordura de origem animal está robustamente relacionado ao aumento no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, além de obesidade e diabetes. Um dos componentes dessa dieta é o colesterol, mas esse tipo de gordura também apresenta ácido graxo saturado (AGS) na composição – popularmente conhecido como “gordura saturada”. Esses ácidos graxos são capazes de ativar processos inflamatórios, por meio de receptores conhecidos como Toll like receptor-4 (TLR-4), que podem levar ao desenvolvimento de doenças. Os ácidos graxos saturados também podem ser obtidos de outras fontes, mesmo de origem vegetal, como o óleo de coco – no qual os AGS representam 90% dos lipídeos presentes. Embora parte importante desses lipídeos seja de AG pequenos, chamados de ácidos graxos de cadeia curta, a gordura saturada presente no produto tem potencial para ativar vias inflamatórias e causar danos em diferentes tipos celulares.

O consumo de óleo de coco como componente da dieta usual ou como suplemento alimentar aumentou muito na população ao longo dos últimos anos, relatam os pesquisadores. O problema é que, na maioria das vezes, esse consumo é realizado sem o acompanhamento de um nutricionista, que pode ajustar a inclusão diária desse lipídeo de acordo com recomendações individualizadas.

Para investigar se o consumo diário de óleo de coco durante longo período poderia causar danos à saúde, o grupo de pesquisa empregou modelos animais, no caso camundongos saudáveis suplementados com óleo de coco diariamente. A dose diária em calorias oferecida durante oito semanas aos camundongos pode ser comparada ao consumo de uma colher de sopa por humanos, cerca de 13 gramas de óleo ao dia. Essa dose equivale à suplementação de cerca de 5% na quantidade de caloria proveniente de gordura saturada da dieta de um indivíduo adulto com peso dentro da faixa de adequação para a idade.

Os pesquisadores observaram que a suplementação com óleo de coco diminuiu o nível da proteína GRP78 e aumentou a expressão de ATF6 no hipotálamo, além de aumentar a fosforilação de outras proteínas, o que mostra que o consumo deste alimento por oito semanas desencadeia estresse do retículo endoplasmático no hipotálamo de camundongos saudáveis. Ademais, a administração de leptina não foi capaz de alterar a ingestão alimentar e o gasto energético dos animais suplementados, diferente mente do grupo controle,  no qual se observou aumento do gasto energético e diminuição da ingestão alimentar.

Em resumo, a suplementação com óleo de coco por oito semanas, em camundongos Swiss saudáveis, induz inflamação no retículo endoplasmático de células hipotalâmicas e promove resistência à leptina e à insulina, tanto central quanto periférica, principalmente quando ingerido em altas doses, prejudicando o controle do gasto energético, expressão de neuropeptídeos e ingestão de alimentos. Adicionalmente, o consumo de óleo de coco, por si só, promoveu a redução da fosforilação da AMPK e aumentou a expressão gênica de ACC e AGPAT, proteínas envolvidas no processo de lipogênese.

O muito elogiado Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda que o óleo de coco seja utilizado em pequenas quantidades, como parte de preparações culinárias para temperar ou cozinhar alimentos, preferencialmente aqueles in natura ou minimamente processados, num perfil balanceado de consumo seguindo os princípios da quantidade, qualidade, harmonia e adequação. Além disso, ele não é recomendado como suplemento para tratamento de doenças ou recuperação da saúde.


Leia também: 



Referência: 

Veras, A. C. C., da Silva Bruzasco, L., Lopes, A. B. P., da Silva Franco, B., de Souza Holanda, A. S., Esteves, A. M., ... & Torsoni, M. A. (2023). Supplementation with CO induces lipogenesis in adipose tissue, leptin and insulin resistance in healthy Swiss mice. Journal of Functional Foods, 106, 105600.


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