Ao longo da última semana, o diagnóstico de um caso autóctone de raiva humana no Distrito Federal (DF) chamou a atenção da mídia e deixou em alerta a população e as entidades de saúde da região. O paciente é um adolescente que desenvolveu a doença após ser arranhado por um gato contaminado, que infelizmente não foi localizado.
Em todo mundo, a raiva humana geralmente leva os pacientes a óbito. Porém, alguns casos de sobrevivência são tidos como exemplo e passam a orientar a condução clínica dos demais pacientes contaminados. Atualmente, o mundo segue um protocolo brasileiro de tratamento. Trata-se do Protocolo Recife, do ano de 2009, adotado em substituição ao até então utilizado Protocolo de Milwaukee.
Segundo o médico infectologista Filipe Prohaska Batista, que é chefe de triagem de doenças infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, de Pernambuco, o protocolo foi batizado com o nome da capital pernambucana por que, há treze anos, foi registrado na cidade o único caso brasileiro de sobrevivência de uma pessoa contaminada pela raiva. Era uma criança, que vivia em condições precárias em área rural e foi mordida por um morcego.
“O caso foi atendido no Hospital Universitário Oswaldo Cruz e se tornou exemplo para a comunidade médica mundial. Na época do atendimento, não tínhamos as mesmas medicações para tratamento recomendadas pelo protocolo de Milwaukee. Então, fizemos algumas adaptações que acabaram sendo bem sucedidas”, lembra Filipe. “Médicos norte-americanos vieram para cá e acompanharam o caso. O protocolo passou a se chamar Recife e hoje é adotado em todo o mundo”.
O infectologista confere o sucesso do tratamento a uma combinação de fatores. Entre eles, utilização de antivirais e anti-inflamatórios em associação com traqueostomia precoce, adoção de fisioterapia e fonoaudiologia. “Também contribuiu muito o fato de o paciente ser, na época, bastante jovem e ter procurado tratamento rápido”. Em adultos, os sintomas da raiva geralmente se manifestam em 45 dias. Porém, em crianças, podem aparecer num período de dois a sete dias. A recomendação é de que a vacinação em caso de exposição à raiva seja realizada em um período de até 72 horas.
Em relação especificamente ao caso diagnosticado no DF, Filipe lamenta que o gato que infectou o adolescente não tenha sido capturado. “A grande preocupação é que o animal foi perdido, estando solto e podendo infectar outros animais e seres humanos. Como medida preventiva, deve-se adotar políticas públicas de vacinação de animais, fazendo uma busca ativa a cães e gatos que não tenham sido imunizados”.
Diagnóstico
Nos estabelecimentos de saúde, o diagnóstico da raiva geralmente é feito com base no relato de pacientes que foram mordidos ou arranhados por animais e nos sintomas apresentados. Posteriormente, a confirmação se dá através de teste de PCR.
Os principais sintomas de raiva são mal-estar geral, dor de cabeça, perda de peso, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade e inquietude. Um sintoma clássico também é a hidrofobia, que geralmente aparece em estágios mais avançados. “Deve-se ficar atento a qualquer alteração neurológica ou comportamental após mordida de animais. No Brasil, a raiva humana não é frequente, mas infelizmente ainda acontecem casos”, finaliza o infectologista.
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