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A saúde mental dos vestibulandos

A saúde mental dos vestibulandos
Lilian Galligani
mar. 10 - 4 min de leitura
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Na série “Sob Pressão”, transmitida pela TV Globo, o ator João Vitor Silva interpreta o personagem Leonardo, filho da infectologista Vera (Drica Moraes)l. Leonardo está passando pela época de vestibular. Não demora muito para Vera descobrir que o filho está fazendo uso de anfetaminas de forma indiscriminada ao falsificar receitas médicas utilizando o carimbo da mãe. O rapaz alega que os remédios o ajudam a ficar mais concentrado. Mesmo com as advertências da mãe, Leonardo sofre uma overdose durante a prova e posteriormente confessa que não queria ser médico.

Neste contexto, vale destacar a ideia de Aristóteles de que a arte é a mimésis da vida. Infelizmente, a pressão e desesperança encenadas não se limitam a uma série televisiva. Um estudo realizado na cidade de Porto Alegre (RS), em 2008, com vestibulandos, revelou que 25% dos estudantes entrevistados apresentaram ansiedade grave e moderada e que a sensação de obrigação de prestar vestibular e o fato de considerá-lo como algo decisivo em sua vida fizeram com que a ansiedade aumentasse (Rodrigues e Pelisoli, 2008).

Em 2013, outro estudo realizado na cidade de Alfenas (MG), revelou que 58,5 % dos estudantes entrevistados apresentavam ansiedade e 28,4% depressão (Terra et al, 2013). Ambos os estudos destacaram a carência de mais pesquisas sobre o tema e a necessidade de atenção psiquiátrica/psicológica aos candidatos a uma vaga de ensino superior.

Para os cursos mais concorridos, “os vestibulandos costumam receber muitos 'nãos' repetidas vezes por um longo espaço de tempo, o que ocasiona um sentimento de desesperança, incompetência e baixa estima”, conforme a psicologa Lígia Massarelli. Ela ainda complementa que o estudante passa a enxergar o vestibular como única coisa que realmente importa na vida, como "momento de vida ou morte.

Tal fato é corroborado com falas de estudantes como Enzo Pallone, que passou em Medicina na UFMG em 2021. “Quase infartei no cursinho”, ele conta à entrevistadora Susane Ribeiro, ao observar a grande quantidade de pessoas/concorrentes na sala de aula. Ele e outros colegas experimentaram crises de pânico, chegando a sentir que iriam infartar. Tal sentimento de desespero não é imaginativo, visto que universidades como a USP chegam a ter mais 200 candidatos/vaga para cursos como o de Medicina.

O mais preocupante de todas as pesquisas apresentadas é quanto ao uso de medicamentos por parte dos pré-vestibulandos. Em relação ao consumo de medicamentos entre o público pré-universitário, a pesquisa Cassimiro (2012 ) mostrou que 21% dos estudantes dos dois cursos pré-vestibulares de Belo Horizonte (MG) pesquisados faziam uso de psicofármacos.

Os resultados de outra pesquisa com estudantes de Juazeiro do Norte (CE), Fortaleza (CE) e São Paulo (SP) revelaram que o contingente de estudantes predispostos a usar medicamentos foi alto (65,3%), mesmo sem conhecer os efeitos de tais medicamentos (TRIGUEIRO E LEME,2020).

Referências:

Rodrigues e Pelisoli, “Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório”, Porto Alegre -RS, 2008, https://doi.org/10.1590/S0101-60832008000500001 .

Terra et al, “Ansiedade e Depressão em Vestibulandos”, Alfenas – MG, 2013, disponível em: http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-38882013000400007 , acessado em 08/03/2023.

Ribeiro, Susane ,”Saiu do cursinho, estudou MENOS e passou em Medicina na UFMG ampla | Enzo Pallone” disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UKkybGPmdlE acessado em 09/03/2023.

Trigueiro e Leme, “Estudantes E O Doping Intelectual: Vale Tudo Na Busca Do Sucesso No Vestibular? “, disponível em: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572020000100306#B8 acessado em 09/03/2023.

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