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Saúde Planetária e o dia mundial de combate ao tabagismo

Saúde Planetária e o dia mundial de combate ao tabagismo
GEPRAPS - GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISA RESPIRATÓRIAS NA APS
mai. 31 - 6 min de leitura
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PANORAMA DO CÂNCER DE PULMÃO

O câncer é caracterizado como um crescimento tecidual desordenado, onde células se multiplicam de forma descontrolada, ultrapassando limites territoriais e invadindo órgãos além de sua origem - o que resulta em metástases. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o câncer de pulmão encabeça a lista de mortalidade global, seguido dos cânceres de mama e colorretal. Em relação ao tabagismo, este é atribuído como fator causador de 70% a 80% dos casos, estando mais associado aos cânceres de pulmão e orofaringe, mas também relacionado aos cânceres de laringe, bexiga, rim, esôfago, estômago e pâncreas.

A análise dos registros de óbitos do DATASUS, entre 1998 e 2022, aponta um aumento significativo de mortes devido a neoplasias malignas de traqueia, brônquios e pulmões, referenciadas pela CID 10. Observa-se que a proporção dessas mortes, em relação à população total, subiu de 0,001% em 1998 (com 2046 óbitos) para 0,003% em 2022 (com 6992 óbitos).

Este aumento é parcialmente atribuído ao crescimento de 540% nas mortes entre mulheres, passando de 608 óbitos em 1998 para 3289 em 2022. Nos homens, observou-se um aumento de 257%, indo de 1438 óbitos em 1998 para 3703 em 2022.

A aceitação ampliada do tabagismo entre as mulheres brasileiras, impulsionada pelo movimento feminista dos anos 1960, teve implicações duradouras, como observado por Tsukazan et al. (5). Esta mudança cultural removeu o estigma de que o ato de fumar era exclusivamente masculino, culminando em um aumento na incidência de câncer de pulmão entre as mulheres desde a década de 1970, uma condição anteriormente predominante entre os homens.

AVANÇOS E DESAFIOS ATUAIS


O Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) foi instituído em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo.

No relatório MPOWER de 2019, que supervisiona a epidemia de uso de tabaco e promove políticas, a OMS identificou o Brasil como um modelo na luta contra o tabagismo. O país teve sucesso na implementação de políticas em seis áreas distintas. Conforme a figura abaixo: 



MEDIDAS MPOWER DE CONTROLE DO TABACO

Fonte: Fiocruz, 2019.

No entanto, apesar do sucesso da implementação de politicas para controlar o uso de tabaco, o desafio emergente reside na concientização dos jovens. Este grupo vem se encantando cada vez mais com o cigarro eletrônico, que é erroneamente considerado menos prejudicial que o cigarro comum e apresentado como alternativa ao tabagismo tradicional. Isso não apenas é um conceito errôneo, como também está atraindo indivíduos que antes não fumavam. Dados da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontam que 16,8% dos adolescentes brasileiros já experimentaram cigarro eletrônico ao menos uma vez na vida.

 

O estudo de Riquinho e Hennington (2014) destaca um paradoxo no Brasil no que tange à produção de tabaco. Embora o país seja reconhecido como referência em saúde pública, é também um dos maiores exportadores de tabaco, com uma tendência de aumento na produção anual.  Os autores também descrevem  dados da AFUBRA (Associação dos Fumicultores do Brasil), que mostram um incremento na produção de 257.660 toneladas em 1999/2000 para 560.181 toneladas em 2021/2022.

O estudo aponta o Rio Grande do Sul como o estado que mais contribui para esses números, visto que a produção de tabaco é majoritariamente realizada em pequenas propriedades familiares. No entanto, as enfermidades associadas aos métodos de produção entre os agricultores de tabaco ainda são pouco documentadas na literatura. As doenças mais frequentemente reportadas em pesquisas nacionais e internacionais englobam a doença da folha verde do tabaco (DFVT), doenças respiratórias e intoxicações por agrotóxicos, além de outros problemas de saúde e acidentes de trabalho.

A DFVT ocorre devido à ativação ou inibição de receptores no sistema nervoso central, levando a sintomas como vômitos, náuseas, tonturas, dores de cabeça, dores abdominais, diarreia, alterações na pressão arterial e na frequência cardíaca após a exposição à Nicotiana tabacum.

Outros problemas de saúde identificados na produção de tabaco são doenças respiratórias relacionadas à exposição à poeira da folha de tabaco e ao processo de secagem. Há ainda relatos de trabalho infantil e trabalho extenuante.


Para acesso completo ao artigo das respeitadas Doutoras em Saúde Pública, Deise Lisboa Riquinho e Élida Azevedo Hennington, por favor, clique aqui.

https://www.scielo.br/j/csc/a/fjCKC4MyCZydpK7Sx4cvhcS/



Leia também: 






Fontes:


Organização pan-americana de saúde, cancer. Disponivel em https://www.paho.org/pt/topicos/cancer , acessado em 30 de março de 2023.


Tsukazan, et al, 2017. Câncer de pulmão: mudanças na histologia, sexo e idade nos últimos 30 anos no Brasil. Jornal Brasileiro de Pneumologia.


Gross e Baranauskas, 2013. Oncologia para graduação: capitulo 22 – tabaco e câncer. - pag 196 e 390.


Fiocruz, Relatório da OMS sobre tabaco destaca Brasil. Disponivel em: https://portal.fiocruz.br/noticia/relatorio-da-oms-sobre-tabaco-destaca-brasil#:~:text=Divulgado%20na%20%C3%BAltima%20sexta%2Dfeira,internacional%20no%20combate%20ao%20tabagismo. acessado em 30 de maio de 2023.

Riquinho DL, Hennington ÉA. Cultivo do tabaco no sul do Brasil: doença da folha verde e outros agravos à saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 2014;19:4797-8.




AUTORA: LILIAN GALLIGANI 



O GEPRAPS é um grupo interdisciplinar e multidisciplinar de profissionais da saúde, que desenvolvem trabalhos e reflexões sobre as situações relacionadas às Doenças Respiratórias Crônicas – DRCs no Brasil .O principal objetivo do grupo é apoiar as boas práticas assistenciais, a educação permanente, o desenvolvimento multiprofissional continuado e a pesquisa respiratória na Atenção Primária a Saúde, com enfoque nas linhas de cuidado das Doenças Respiratórias Crônicas e Tabagismo. Para mais informações acesse nosso site  https://www.gepraps.com.br/  ou nosso instagram @gepraps .


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