Fonte: JAMA.
doi:10.1001/jama.2023.20583
Quando adultos gravemente doentes são admitidos no hospital com suspeita de infecções agudas hospitalares, frequentemente recebem antibióticos empíricos. Para aqueles com risco de infecção por bactérias gram-negativas resistentes, as diretrizes recomendam o uso de antibióticos antipseudomonais, como cefepime ou piperacilina-tazobactam.
🚩 No entanto, uma questão crucial permanece: Qual dos dois é mais seguro para uso?
O estudo ACORN (Antibiotic Choice on Renal Outcomes) publicado em 14 de outubro de 2023, em JAMA Network Open tentou responder a essa pergunta por meio de um ensaio clínico randomizado.
✅ Ensaio Clínico Randomizado ACORN
O principal objetivo deste ensaio era comparar a segurança do cefepime em relação à piperacilina-tazobactam em adultos admitidos com suspeita de infecção aguda.
✅ Resultados Principais
Os resultados do ensaio ACORN indicaram que não houve diferença significativa entre os pacientes randomizados para cefepime ou piperacilina-tazobactam em termos do estágio mais alto de insuficiência renal aguda (IRA) ou morte. No entanto, foi observado que os pacientes randomizados para cefepime apresentaram mais disfunção neurológica, conforme medido pelo número de dias vivos e livres de delírio e coma.
Confira abaixo a tabela que detalha a Modificação do Efeito dos Desfechos Primários e Secundários:
Fonte: JAMA. doi:10.1001/jama.2023.20583
✅ Discussão e Implicações
Estudos pré-clínicos e observacionais anteriores sobre a relação entre piperacilina-tazobactam e IRA produziram resultados conflitantes. Enquanto alguns estudos observacionais associaram a piperacilina-tazobactam com IRA, principalmente com o recebimento concomitante de vancomicina, outros estudos em modelos animais indicaram que a piperacilina-tazobactam poderia até proteger contra a IRA induzida por vancomicina.
Por outro lado, estudos mostraram que o cefepime pode cruzar a barreira hematoencefálica e tem sido associado à neurotoxicidade, incluindo coma, delírio, encefalopatia e convulsões. Este risco parece ser mais pronunciado em pacientes com função renal comprometida e condições que perturbam a barreira hematoencefálica, como sepse.
O presente ensaio reforça a percepção da comunidade médica sobre a associação entre o cefepime e o aumento do risco de disfunção neurológica em adultos hospitalizados.
Na tabela a seguir, é possível visualizar os 'Desfechos Primários, Secundários e Exploratórios' relacionados ao estudo:
Fonte: JAMA. doi:10.1001/jama.2023.20583
Em suma, o ensaio ACORN revela que o tratamento com piperacilina-tazobactam não aumentou a incidência de IRA ou morte em adultos hospitalizados. Por outro lado, o tratamento com cefepime resultou em mais disfunção neurológica. Esses resultados apoiam as decisões clínicas sobre a terapia antibiótica empírica para pacientes com suspeita de infecções.
Leia também:
- Conexão entre infecções hospitalares, doenças autoimunes e demência
- Ferramentas para prevenção de infecções aprimoram a qualidade assistencial
Referência:
Qian ET, Casey JD, Wright A, et al. Cefepime vs Piperacillin-Tazobactam in Adults Hospitalized With Acute Infection: The ACORN Randomized Clinical Trial. JAMA. Published online October 14, 2023. doi:10.1001/jama.2023.20583