No documento "Implementing strategies to prevent infections in acute-care settings", parte do ICHE Compendium 2022, são apresentadas estratégias cruciais para a prevenção de infecções em contextos de cuidados agudos. Em uma publicação anterior, abordamos a estratégia dos "4 Es", a qual você pode conferir clicando aqui. Agora, iremos focar em outras duas estratégias adicionais descritas no documento, que são fundamentais para a prevenção de infecções: a roda de mudança comportamental (Behavior Change Wheel - BCW) e o sistema COM-B (Capacidade, Oportunidade, Motivação - Comportamento).
Os autores do artigo, destacam a não-linearidade do modelo, o que significa que vários componentes do sistema de comportamento, funções de intervenção e categorias de políticas podem ser aplicados em um esforço para efetuar mudanças. Uma característica valiosa do modelo é sua tentativa de incorporar influências contextuais sobre o comportamento, como emoções e impulsos que surgem da aprendizagem associativa ou de disposições inatas.
O BCW tem sido amplamente aplicado em esforços de promoção da saúde, tais como a cessação do tabagismo e a redução da obesidade e do comportamento sedentário. O sistema COM-B, por sua vez, tem sido utilizado para investigar a adesão à higiene das mãos e a prescrição de antibióticos.
No contexto da prevenção de infecções em ambientes de cuidados agudos, o BCW pode desempenhar um papel crucial. As capacidades, oportunidades e motivações dos profissionais de saúde para implementar medidas de controle de infecção podem ser diretamente abordadas e melhoradas através das funções de intervenção e categorias de políticas propostas pelo modelo. Por exemplo, a capacidade de um profissional de saúde para executar a higiene das mãos de forma adequada pode ser aumentada através de intervenções educacionais.
Da mesma forma, a oportunidade para a higiene das mãos pode ser melhorada através de mudanças na configuração do local de trabalho, como a disponibilização de dispensadores de desinfetante para as mãos em locais estratégicos. A motivação para a higiene das mãos pode ser aumentada através da criação de uma cultura de segurança em que a higiene das mãos seja valorizada e incentivada.
A flexibilidade do modelo também permite uma abordagem mais personalizada e contextualizada para a mudança de comportamento. Dependendo do ambiente de cuidados agudos específico, diferentes componentes do sistema de comportamento, funções de intervenção e categorias de política podem ser mais relevantes e eficazes. No entanto, a implementação bem-sucedida de intervenções baseadas no BCW requer uma compreensão aprofundada do comportamento que se pretende mudar, bem como das barreiras e facilitadores para essa mudança. Avaliação e monitoramento contínuos são, portanto, componentes essenciais para garantir que as intervenções sejam eficazes e levem a melhorias sustentáveis na prevenção de infecções.
No contexto dos ambientes de cuidados agudos, o gerenciamento de infecções pode contribuir para a carga de trabalho e o estresse experimentados pelos profissionais de saúde. No entanto, a aplicação efetiva do sistema COM-B pode ajudar a aliviar esses desafios. Por exemplo, aumentando a capacidade desses profissionais por meio de treinamentos em resiliência e técnicas de gerenciamento de estresse. Além disso, a criação de uma cultura de trabalho que valorize o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal pode fornecer mais oportunidades para o bem-estar dos profissionais. Para completar, encorajar o autocuidado e a autogestão, criando um ambiente de trabalho que as recompense, pode aumentar a motivação dos profissionais para cuidar da própria saúde e bem-estar.
Dessa forma, o Behavior Change Wheel e o sistema COM-B se apresentam como ferramentas fundamentais para implementar estratégias de prevenção de infecções em ambientes de cuidados agudos, promovendo melhorias na assistência ao paciente, na segurança do paciente e no bem-estar dos profissionais de saúde. Conforme mencionado no estudo, para uma implementação bem-sucedida, é crucial compreender a fundo o comportamento a ser mudado e os obstáculos e facilitadores para essa mudança, além de realizar uma avaliação e monitoramento contínuos das intervenções.
Esperamos sinceramente que esta leitura tenha sido não só esclarecedora, mas também inspiradora para você, nosso estimado leitor. Em nossos esforços para manter você informado sobre as mais recentes estratégias de prevenção de infecções, conforme delineado no documento de Trivedi et al. (2023), também nos propusemos a explorar e ponderar sobre as ferramentas estratégicas que estão à nossa disposição para conduzir ações efetivas de prevenção.
Como profissionais da saúde, temos a responsabilidade compartilhada de implementar práticas baseadas em evidências para garantir a segurança dos nossos pacientes. Este artigo é, portanto, um convite à reflexão sobre como podemos aplicar tais estratégias em nossos contextos específicos, tendo em mente a não-linearidade e flexibilidade do Behavior Change Wheel e do sistema COM-B. Encorajamos todos os leitores a se engajar nesta missão crítica, adaptando as práticas às suas realidades particulares e, assim, contribuir para o avanço da prevenção de infecções em ambientes de cuidados agudos.
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Referência:
Trivedi, K., Schaffzin, J., Deloney, V., Aureden, K., Carrico, R., Garcia-Houchins, S., . . . Berenholtz, S. (2023). Implementing strategies to prevent infections in acute-care settings. Infection Control & Hospital Epidemiology, 1-15. doi:10.1017/ice.2023.103