Uma publicação na revista Science, de 16 de outubro de 2023, apresentou uma possível explicação para os sintomas persistentes da Covid longa.
Muitos pacientes relatam dificuldades prolongadas de concentração, problemas de atenção e memória após a infecção pelo SARS-CoV-2. A nova pesquisa sugere que a inflamação desencadeada pelo vírus pode levar a uma queda nos níveis de serotonina, neurotransmissor associado ao humor e à digestão, entre outras funções.
Os pesquisadores da University of Pennsylvania Health System (Penn Medicine) observaram que pacientes tratados em uma clínica pós-COVID-19 apresentavam níveis mais baixos de serotonina no sangue em comparação com indivíduos que haviam se recuperado completamente da infecção. Pacientes com casos agudos de COVID-19 também mostraram redução da serotonina sanguínea.
Para investigar a relação, os pesquisadores infectaram camundongos com SARS-CoV-2 ou os injetaram com um medicamento que simula uma resposta inflamatória similar. Em ambos os cenários, houve queda nos níveis de serotonina no sangue. O estudo identificou múltiplos mecanismos para essa queda: a infecção viral ou o tratamento com o medicamento interferiram na absorção de triptofano pelo intestino dos camundongos, precursor da serotonina, além de afetar o transporte da molécula via plaquetas no sangue e aumentar a atividade de uma enzima que decompõe a serotonina.
Interessantemente, os animais com níveis reduzidos de serotonina apresentaram pior desempenho em testes de memória e exibiram redução de atividade no hipocampo, região cerebral associada à memória. Ao suplementar a dieta dos animais com triptofano ou administrar o antidepressivo fluoxetina, a equipe conseguiu reverter esse comprometimento.
No entanto, o estudo tem suas limitações. A principal ressalva é que a serotonina foi reduzida apenas no sangue dos animais e não em seus cérebros, tornando complexas as explicações sobre os efeitos neurocognitivos. Além disso, pesquisadores questionam a relevância dos resultados em camundongos para a compreensão da Covid longa em humanos, principalmente em relação ao foco no hipocampo.
Mesmo com as lacunas teóricas, os achados abrem portas para novas linhas de investigação clínica. Os autores do estudo esperam conduzir pesquisas para testar se dietas suplementadas com triptofano ou o uso de ISRSs, como a fluoxetina, podem melhorar os sintomas da Covid longa.
Akiko Iwasaki, imunobiologista da Yale School of Medicine, enfatiza na na publicação em Science, que provavelmente existem múltiplos tipos de Covid longa, cada um com suas causas raiz, e a baixa serotonina pode ser apenas uma delas.
Em resumo, o estudo leva a compreensão que a serotonina emerge como um possível player na complexa síndrome da Covid longa. Mais pesquisas são essenciais para esclarecer essa relação e, eventualmente, oferecer novos tratamentos para os pacientes afetados.
Leia também:
Referência:
Offord, C. (2023, October 16). Low serotonin levels might explain some Long Covid symptoms, study proposes. Science. https://www.science.org/content/article/low-serotonin-levels-might-explain-some-long-covid-symptoms-study-proposes
Estar atualizado sobre as últimas descobertas e inovações nas ciências médicas faz sentido pra você? Se sim, inscreva-se em nossa newsletter e receba nossos conteúdos diretamente em sua caixa de e-mail!