Ainda não se sabe ao certo quais são as causas que levam ao desenvolvimento do câncer de colorretal (CCR). No entanto, algumas condições médicas e de estilo de vida são identificadas como fatores de risco. Entre elas, a alteração da composição e função da microbiota intestinal. Diferenças entre a estrutura da microbiota intestinal em pacientes com carcinoma colorretal e pacientes com mucosa colorretal íntegra foram relatadas, e evidências apoiam que certos microrganismos, como Fusobacterium nucleatum, induzem maior malignidade na carcinogênese.
Entre os fatores que alteram a microbiota intestinal, um dos mais disruptivos é o uso de antibióticos. Há evidências de que o tratamento com antibióticos pode causar supercrescimento intestinal da bactéria Clostridium difficile, produtora de toxinas, que causam inflamações crônicas. Além disso, pode também interromper os efeitos anti-inflamatórios de outras microbiotas.
Um estudo de caso-controle, que incluiu 40.545 casos de CCR e 202.720 controles foi conduzido usando dados de registros da população sueca, com o objetivo de investigar a correlação entre o CCR e o uso de antibióticos. Para isso, os casos de CCR foram identificados usando o Registro Sueco de Câncer Colorretal, e os dados sobre o uso de antibióticos foram extraídos do Registro Sueco de Medicamentos Prescritos.
Os resultados mostraram uma forte associação entre o uso de antibióticos e maior risco de câncer de cólon proximal/ascendente, que começaram a partir de doses pequenas de antibióticos, fornecendo uma justificativa plausível para reduzir as prescrições arbitrárias de antibióticos. Entretanto, análises estratificadas por sexo revelaram que mulheres usuárias de antibióticos apresentam menores chances de desenvolver câncer retal quando comparadas aos homens. Uma possível explicação é a proteção contra infecções sexualmente transmissíveis, como a infecção por Chlamydia, que ocorrem mais frequentemente em mulheres.
Nas análises estratificadas por classes de antibióticos, identificou-se que as quinolonas e sulfonamidas/trimetoprimas foram associadas ao aumento do risco de câncer proximal em ambos os sexos, possivelmente refletindo o efeito desses antibióticos na diversidade bacteriana. Por outro lado, nitrofurantoínas, macrolídeos/lincosamidas e metronidazol/tinidazol estiveram inversamente associados ao câncer retal.
Em conclusão, foi observada uma associação consistente entre o uso de antibióticos e maior risco subsequente de câncer de cólon proximal e uma associação inversa para câncer retal em mulheres.
“Este estudo apóia a evidência crescente de que os antibióticos podem afetar o risco de câncer de cólon. Mesmo que o aumento do risco individual seja pequeno, ele nos deixa um pouco mais perto de entender a relação entre as bactérias em nossos intestinos e seu impacto em nossa saúde” - afirma Sophia Harlid, Ph.D., coautora do artigo.
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Referências
- Lu, S. S. M., Mohammed, Z., Häggström, C., Myte, R., Lindquist, E., Gylfe, Å., ... & Harlid, S. (2021). Antibiotics Use and Subsequent Risk of Colorectal Cancer: A Swedish Nationwide Population-Based Study. JNCI: Journal of the National Cancer Institute.