Estudo randomizado publicado no British Medical Journal (BMJ) analisou e comparou o uso de citrato
de cafeína com placebo para a prevenção de hipoxemia intermitente em prematuros
tardios. Segundo o artigo, o citrato de cafeína em dose de 10 ou 20 mg/kg/dia
reduziu a taxa média de hipoxemia intermitente em 61% e 67%, respectivamente.
Também, de forma geral, a cafeína não teve efeitos adversos
no sono, refluxo gastroesofágico ou alimentação, embora a porcentagem de tempo
em que os bebês tiveram taquicardia aumentou, de acordo com relatos anteriores.
Bebês de 34 a 36 semanas e 6 dias de gestação são
classificados como prematuros tardios e têm maior probabilidade de serem
diagnosticados com paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento e comprometimento
cognitivo em comparação com bebês nascidos a termo. Esses prematuros também
apresentam episódios frequentes de hipoxemia intermitente, que são quedas
repetitivas de saturação de oxigênio ≥10% abaixo da linha de base por menos de
dois minutos, não associadas à apneia, mas potencialmente causadoras de hipóxia
de órgãos semelhantes.
A frequência desses episódios atinge o pico na idade
pós-natal de duas semanas, antes de reduzir para níveis próximos ao nascimento
na idade corrigida a termo. Durante o período neonatal, mesmo pequenas
alterações nas saturações de oxigênio da oximetria de pulso afetam
significativamente a sobrevida e o neurodesenvolvimento de bebês muito
prematuros, sendo que eventos hipoxêmicos intermitentes transitórios estão
associados a desfechos de neurodesenvolvimento ruins em bebês extremamente
prematuros.
A cafeína é eficaz na prevenção e tratamento da apneia da
prematuridade e hipoxemia intermitente, reduzindo a incidência de doença
pulmonar crônica, paralisia cerebral e atraso cognitivo em bebês muito
prematuros. Nesses prematuros extremos, devido à imaturidade hepática, a
eliminação da cafeína é lenta e, com o aumento da idade gestacional, a
eliminação da cafeína aumenta, sendo necessárias doses maiores para manter o
efeito terapêutico.
No estudo publicado pela BMJ, o tamanho do efeito da cafeína
em todas as medidas respiratórias foi maior para a dose de 20 mg/kg/dia, com
efeitos semelhantes na tolerabilidade da droga à dose de 10 mg/kg/dia. A dose
de 15 mg/kg/dia não foi considerada eficaz.
Os únicos parâmetros de crescimento afetados pelo tratamento
com cafeína foram o escore z de comprimento, que foi menor no grupo de 20
mg/kg/dia em dias semanas e idade equivalente ao termo, e a velocidade de
crescimento do perímetro cefálico, que foi menor no grupo de 5 mg/kg/dia. Em
ambos os casos, uma diferença estatisticamente significativa ocorreu apenas em
um grupo de dose única e para um único parâmetro, sendo que outros parâmetros
relacionados não apresentaram as mesmas alterações. Portanto, parece improvável
que a cafeína tenha um impacto significativo no crescimento neonatal geral.
Por fim, o artigo ressalta que uma de suas limitações foi a
via de administração de citrato de cafeína. Uma vez que bebês prematuros
tardios geralmente receberam a medicação por via oral, o sabor e o volume eram
fatores importantes e difíceis de administrar em algumas crianças. Por isso,
novos estudos sobre o uso de citrato de cafeína na população de prematuros
tardios devem usar uma formulação mais palatável.
Referência:
Oliphant EA, McKinlay
CJ, McNamara D, et alCaffeine to prevent ntermitente hypoxaemia in late preterm
infants: randomised controlled dosage trialArchives of Disease in Childhood –
Fetal and Neonatal Edition Published Online First: 29 August 2022. Doi:
10.1136/archdischild-2022-324010
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