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Estudo encontra fator genético para a perda de olfato ou paladar na COVID-19

Estudo encontra fator genético para a perda de olfato ou paladar na COVID-19
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fev. 1 - 5 min de leitura
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O estudo publicado na Nature(1) foi realizado com base em um questionário online, com a maior parte dos participantes sendo dos Estados Unidos e do Reino Unido, a fim de identificar indivíduos que positivaram para o COVID e tiveram perda de olfato ou paladar. Foram definidos os casos como indivíduos positivos para o teste SARS-CoV-2 que também relataram 'Perda de olfato ou paladar' e controles como indivíduos positivos para o teste SARS-CoV-2 que não relataram 'Perda de olfato ou paladar'. O estudo excluiu os participantes que relataram um diagnóstico de COVID-19 na ausência de um teste positivo para SARS-CoV-2. Além disso, foram coletadas as amostras de swab nasal desses indivíduos para a análise genotípica GWAS, que tem como base a ancestralidade determinada por um algoritmo de classificação de ancestralidade genética. 

Com base no questionário, 68% dos indivíduos positivos para a COVID-19 relataram perda de olfato ou paladar como sintoma, sendo que as mulheres afirmaram mais a presença de anosmia ou ageusia do que os homens. Ainda, os participantes com perda olfativa ou gustativa eram mais jovens do que os que não manifestaram esses achados. Aliás, esses sintomas foram mais prevalentes em pacientes que testaram positivo para COVID-19 do que em pacientes que testaram negativo, mas tinham sintomas gripais. 

Apesar da maior parte da amostra ser da população europeia, os tamanhos de efeito estimados são consistentes entre as populações e em um modelo de regressão logística, indivíduos com ancestralidade proveniente do leste asiático ou afro-americano foram os que menos relataram perda de olfato ou paladar em comparação com os de ancestralidade europeia(1).

No artigo, 4 genes foram identificados com relação à sintomatologia, entretanto, apenas os genes UGT2A1 e UGT2A2 são mais plausíveis biologicamente para influenciar no aparecimento de sintomas (1). Esses genes fazem parte da família de Uridina Difosfato Glicosiltransferases, enzimas que metabolizam substratos lipofílicos através da conjugação com ácido glicurônico. Durante a olfação, essas enzimas, que são expressas no epitélio olfativo, atuam na modulação do sinal olfativo, permitindo ou não que o sinal chegue até o bulbo olfatório no sistema nervoso central.

A ação das enzimas com o SARS-CoV-2 está intimamente ligada com a anatomia e a fisiologia do sistema olfatório. A olfação inicia com os neurônios sensoriais olfativos, os quais são circundados por células sustentaculares, as quais   estão metabolicamente e funcionalmente associadas aos neurônios olfativos e à transdução de sinal odorante(1). Também, os neurônios olfativos estão localizados no epitélio olfativo presente na parte mais dorsal da cavidade nasal. O epitélio, juntamente com a lâmina própria subjacente constituem a mucosa olfativa. Os neurônios sensoriais possuem cílios em contato direto com o ambiente para detectar odorantes e são, portanto, acessíveis aos vírus respiratórios(2). 

De acordo com o estudo da Science (2), as células sustentaculares são rapidamente infectadas pelo SARS-CoV-2 e a partir disso, há um recrutamento maciço de células imunes no epitélio olfativo e na lâmina própria, induzindo uma rápida desorganização e destruição massiva da estrutura do epitélio, retirando a maior parte da camada ciliar dos neurônios sensoriais olfativos. Na ausência destes cílios, a transdução olfativa não é funcional e, portanto, a capacidade olfativa é prejudicada até que o tecido se regenere. Os pesquisadores do estudo não detectaram a presença de vírus nos neurônios olfatórios e nos bulbos olfatórios. O que corrobora com a ação periférica dos genes encontrados no estudo da Nature. 

Embora o estudo tenha encontrado influências genéticas na perda de olfato ou paladar, ainda não se sabe como os genes UGT2A1 e UGT2A2 estão envolvidos neste processo, mas dada a sua localização e função essencial na metabolização e desintoxicação de compostos, esses genes podem desempenhar um papel na fisiologia das células infectadas e no prejuízo funcional resultante, que contribui para a perda da capacidade de olfato(1).

Por fim, os pesquisadores enfatizaram os vieses do estudo, como a tendência  para indivíduos de ancestralidade europeia, a falta de uma coorte de replicação e o  dado que a perda de olfato ou paladar foi combinada em uma única pergunta, logo,  não houve como separar melhor esses dois sintomas, uma vez que a perda do olfato sem perda do paladar pode ser distinta da perda de ambos ou da perda do paladar sem perda do olfato. Diante disso, não está claro se os resultados encontrados se relacionam mais veementemente com um sintoma ou outro.

 

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Referências

  1. Shelton, J.F., Shastri, A.J., Fletez-Brant, K. et al. The UGT2A1/UGT2A2 locus is associated with COVID-19-related loss of smell or taste. Nat Genet (2022). https://doi.org/10.1038/s41588-021-00986-w

  2. Bryche, B. et al. Massive transient damage of the olfactory epithelium associated with infection of sustentacular cells by SARS-CoV-2 in golden Syrian hamsters. Brain Behav. Immun. 89, 579–586 (2020).

 

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