O depoimento a seguir foi publicado pelo Dr Ray Moynihan na seção “opinião” da prestigiada revista “The BMJ”, conhecida anteriormente como British Medical Journal. Ela traz 10 itens em que ele reflete sobre a carreira como pesquisador e elenca os conselhos que ele gostaria que recebesse no início de sua carreira. Confira os 10 tópicos que foram traduzidos por nossa equipe.
1. Não desanime com as rejeições
Vamos direto ao assunto. A vida da maioria dos pesquisadores novatos é cheia de rejeição. Resumos de conferências, pedidos de financiamento e, claro, artigos de pesquisa, especialmente se você for tolo o suficiente para enviar para periódicos esnobes como o BMJ.
Os pedidos de financiamento para pesquisa são os piores, porque há muito empenho em escrevê-los. Minha inscrição para uma bolsa de pós-doutorado com financiamento público foi rejeitada três vezes antes do sucesso final. E essa é a dica chave aqui. Temeridade, tenacidade, audácia. A decepção é humana, mas não deixe o desânimo detê-lo.
2. Se “case” com as métricas
Odeio dizer isso, mas quanto mais cedo você buscar as métricas pelas quais seu sucesso é medido e se envolver com elas, melhores serão suas chances. Felizmente, as métricas se afastam do foco estreito no número de publicações e agora inclui avaliações sobre o impacto real de seu trabalho no mundo real (isso na Austrália, aqui pelo Brasil continua imperando o número de publicações e não a sua “qualidade”). Se o seu supervisor não o forçar logo a se familiarizar excessivamente com as métricas, encontre outro.
3. Persiga suas paixões
Talvez o mais importante seja que seu casamento com as métricas seja impulsionado por uma busca apaixonada pelo que é mais importante para você, de preferência algo de valor social. A ciência requer métodos replicáveis transparentes e rigorosos, mas é criada por seres humanos. Bem, pelo menos por enquanto.
4. Use sua autonomia
Como pesquisador júnior, afirme sua autonomia. A liberdade acadêmica é real. Existem limites, mas descobri que os limites são mais amplos do que você pensa. A crise climática e a crise relacionada aos excessos médicos exigem que essas fronteiras sejam ampliadas ainda mais, a fim de imaginar e avaliar as mudanças transformadoras necessárias. Pense lateralmente e use essa preciosa liberdade acadêmica, em conjunto, é claro, com seu outro lado, a responsabilidade.
5. Procure as colaborações certas
Uma das maiores alegrias da vida acadêmica é a oportunidade de colaborar com boas pessoas em todo o mundo. E um dos piores aspectos é a colaboração que dá errado. Escolha as colaborações com cuidado e com pessoas preparadas para compartilhar o trabalho pesado, comece pequeno e, em seguida, desenvolva colaborações de longo prazo com aqueles com quem você gosta de trabalhar. E pense grande também. Todos nós nos envolvemos em muitos projetos minúsculos. Com colaborações globais maiores, montanhas se moverão.
6. Desenvolva ligações com os sistemas de saúde e os cidadãos
Dependendo do campo de pesquisa, estabelecer vínculos com as pessoas que gerenciam e administram os sistemas de saúde e grupos que representam pacientes ou cidadãos pode ser vital para tornar nossa pesquisa relevante e impactante. Procure-os e não os veja apenas como números, mas veja os seres humanos que ali estão.
7. Aprenda a dizer não
Aprender a dizer “não” com educação e respeito é uma das coisas mais importantes a se aprender. Especialmente para seus supervisores. Ser um pesquisador jr. com toda aquela autonomia e entusiasmo, significa que todos dizemos “sim” com muita frequência, às vezes exagerando demais.
8. Não tenha medo de mudar de direção
Todos nós tomamos decisões erradas às vezes, e alguns de nós mais do que outros. Portanto, não tenha medo de pular do barco, puxar o plugue ou mudar de direção, dependendo da metáfora de sua escolha. Talvez isso signifique mudar um tópico de doutorado, trocar um supervisor ou sair da academia completamente. Manter o máximo possível de contato com o mundo exterior - na chance de você querer retornar a ele - é altamente recomendado.
9. Fale com as pessoas
Eu sei que parece uma dica estranha, mas nestes dias dourados da tecnologia, é assustador como raramente as pessoas falam umas com as outras. Como jornalista, antes de entrar na academia, passava meus dias ao telefone ou em visitas a fontes e contatos. Da mesma forma, como pesquisador, o bate-papo individual pode ser muito frutífero. Não é apenas uma ótima maneira de aprender, mas pode construir relacionamentos e colaborações de pesquisa que podem durar para o resto da vida.
10. Divirta-se, seja divertido
Tentar se divertir, e levar diversão para quem trabalha e com quem trabalha, me parece uma das dicas mais importantes de todas. A verdade é que recebi uma orientação muito valiosa como um pesquisador jr., não menos por meu supervisor-chefe e agora chefe, o professor de surf Paul Glasziou. Ele nunca me ensinou a surfar, mas enfatizou que o potencial para se divertir é um dos critérios mais importantes para julgar o valor de qualquer novo empreendimento. E junto com saúde decente, equidade e um roteiro claro para sair da crise climática, todos nós queremos nos divertir também, não é?
Conheça mais sobre o Dr. Ray Moynihan
O Dr. Ray Moynihan é um pesquisador, escritor e autor, com experiência como jornalista, residente na Austrália e com reputação global. Após a concessão do seu PhD em 2015, Ray ganhou uma prestigiosa bolsa de estudos em início de carreira do National Health and Medical Research Council para investigar o problema do sobrediagnóstico em 2017. Atualmente um professor assistente na Bond University, Institute for Evidence-Based Healthcare, e professor associado adjunto na University of Sydney.
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Referências
About [Internet]. Ray Moynihan. Ray Moynihan; 2009 [cited 2021 Oct 18]. Available from: https://raymoynihan.org/about/
Ray Moynihan: Ten things I wish I’d been told as a junior academic - The BMJ [Internet]. The BMJ. 2021 [cited 2021 Oct 18]. Available from: https://blogs.bmj.com/bmj/2021/10/07/ray-moynihan-ten-things-i-wish-id-been-told-as-a-junior-academic/
Conteúdo traduzido e adaptado por Diego Arthur Castro Cabral