O desgaste profissional, conhecido como burnout, é uma questão pertinente que ultrapassa as fronteiras das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) adultas, alcançando uma vasta gama de profissões e ambientes. Em particular, os profissionais da saúde, independentemente de sua área de atuação, são notoriamente suscetíveis a este esgotamento. Contudo, é inegável que as UTIs adultas, devido à sua natureza intensa e complexa, destacam-se como cenários particularmente desafiadores, o que é amplamente analisado na revisão sistemática e meta-análise intitulada "High-level burnout in physicians and nurses working in adult ICUs". Embora esse estudo focalize especificamente as UTIs, as implicações e descobertas podem ser extrapoladas e aplicadas a outros contextos de saúde, e além, proporcionando uma visão mais abrangente deste tema crítico.
O burnout, uma resposta ao estresse crônico no local de trabalho que não foi adequadamente gerenciado, é uma síndrome caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e um senso reduzido de realização pessoal e profissional. Esta síndrome é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema ocupacional e é particularmente prevalente em ambientes de UTI devido às suas exigências únicas, que incluem alta densidade de profissionais, tratamento de pacientes gravemente doentes, sobrecarga de responsabilidades, dilemas de fim de vida e conflitos interpessoais.
A análise incorpora 25 estudos, envolvendo um total de 20.617 profissionais de saúde que trabalham em UTIs para adultos. Os dados revelam uma prevalência preocupante de burnout de alto nível, com 42% dos médicos de UTI e 45% dos enfermeiros de UTI apresentando sintomas. Notavelmente, os enfermeiros de UTI relataram níveis mais elevados de exaustão emocional em comparação com os médicos.
Esses achados não devem ser subestimados. O burnout não é apenas prejudicial aos profissionais de saúde em nível individual, mas também tem implicações sistemáticas que afetam o atendimento ao paciente, a segurança e os custos gerais de saúde. Esta síndrome tem sido associada a sintomas depressivos, maior rotatividade de pessoal, insatisfação profissional e doenças cardíacas.
Diante deste cenário, os autores do estudo reforçam a urgência de implementar intervenções preventivas eficazes, além de promover estratégias que aumentem o bem-estar no ambiente de trabalho. Alcançar um consenso que defina e mensure o burnout é crucial nesse sentido.
Nesse contexto, é indispensável uma abordagem integrada que valorize a saúde e o bem-estar dos médicos e profissionais de saúde. A criação de um sistema de gestão que promova o acompanhamento contínuo, ofereça apoio psicológico e favoreça ambientes de trabalho saudáveis pode ser decisiva na prevenção e tratamento do burnout. Cuidar de quem cuida, pode não só aumentar seu bem-estar, mas também aprimorar a qualidade do atendimento ao paciente e a eficiência das UTIs. Esta é uma preocupação que precisa estar no centro das discussões sobre saúde ocupacional.
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Fonte:
Papazian, L., Hraiech, S., Loundou, A., Herridge, M. S., & Boyer, L. (2023). High-level burnout in physicians and nurses working in adult ICUs: a systematic review and meta-analysis. Intensive Care Medicine, 49(4), 387-400.