Ao longo de sua existência na Terra, a humanidade aprendeu e aprimorou diversas técnicas para aliviar ou curar problemas de saúde em suas comunidades. Um exemplo emblemático disso é o "homem do gelo do neolítico", conhecido como Ötzi, descoberto em 1991 nos Alpes Italianos. O corpo incrivelmente bem preservado, datado de mais de 5300 anos, antecede estruturas históricas significativas como as pirâmides egípcias e Stonehenge. Curiosamente, Ötzi foi encontrado congelado, carregando uma bolsa de couro que continha cogumelos com propriedades antiparasitárias, sugerindo uma tentativa de combater os vermes presentes em seu sistema digestivo, uma das primeiras evidências conhecidas do uso de remédios naturais pelo homem.
No Brasil, os primeiros registros de ervas medicinais remontam aos jesuítas, com destaque para o Padre José de Anchieta, que portava boticas (caixas de madeira com potes contendo ervas medicinais). A troca de saberes entre jesuítas e indígenas evidencia que as ervas medicinais sempre desempenharam um papel crucial no tratamento de várias doenças em diferentes regiões do Brasil, podendo até mesmo contribuir para reduzir as longas filas de espera no sistema de saúde secundário do Sistema Único de Saúde. Portanto, o uso de plantas medicinais está intrinsecamente ligado à cultura brasileira e de seus povos originários. Seu uso, que remonta aos povos mais antigos do Brasil, valoriza a sabedoria popular e a medicina natural, sendo legalmente reconhecida em todo território nacional.
Com a implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), o Ministério da Saúde promoveu a inclusão de terapias alternativas e/ou complementares para os usuários dos sistemas de saúde públicos e privados. Terapias como a homeopatia, a medicina antroposófica, a acupuntura e a fitoterapia passaram a ser opções terapêuticas, que os médicos podem recomendar juntamente com o tratamento convencional, enriquecendo a assistência prestada aos pacientes.
Os medicamentos fitoterápicos são elaborados a partir de extratos de matérias-primas naturais, notadamente plantas, como a alcachofra, aroeira, babosa, cáscara-sagrada, espinheira-santa, guaco, garra-do-diabo e hortelã. No entanto, é importante ressaltar a existência de casos de pacientes que sofreram mal súbito após o uso de fitoterápicos sem o devido acompanhamento médico, o que reforça a necessidade de familiarização dos profissionais de saúde com essas práticas para prevenir interações indesejadas.
Para atingir níveis satisfatórios de saúde e consequentemente melhorar a qualidade de vida, o paciente necessita ser tratado de forma íntegra e igualitária. A qualidade da assistência nos serviços de saúde está intimamente relacionada à forma de abordagem do indivíduo dentro do processo saúde-doença, sendo esta abordagem fundamental para otimizar a assistência prestada e condicionar melhores resultados à saúde e vida humana.
Porém, é necessário destacar que o medicamento fitoterápico deve ser diferenciado de muitas espécies de plantas duvidosas, encontradas no comércio informal, pouco estudadas e conhecidas no que diz respeito a seus efeitos tóxicos ou terapêuticos.
À medida que a demanda de empresas e compradores cresce, é necessário equilibrar o intervalo necessário para as árvores, plantas e o clima produzirem recursos que os humanos podem usar. A produção mais limpa, ou P+L, é definida como uma estratégia técnica contínua, ambiental e econômica integrada a processos, visando aumentar a eficácia no uso de matérias-primas, respeitando o tempo da natureza, economizando para fabricantes e o comprador final. Esta ferramenta pode ser usada em qualquer setor de produção em prol da gestão ambiental, evitando desperdício, criando aproveitamento e minimizando danos à natureza.
A fitoterapia é um elemento fundamental da cultura de muitas comunidades, um conhecimento que tem sido utilizado e passado adiante ao longo de várias gerações. No entanto, esses aspectos muitas vezes não são devidamente levados em conta por gestores de saúde locais e profissionais do campo ao implementarem o uso de fitoterápicos em programas de Atenção Primária à Saúde. Portanto, em vez de proporcionar conforto e suporte, podemos acabar impondo tratamentos que possam gerar barreiras de comunicação e empatia entre os profissionais de saúde e seus pacientes.
AUTORA: Enfª Kamila Da Costa Benchimol
@kamila_benchimol , Ulbra, Enfermagem
CO-AUTORA:Lilian Galligani
@liligalligani , especialista em Auditoria em Saúde.
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Referências:
- Lorenzi H, Matos FJA. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum; 2018.
- Alves DL, Silva CR. Fitohormônios: abordagem natural da terapia hormonal. São Paulo: Atheneu; 2020.
- Martins ER, Castro DM, Castellani DC, Dias JE. Plantas medicinais. Viçosa: Ed. UFV; 2000.
- Guérios, Aureo Lustosa. “Por que doença? Hipócrates e sua teoria equilibrada”, Academia Médica, acessado em 08 de Julho de 2023. Disponível em: https://academiamedica.com.br/blog/por-que-doenca-hipocrates-e-sua-teoria-equilibrada
- Galligani,Lilian. Revisão Da importância Da Farmácia Clinica. In: III Congresso Brasileiro de Saúde On-line - CONBRASAU, Instituto Multiprofissional de Ensino, Fortaleza, 2022.