O estudo recentemente publicado por Wu J, Olsson T, Hillert J, e colaboradores no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry, edição de agosto de 2023, adiciona novos insights ao nosso entendimento sobre o papel do tabagismo e do uso de tabaco oral na progressão da Esclerose Múltipla (EM), uma doença imunomediada do sistema nervoso central. Este trabalho distingue claramente entre tabagismo, a inalação de fumaça de tabaco, e o uso de tabaco oral, ou rapé, um produto de tabaco sem fumaça consumido por via oral, destacando que esses dois modos de consumo podem ter impactos diferentes sobre a progressão da EM.
O resultado da pesquisa, indica que os indivíduos fumantes exibem pontuações mais altas na Escala Expandida do Estado de Incapacidade (EDSS) e no Índice de Gravidade da Esclerose Múltipla (MSSS) quando comparado aos não fumantes. Além disso, possuem maior risco de atingir marcos de incapacidade, maior atividade de doença identificada por ressonância magnética (RM), e maior atrofia cerebral. Associou-se ainda o tabagismo a sintomas como fadiga, depressão, e a uma reduzida qualidade de vida em pacientes com EM.
Os pesquisadores examinaram um total de 9089 pacientes com EM, monitorados através do registro sueco de EM. Investigaram o impacto do tabagismo, da exposição ao fumo passivo e do uso de rapé. As descobertas reforçam a importância da cessação do tabagismo após o diagnóstico como uma medida preventiva secundária importante na EM.
Notavelmente, os pacientes que pararam de fumar após o diagnóstico não mostraram diferenças significativas nos desfechos da doença em comparação aos não fumantes no início do estudo. Isto sugere que os efeitos prejudiciais do tabagismo na evolução da EM podem ser atenuados pela cessação do tabagismo.
Além disso, o uso de rapé não foi associado a uma maior atividade da doença ou a sua progressão, sugerindo que a terapia de reposição de nicotina pode ser uma maneira segura de aumentar a chance de deixar de fumar entre os pacientes com EM.
O estudo apresenta uma hipótese baseada em evidências experimentais, que sugere que a irritação pulmonar inespecífica, e não a nicotina em si, é o fator nocivo no tabaco fumado, devido à proteção associada ao uso de rapé. Isso indica que elementos além da nicotina no tabaco fumado podem estar contribuindo para a progressão da EM, possivelmente por meio da indução de uma resposta inflamatória de longo prazo, a supressão imunológica, a alteração do equilíbrio de citocinas e modificações epigenéticas.
Em conclusão ao estudo, o tabagismo atual e a exposição ao fumo passivo são fatores negativos para a progressão da doença em pacientes com EM. A descoberta de que o uso de rapé não está associado a uma pior progressão da doença sugere que a terapia de reposição de nicotina poderia ser uma maneira atraente de aumentar a chance de cessar o tabagismo após o diagnóstico. Dada a importância de abandonar o tabagismo, torna-se crucial investir esforços para compreender mais a fundo as dificuldades enfrentadas pelos pacientes com EM na tentativa de deixar o cigarro, e assim, poder oferecer um suporte mais eficaz para esses indivíduos no processo de cessação do tabagismo.
Caso tenha despertado interesse por mais informações detalhadas acerca deste tópico, o link para acesso completo ao estudo está disponibilizado aqui.😉
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Referência:
Wu J, Olsson T, Hillert J, et alInfluence of oral tobacco versus smoking on multiple sclerosis disease activity and progressionJournal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry 2023;94:589-596.