O estudo intitulado "SARS-CoV-2 infection and venous thromboembolism after surgery: an international prospective cohort study" teve como objetivo determinar a taxa de tromboembolismo venoso (TEV) em pacientes com infecção por SARS-CoV-2, estratificada por infecção atual ou prévia. O artigo foi publicado em 24 de agosto de 2021, na revista Anaesthesia.
Uma vez que os pacientes cirúrgicos já apresentam maior risco de tromboembolismo venoso do que as populações em geral, este estudo teve como objetivo determinar se os pacientes com SARS-CoV-2 logo antes da cirurgia ou que haviam sido infectados previamente apresentavam risco ainda maior de tromboembolismo venoso.
Por meio da análise de um estudo de coorte prospectivo multicêntrico internacional de pacientes submetidos à cirurgia eletiva ou de emergência em outubro de 2020, foram incluídos no estudo 128.013 pacientes, de 1.630 hospitais em 115 países. Destes, 59.182 (46,2%) eram homens; 94.022 (73,5%) apresentavam estado físico ASA (escala da Sociedade Americana de Anestesiologistas) 1-2 e 20.433 (16,0%) eram fumantes. O número total de pacientes com diagnóstico de infecção por SARS-CoV-2 foi 4.418 (3,5%). O momento do diagnóstico da SARS-CoV-2 em relação ao dia da cirurgia foi classificado em: perioperatório (7 dias antes a 30 dias após a cirurgia) para 2.317 pacientes (1,8%); recente (1–6 semanas antes da cirurgia) para 953 pacientes (0,7%); e anterior (≥7 semanas antes da cirurgia) para 1148 pacientes (0,9%).
A pneumonia pós-operatória foi escolhida como a variável de melhor ajuste para representar a infecção mais grave por SARS-CoV-2. Proporcionalmente, a pneumonia ocorreu com mais frequência em pacientes com SARS-CoV-2 perioperatório (497 pacientes, 21,5%), seguida por pacientes recentes com SARS-CoV-2 (73, 7,7%). Pacientes com SARS-CoV-2 anterior (19, 1,7%) e nenhum diagnóstico de SARS-CoV-2 (2083, 1,7%) tiveram o mesmo risco de pneumonia pós-operatória. Em comparação com os pacientes que não tinham infecção por SARS-CoV-2, os pacientes com SARS-CoV-2 perioperatório eram mais velhos (28,2% vs. 21,3%, p <0,001), estado físico ASA 3-5 (39,6% vs. 26,2%, p <0,001), foram submetidos a cirurgia de emergência com mais frequência (58,4% vs. 29,5%, p <0,001) e apresentavam mais comorbidades. Essa tendência também esteve presente ao comparar pacientes sem SARS-CoV-2 e aqueles com infecção recente e prévia.
No geral, o tromboembolismo venoso foi independentemente associado à mortalidade em 30 dias (5,4 (IC 95% 4,3–6,7)). Em pacientes com SARS-CoV-2, a mortalidade sem tromboembolismo venoso foi de 7,4% (319/4342) e com tromboembolismo venoso foi de 40,8% (31/76). Pacientes submetidos à cirurgia com infecção por SARS-CoV-2 recente ou perioperatória parecem ter maior risco de tromboembolismo venoso pós-operatório em comparação com pacientes sem histórico de infecção por SARS-CoV-2.
Os autores sugerem, para tanto, aderência à profilaxia padrão de TEV de rotina para pacientes cirúrgicos, incluindo o uso de agentes farmacológicos quando o risco de sangramento é mínimo e vigilância aumentada com um índice elevado de suspeita e um limiar mais baixo para testes diagnósticos definitivos em pacientes que apresentam sinais de TEV. Os cuidados pós-operatórios de rotina de pacientes cirúrgicos devem incluir intervenções para reduzir o risco de TEV em geral, e os autores concluem que mais pesquisas são necessárias para definir os protocolos ideais para profilaxia de TEV e tratamento para pacientes cirúrgicos no contexto de infecção por SARS-CoV-2.
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Referências:
COVIDSurg Collaborative; GlobalSurg Collaborative. SARS-CoV-2 infection and venous thromboembolism after surgery: an international prospective cohort study. Anaesthesia. 2021 Aug 24. doi: 10.1111/anae.15563.
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