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Já passou da hora de pararmos de usar remédios ineficazes contra a COVID-19

Já passou da hora de pararmos de usar remédios ineficazes contra a COVID-19
Caroline Ahrens Ortolan
ago. 29 - 5 min de leitura
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A Medicina Baseada em Evidências traz como princípio a utilização da melhor evidência atualmente disponível sobre segurança e eficácia para a tomada de decisões sobre as escolhas de tratamento para os pacientes. Sabemos que durante a pandemia de COVID-19 houve uma corrida desenfreada pela publicação de estudos acerca de possíveis tratamentos para a doença.

No entanto, muitos estudos foram mal conduzidos, restritos a poucos pacientes e, muitas vezes, enviesados. Desta forma, as evidências iniciais da eficácia de alguns tratamentos já foram reprovadas pela comunidade científica nos últimos anos, embora algumas medicações continuem a ser utilizadas pelos pacientes e, infelizmente, ainda prescritas por muitos médicos.

Neste sentido, um artigo publicado no NEJM em 18 de agosto de 2022 trouxe os resultados de um ensaio clínico de fase III (COVID-OUT) randomizado, duplo-cego e controlado por placebo para testar a eficácia dos medicamentos metformina, ivermectina e fluvoxamina na prevenção da progressão para a doença grave de COVID-19.

No presente estudo, os pesquisadores usaram um desenho fatorial de dois por três para testar os medicamentos. Eles recrutaram todos os pacientes do teste remotamente até 28 de janeiro de 2022, que receberam os fármacos. A coorte do estudo compreendeu adultos de 30 a 85 anos, com sobrepeso ou obesos (que já compunham grupo de risco para COVID-19 grave), inscritos no estudo dentro de três dias após o diagnóstico confirmado de COVID-19.

Os pesquisadores administraram o(s) medicamento(s) de teste dentro de sete dias após o início dos sintomas da doença. Todas as análises do estudo usaram controles, ajustados para vacinação contra SARS-CoV-2 e outros medicamentos. Cada paciente teve uma probabilidade igual de atribuição a qualquer um dos seis grupos de teste, recebendo as drogas nas seguintes combinações:

  1. Grupo 1, metformina e fluvoxamina;
  2. Grupo 2, metformina e ivermectina;
  3. Grupo 3, metformina e placebo;
  4. Grupo 4, placebo e fluvoxamina;
  5. Grupo 5, placebo e ivermectina; e
  6. Grupo 6, placebo e placebo.


O desfecho primário do estudo foi COVID-19 grave, definido como um complexo de hipoxemia, visita ao departamento de emergência (ED), hospitalização ou óbito. O acompanhamento para o desfecho primário terminou em 14 de fevereiro de 2022. Os desfechos secundários foram gravidade dos sintomas, pontuação cumulativa alterada dos sintomas e descontinuação do medicamento. 

Havia 1.323 pacientes na análise do estudo primário, com idade média de 46 anos. Destes, 56% eram do sexo feminino (6% estavam grávidas no momento do diagnóstico) e 52% estavam vacinados. O odds ratio ajustado (ORs) para metformina, ivermectina e fluvoxamina para um evento primário foi de 0,84, 1,05 e 0,94, todos com intervalos de confiança de 95% (ICs), respectivamente. Além disso, os ORs ajustados para visita ao departamento de emergência, hospitalização ou morte para análises secundárias foram 0,58 com metformina, 1,39 com ivermectina e 1,17 com fluvoxamina. As OR ajustadas para hospitalização ou óbito foram 0,47 com metformina, 0,73 com ivermectina e 1,11 com fluvoxamina.

Os pesquisadores concluíram, então, que nenhum dos três medicamentos impediu a progressão para hipoxemia, visita ao pronto-socorro, hospitalização ou morte em adultos ambulatoriais com COVID-19. Um ponto fraco do estudo, no entanto, foi o fato de a população avaliada ser de pacientes com sobrepeso ou obesidade. Embora nos Estados Unidos essa população seja representativa de boa parte dos habitantes, estudos que abarquem outras idades e comorbidades ou a ausência destas são importantes.

Por fim, destaca-se que a prescrição de medicamentos que são conhecidos por serem ineficazes não é uma opção neutra ou inofensiva, como muitos costumam propagar. Além de negar aos pacientes o tratamento adequado (que, no caso da COVID-19, já existe), essa prescrição pode levar a efeitos colaterais sem qualquer benefício terapêutico e à escassez de medicamentos para pacientes que precisam de medicamentos para outras condições. Assim, nos resta a dúvida: até quando iremos aceitar que colegas prescrevam medicações comprovadamente ineficazes?

 

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Referências:

Carolyn T. Bramante, Jared D. Huling, Christopher J. Tignanelli, John B. Buse, David M. Liebovitz, Jacinda M. Nicklas, Kenneth Cohen, Michael A. Puskarich, Hrishikesh K. Belani, Jennifer L. Proper, Lianne K. Siegel, Nichole R. Klatt. Randomized Trial of Metformin, Ivermectin, and Fluvoxamine for Covid-19. N Engl J Meddoi: 10.1056/NEJMoa2201662 Disponível em https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2201662?query=featured_home

 



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