Sabe-se que a infecção pelo vírus Sars-CoV-2 durante a gravidez aumenta os riscos de complicações, incluindo internação hospitalar e morte de gestantes, bem como restrição de crescimento fetal, parto prematuro, hemorragia pós-parto e nascimento de fetos natimortos. Embora a imunização contra a COVID-19 durante a gravidez tenha demonstrado eficácia, preocupações relativas à segurança da vacina durante a gestação continuam sendo um obstáculo para melhorar a cobertura entre o público-alvo.
Agora, um novo estudo canadense publicado no The BMJ em 17 de agosto de 2022 demonstra que a vacinação contra a COVID-19 durante a gestação não está associada a um risco maior de eventos como partos prematuros e de bebês natimortos. Os autores dizem que a descoberta pode ajudar na tomada de decisão baseada em evidências sobre os riscos e benefícios da vacinação contra COVID-19 durante gravidez.
Os pesquisadores utilizaram como base de dados um registro de nascimento populacional para identificar todos os nascidos vivos e natimortos com idade gestacional de pelo menos 20 semanas ou peso ao nascer de pelo menos 500g em Ontário, no Canadá, entre 1º de maio e 31 de dezembro de 2021. Tais informações foram então vinculadas ao banco de dados que incluiu todas as imunizações contra a COVID-19 no local.
Diversos fatores foram levados em consideração, como idade da mãe no momento do parto, índice de massa corporal pré-gestacional, relato de tabagismo ou uso de substâncias durante a gravidez, comorbidades pré-existentes, número de nascidos vivos anteriores, área de residência e renda.
Dos 85.162 partos, 43.099 ocorreram em pacientes que haviam recebido uma dose ou mais de uma vacina contra a COVID-19 durante a gravidez, sendo que 42.979 (99,7%) receberam uma vacina de mRNA (Pfizer-BioNTech ou Moderna).
Os autores observaram que a vacinação durante a gravidez não foi associada a nenhum risco aumentado de parto prematuro geral (6,5% entre vacinadas em comparação com 6,9% entre não vacinadas), parto prematuro espontâneo (3,7% versus 4,4%) ou parto prematuro extremo (0,59% vs 0,89%). Além disso, eles não encontraram aumento significativo no risco de nascimento de bebê pequeno para a idade gestacional ao nascer (9,1% v 9,2%) ou natimorto (0,25% v 0,44%).
Por fim - independentemente de trimestre da gravidez em que a vacina foi administrada, número de doses recebidas durante a gravidez ou marca da vacina aplicada - os riscos foram semelhantes entre os grupos.
O artigo reitera que o estudo é observacional e não pode, portanto, estabelecer causa. Os pesquisadores apontam algumas limitações, como o fato de não conseguirem avaliar a vacinação contra COVID-19 antes da gravidez ou na época da concepção e estar limitado à avaliação de produtos de vacina de mRNA, que representaram a maioria absoluta no local.
No entanto, os resultados permaneceram inalterados em análises de sensibilidade adicionais projetadas para avaliar o impacto de diferentes abordagens metodológicas, sugerindo que elas provavelmente são robustas.
Referência:
Fell DB, Dimanlig-Cruz S, Regan AK, Håberg SE, Gravel CA, Oakley L, Alton GD, Török E, Dhinsa T, Shah PS, Wilson K, Sprague AE, El-Chaâr D, Walker MC, Barrett J, Okun N, Buchan SA, Kwong JC, Wilson SE, Dunn SI, MacDonald SE, Dougan SD. Risk of preterm birth, small for gestational age at birth, and stillbirth after covid-19 vaccination during pregnancy: population based retrospective cohort study. BMJ. 2022 Aug 17;378:e071416. doi: 10.1136/bmj-2022-071416. PMID: 35977737; PMCID: PMC9382031. Disponível em https://www.bmj.com/content/378/bmj-2022-071416
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