O metaverso é um conceito criado há duas décadas, mas somente em 2021 que atingiu o vocabulário popular e já é considerado a próxima ou até mesmo a última versão da internet. Atualmente, conectamos o metaverso como parte da tecnologia digital e os jogos digitais são utilizados como uma ponte para o seu desenvolvimento de conteúdo e tráfego. Foi em 28 de outubro de 2021 que Mark Zuckemberg anunciou a mudança de nome do Facebook para Meta, alinhando o modelo de negócio com a tecnologia. Em menos de um ano, já impacta claramente o jornalismo, a tradicional indústria de varejo, a arte e a forma de realizar reuniões.
O espectro de doenças prevalentes na sociedade também mudou. Doenças crônicas como câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), diabetes, asma, doença cardiovascular, entre outras, tem ganhado um panorama mais visível no cuidado da saúde, focada na melhora da qualidade de vida desses pacientes e redução das complicações das doenças. Diversos problemas desafiam os atuais modelos de saúde. O surgimento do metaverso pode trazer novas direções para o setor da saúde. Com a popularização de terminais inteligentes (ainda não comuns no Brasil), a liberação do 5G, blockchain (e suas possibilidades) e a maturidade da realidade virtual (RV) e da realidade aumentada (RA), o mundo virtual e o mundo natural estão cada vez mais integrados. Não utilizei o termo “mundo real” ainda, no qual explico logo o motivo.
O desenvolvimento do metaverso médico (meta-medicine, med-metaverso ou medical metaverse) obedece a alguns estágios:
1 – Construção holográfica: aqui se constrói o modelo geométrico de todo o mundo virtual, como hospitais e equipamentos médicos. Há ainda a construção e análise dos eventos (dinâmica dos dados das cenas e pessoas), cenas (uma sala cirúrgica equipada, por exemplo) e pessoas (paciente e equipe multiprofissional, por exemplo).
2 – Simulação holográfica: a dinâmica do processo do metaverso médico será construído para fazer com que a interação dos mundos virtual e natural seja infinita. Avaliações em tempo real, com alto volume de dados cada vez mais acurados e com altos níveis de interação, serão cada vez mais comuns para a ajuda na tomada de decisão clínica.
3 – Fusão dos mundos: aqui inicia a jornada do conceito de mundo virtual e natural se transformando em mundo real, com o avanço da tecnologia.
4 – Mundo real: novos métodos, processos e equipamentos surgem, como os wearables e insideables. A discussão do que é real desaparece e o metaverso faz parte do dia a dia, como acontece em uma ida a um hospital atualmente.
O metaverso médico terá 3 principais características que a distinguirá da medicina tradicional:
A – Interação de todas as coisas – médicos e paciente podem acessar o metaverso médico de diversos tipos de dispositivos, em tempo real e integrado entre os 2 universos.
B – Integração do virtual e real.
C – Descentralização – autenticação de direitos, distribuição, mercado, uso, liquidez e autenticação de identidades virtuais de forma inteligente, rápida e desburocratizada pela blockchain.
Os usuários (profissionais de saúde, pacientes e familiares), a tecnologia e a informação (dado em saúde) compõem as três dimensões do metaverso médico. A rede 5G e a Internet das Coisas servem de pilares de sustentação para isso acontecer. Por exemplo, pesquisas sobre internet das coisas médicas já acumula uma quantidade grande de experiência clínica na China e, até mesmo, a IA tem facilitado diagnósticos precoces de câncer, manejo de DPOC, asma e outras doenças crônicas, bem como pneumonias. A computação em nuvem tem uma fundação sólida para o processamento de dados em alto nível.
A mais notável característica do metaverso é a fusão espaço-tempo dos dois mundos, que é diferente do modelo médico digital atual. Dispositivos com IoT, como tecnologia de realidade estendida (XR) e interfaces cérebro-computador (BCI), permitem a comunicação entre usuários e informações entre espaços virtuais e naturais. O XR integra várias tecnologias, como realidade virtual (RV), realidade aumentada (AR) e realidade mista (RM). Quando o ambiente médico virtual estiver infinitamente próximo do ambiente médico natural e atingir o nível de construção e simulação holográfica, a RV poderá fornecer aos pacientes e médicos uma experiência médica totalmente imersiva.
Um ambiente virtual imersivo irá produzir novos tratamentos para algumas doenças psicológicas. O ambiente de RV pode alterar problemas psicológicos como depressão, ansiedade, cognição e até funções sociais. Além disso, há evidências empíricas de tratamentos baseados em RV para doenças mentais como demência, comprometimento cognitivo leve (CCL), esquizofrenia e autismo. Já existe uma plataforma móvel de RV que visa criar um metaverso de terapia comportamental. Um mundo virtual ensina habilidades sociais, comportamentais, de comunicação e de vida para indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH, ansiedade e outras condições neurodiversas.
Os avanços na tecnologia de realidade virtual (RV) oferecem novas oportunidades para projetar suportes para os comportamentos centrais associados ao TEA que promovem o progresso em direção a resultados ideais. Há também um grande potencial para a educação médica. A tecnologia AR baseia-se em algoritmos de reconhecimento e rastreamento para identificar objetos e ambientes objetivos, ajuda a sobrepor informações virtuais no mundo real para obter integração virtual e real e aprimora e melhora a eficiência de nossa cognição das coisas. Médicos, especialmente cirurgiões, podem usar auxílios de visualização de realidade aumentada para explicar fenômenos médicos complexos aos pacientes por meio de imagens 3D.
Em termos de produção de conteúdo, a formação do ecossistema da informação do metaverso dependerá de um mecanismo eficiente de gestão da produção de conteúdo. Por meio do treinamento em algoritmos dos pacientes, a IA pode criar informações de ameaças de doenças em tempo real de acordo com o desenvolvimento do curso da doença do paciente e fornecer feedback oportuno sobre as informações de diagnóstico e tratamento do médico. Isso melhorará drasticamente a eficiência técnica da produção de conteúdo e manterá o ecossistema da informação com alta qualidade. A informação é o recurso central virtual do ambiente metamédico e as redes sociais, a internet e a Internet das Coisas são as principais mídias provedoras de informação. O mundo físico e o mundo humano estão conectados através de redes sociais.
O surgimento do metaverso traz infinitas possibilidades para a saúde e promoverá o desenvolvimento da medicina digital ou de precisão. A base tecnológica para realizar o metaverso é o avanço das tecnologias digitais, como dados 5G, geminação digital, IA, RV e tecnologia blockchain. Conhecimentos e dados médicos complexos serão apresentados de forma intuitiva. Colaboração médica de alto custo, experimentos, ensino e outras atividades serão conduzidas remotamente por meio de avatares digitais em um ambiente imersivo. Pacientes e médicos usarão "avatares digitais" para produzir, adaptar e trocar informações no metaverso e, finalmente, alcançar o reino da integração dos mundos.
No entanto, o desenvolvimento contínuo da tecnologia digital também traz inevitavelmente alguns perigos ocultos. A área médica é diferente de outras áreas e tem uma ética e regras únicas. A questão que ainda vale a pena explorar é como compreender os limites da metamedicina, proteger a privacidade e as informações pessoais dos pacientes e formular regras e regulamentos razoáveis para sistemas de gestão.
Texto baseado nos artigos:
What Is Digital Health and What Do I Need to Know About It?
Reliable Internet of Things: Challenges and Future Trends
The metaverse in current digital medicine
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