O diabetes, além de ser fator de risco para doenças cardiovasculares, também é um forte fator de risco para demência - uma vez que a doença praticamente dobra o valor do risco(1). Apesar da conexão entre o diabetes e demência ser bem conhecida, há dúvidas sobre como essa relação se estende até o comprometimento cognitivo(1).
A inflamação causada pelo diabetes é vista como a principal razão de conexão entre as doenças consequentes do diabetes, como demência e doenças cardiovasculares(1). Além disso, o alto nível glicêmico pode ser a conexão entre diabetes e doença cardiovascular no risco de comprometimento da cognição e desenvolvimento de demência.
Um estudo de coorte de 12 anos de acompanhamento de uma população idosa na Suíça(1), pesquisou o impacto do diabetes no desenvolvimento de comprometimento cognitivo e na progressão para demência. Na pesquisa foram analisados o nível de glicemia, as comorbidades cardiovasculares e a elevada inflamação sistêmica dessas associações.
Na coorte encontraram que, apesar de o diabetes não estar relacionado com o aumento significativo do risco de comprometimento cognitivo-sem demência (CCSD) ou demência, o pouco controle do diabetes (HbA1c ≥ 7,5%) está associado ao dobro do risco de CCSD e ao triplo do risco de CCSD progredindo para demência. O diabetes também foi associado a resultados cognitivos adversos quando combinado com comorbidades como doença cardiovascular e inflamação sistêmica(1).
A pesquisa destaca que a inflamação sistêmica modifica a associação diabetes-demência, de modo que pessoas com diabetes e níveis elevados do marcador inflamatório PCR têm um risco três vezes maior de progressão de CIND para demência, enquanto aqueles com PCR normal não têm risco aumentado(1). Esses resultados reforçam a hipótese de que o impacto adverso do diabetes na saúde cognitiva é modificado por mecanismos inflamatórios(1).
O achado de que o diabetes está relacionado ao comprometimento da cognição quando a glicemia não está controlada, sugere ser o grau de hiperglicemia, e não o próprio diabetes, que afeta negativamente a saúde cognitiva(1).
Possibilidade de prevenção
O uso de Semaglutida, usado para tratar diabetes, está sendo estudado como prevenção da progressão do comprometimento cognitivo para demência(2). Os participantes farão periodicamente um PET-Scan de cabeça para verificar os níveis de proteína amilóide em seus cérebros. Segundo os cientistas, níveis mais altos dessa proteína estão ligados a um aumento no risco futuro de demência. Essas varreduras também verificarão a proteína tau, que se acredita danificar os nervos, e estimar os níveis de inflamação no cérebro.
Os 88 voluntários que vivem atualmente sem demência serão testados no estágio "pré-clínico" da demência. Ou seja, o período de 10 a 20 anos durante o qual a condição se desenvolve, mas as pessoas não apresentam sintomas, é uma janela oportunidade de interferir no processo da doença e retardar ou mesmo prevenir a demência(2).
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Referências
Dove, A, Shang, Y, Xu, W, et al. The impact of diabetes on cognitive impairment and its progression to dementia. Alzheimer's Dement. 2021; 17: 1769– 1778. https://doi.org/10.1002/alz.12482
Univerty of Oxford,New clinical trial to test drug for diabetes in reducing risk of alzheimer's dementia, Out 2021, Disponível em https://medicalxpress.com/news/2021-12-clinical-trial-drug-diabetes-alzheimer.html