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O que é o sobrediagnóstico e por que ele virou um descritor MeSH oficial?

O que é o sobrediagnóstico e por que ele virou um descritor MeSH oficial?
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nov. 26 - 5 min de leitura
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Segundo o professor John Brodersen da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Copenhague o Sobrediagnóstico é definido como:

Refere-se à identificação de anormalidades que: (I) nunca causariam danos; (II) anormalidades que não progridem, ou que progridem muito lentamente para causar sintomas ou danos durante a vida restante de uma pessoa, e (III) anormalidades que se resolvem espontaneamente.

Em termos gerais, o sobrediagnóstico significa tornar as pessoas em pacientes de maneira desnecessária, identificando problemas que nunca causariam danos ou medicalizando experiências de vida comuns por meio de definições ampliadas de doenças.

O sobrediagnóstico tem duas causas principais: a sobredetecção e a sobredefinição da doença. Embora as formas de sobrediagnóstico sejam diferentes, as consequências são as mesmas: diagnósticos que, em última análise, causam mais danos do que benefícios.

Por exemplo, a angiotomografia de alta resolução pode identificar pequenos êmbolos pulmonares subsegmentares que podem não precisar de nenhum tratamento e somente geram angústia e despesas às pessoas que serão enquadradas como pacientes desnecessariamente.

 

E quais são as situações que não se enquadram como sobrediagnóstico?

1. O sobrediagnóstico não é um resultado falso-positivo

Falsos positivos são anormalidades que acabam não sendo doenças após uma investigação mais aprofundada. No sobrediagnóstico, a anormalidade atende aos critérios atualmente aceitos para doença patológica (por exemplo, critérios microscópicos para câncer), mas a doença detectada não está destinada a causar sintomas ou morte.

2. O sobrediagnóstico não é sinônimo de tratamento excessivo, seja ele desnecessário ou excessivamente agressivo

O sobrediagnóstico geralmente leva a um tratamento excessivo, mas nem sempre. Além disso, o tratamento excessivo pode ocorrer sem um sobrediagnóstico. O tratamento excessivo ocorre quando as melhores evidências científicas demonstram que um tratamento não traz nenhum benefício para a condição diagnosticada.

3. O sobrediagnóstico também não é sinônimo de realização de exames de maneira excessiva

A realização de exames complementares de maneira excessiva (Overtesting) pode, mas nem sempre, aumentar o risco de sobrediagnóstico, mas o risco aumenta proporcionalmente com o grau de uso excessivo.

4. O sobrediagnóstico não é um diagnóstico errado, mas às vezes essa distinção é difícil

Uma situação em que há um erro claro de diagnóstico não é difícil de diferenciar do sobrediagnóstico. Por exemplo, um menino que não consegue se concentrar na aula e exibe um comportamento perturbador pode ser considerado como tendo TDAH. No entanto, ele acabou tendo o diagnóstico de dislexia e não TDAH. Situações onde as patologias podem acabar não evoluindo para doença fatal, ou que se resolveriam espontaneamente podem levar aos sobrediagnósticos com ou sem tratamentos excessivos.

 

E por que o termo sobrediagnóstico ter se tornado um descritor MeSH é um assunto importante?

No cerne do avanço em qualquer campo científico, incluindo o estudo do sobrediagnóstico de doenças, está a capacidade de desenvolver a base de conhecimento existente. Isso exige ferramentas que facilitem a avaliação sistemática desse conhecimento. A taxonomia MeSH foi desenvolvida como uma ferramenta chave para atender a essa necessidade de padronização para avanço da pesquisa científica.

O descritor melhora a sensibilidade da pesquisa dos artigos, fornecendo uma maneira consistente de encontrar conteúdo conceitualmente semelhante que pode aparecer sob muitos sinônimos (por exemplo, "infarto do miocárdio" (o termo MeSH) vs "ataque cardíaco", "MI", "infarto coronário"). Ele também melhora a especificidade da pesquisa, eliminando resultados falsos positivos. Por exemplo, uma pesquisa de texto completo em busca de artigos sobre “sobrediagnóstico” retornaria um artigo que não necessariamente trata sobre sobrediagnóstico caso o artigo incluísse uma frase como “este artigo não discute sobrediagnóstico” - imagine o trabalho de pesquisar esses termos para uma revisão sistemática.

E qual a definição do sobrediagnóstico no MeSH?

O sobrediagnóstico é definido pela US National Library of Medicine, como:

“A rotulagem de uma pessoa com uma doença ou condição anormal que não teria causado dano à pessoa se não fosse descoberta, criando novos diagnósticos ao medicalizar experiências de vida comuns ou expandindo os diagnósticos existentes, reduzindo os limiares de diagnóstico ou ampliando esses critérios sem evidência de melhores resultados. Os indivíduos não obtêm nenhum benefício clínico do sobrediagnóstico, embora possam sofrer danos físicos, psicológicos ou financeiros. ”

Essa definição oficial é muito bem vinda ao potencializar os estudos científicos do sobrediagnóstico. Com isso todos nós ganhamos, mas principalmente os pacientes que mais são acometidos por essa prática.

 

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Referências

1‌. Brodersen, J., Schwartz, L. M., Heneghan, C., O’Sullivan, J. W., Aronson, J. K., & Woloshin, S. (2018). Overdiagnosis: what it is and what it isn’t.

2. Woloshin S, Kramer B. Overdiagnosis: it’s official. BMJ [Internet]. 2021 Nov 19 [cited 2021 Nov 23];n2854. Available from: https://www.bmj.com/content/375/bmj.n2854 ‌

Conteúdo traduzido e adaptado por Diego Arthur Castro Cabral


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