Em média, 5 a 8% das crianças recém-nascidas são expostas a inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRs) durante a gravidez devido ao tratamento de doenças como: depressão maior, ansiedade, distúrbios alimentares e outras enfermidades psicogênicas comuns durante a gestação na mãe. Estes recém-nascidos apresentam taxas marcadamente altas de sintomas de abstinência do medicamento. Essas descobertas foram feitas por neurocientistas e publicadas em um artigo na revista Frontiers in Neuroscience no dia 3 de março de 2022.
Além disso, sabe-se que o transportador de serotonina desempenha papéis ontogenéticos cruciais durante o desenvolvimento do cérebro fetal, incluindo a orientação da migração neuronal e o crescimento de redes neuronais. Inclusive, há estudos que apontam que filhotes de roedores expostos a ISRs no útero exibiram microestruturas e funções corticais e subcorticais distorcidas.
Para estudar a função cerebral do recém-nascido, a única maneira viável disponível é por intermédio do eletroencefalografia do couro cabeludo (EEG) por meio da medida da atividade da população neuronal. Com o EEG é possível medir os efeitos do ISRs e traduzir esse dado diretamente entre bebês humanos e modelos animais experimentais, tanto in vivo quanto in vitro, facilitando a pesquisa em relação a essa substância no neurodesenvolvimento.
Ainda, para estudar a atividade cortical utiliza-se 2 parâmetros: a estimativa a partir da reconstrução do EEG e análise de correlações fase-fase (PPC) para interações córtico-corticais remotas e acoplamento fase-amplitude (PAC) para interações locais. Considera-se que o PPC suporta comunicações em larga escala com alta precisão temporal e é sensível a várias adversidades, incluindo exposição a drogas. O PAC é tomado como uma medida de interação de frequência cruzada encontrada na maioria das funções e estruturas cerebrais.
Como resultado do estudo, os cientistas encontraram que o ISRs afeta a função neuronal nas redes corticais locais medidas pelo PAC, em vez das redes córtico-corticais de longo alcance medidas pelo PPC. Assim, a exposição pré-natal ao ISRs na prole humana pode causar efeitos seletivos na atividade da rede cortical que se liga ainda mais aos resultados do neurodesenvolvimento.
Os pesquisadores concluíram que as exposições ao ISRs podem causar mudanças sutis, mas mensuráveis, na estrutura e função do cérebro, mesmo que essas drogas sejam consideradas seguras em relação às principais sequelas teratogênicas.
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Referência
- TOKARIEV, Anton et al. Cortical Cross-Frequency Coupling Is Affected by in utero Exposure to Antidepressant Medication. Frontiers In Neuroscience, [S.L.], v. 16, 3 mar. 2022. Frontiers Media SA. http://dx.doi.org/10.3389/fnins.2022.803708. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnins.2022.803708/full. Acesso em: 02 maio 2022.