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Você sabia que a tristeza pode se tornar patológica?

Você sabia que a tristeza pode se tornar patológica?
Natália Hoppen
set. 10 - 7 min de leitura
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Você já assistiu o filme “Divertida Mente”?

Esse filme, apesar de ser uma animação, pode nos trazer algumas reflexões, pois mostra que existem cinco "trabalhadores" que comandam os nossos sentimentos: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho.

A personagem principal constrói a sua personalidade conforme vai crescendo, e, na animação, a personalidade dela é demonstrada por meio de ilhas (família, amizade, esporte...). Durante o filme, ocorre uma confusão e a Tristeza e a Alegria saem juntas, na mente da personagem, para resolvê-la. Com isso, a Raiva, Medo e Nojinho assumem o controle. A personagem principal começa demonstrar sentimentos importantes, mas que fazem com que as ilhas sejam destruídas e ela passa a não sentir mais nada.

O que isso tem a ver com o assunto? Tudo.

Note que a Tristeza e a Alegria tornam-se muito importantes para evoluirmos. A nossa vida não é feita, apenas, de momentos felizes. A tristeza faz parte das nossas vidas e podemos aprender e evoluir com ela. Entretanto, reflita também que, quando o comando é assumido pela Raiva, Medo e Nojinho, a personagem começa a demonstrar alguns sentimentos importantes e que chamam a nossa atenção: há a diminuição do interesse, irritabilidade exacerbada, acessos de raiva e perda de prazer nas coisas que, antes, eram divertidas.

As ilhas, na animação, podem ser comparadas aos nossos neurotransmissores. A fisiopatologia da depressão é baseada em várias teorias. A principal gira em torno dos sistemas monoaminérgicos que são compostos por neurônios com noreprinefrina (NE), serotonina (5-HT) e a dopamina (DA). No cérebro depressivo, os neurotransmissores não conseguem se propagar o que gera uma falha na comunicação entre eles.

Esses neurotransmissores, junto com a acetilcolina, modulam algumas atividades corticais e subcorticais e também regulam a atividade psicomotora, o apetite, o sono e o humor. Ainda não se sabe o porquê dessa falha ocorrer, mas ela pode ser afetada por diversos fatores como: dieta, falta de exercício físico, predisposição genética, estresse, entre outros.

O diagnóstico da depressão, entretanto, é feito clinicamente. O paciente deve apresentar, obrigatoriamente, humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por, no mínimo, duas semanas. Podendo ter, também, perda ou ganho de peso não intencional, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga, culpa excessiva, capacidade diminuída de se concentrar e pensamentos recorrentes de morte.

É uma doença que surge silenciosamente, e é um estado mental que paralisa e muda a maneira da pessoa ser e de ver o mundo. Os pacientes com depressão tendem a se afastar da família, dos amigos e às vezes, se isolam completamente. As atividades que antes eram prazerosas tornam-se sem importância.  Falta motivação e as pequenas tarefas do dia a dia se tornam difíceis, gerando um descuido com a aparência, autoimagem negativa e comentários autodepreciativos.

É comum o paciente afirmar “tenho medo de morrer e tenho medo de viver”, pois não vê saída nesse estado mental que consome toda a energia. Por vezes, o paciente decide entre duas opções: buscar ajuda ou tentar suicídio.

O suicídio é, ainda, um tabu na nossa sociedade. Pessoas que tentam ou chegam a cometer o ato, frequentemente acreditam que todo o sofrimento tem como solução a morte, buscando aliviar a dor psíquica. Entretanto, a depressão é uma doença passível de tratamento. É importante destacar que falar pode ajudar na mudança do quadro depressivo. Sendo assim, ter uma rede de apoio (que na maioria das vezes é formada por familiares e amigos) e receber acompanhamento psicológico é crucial.

O tratamento, além da psicoterapia, é feito com antidepressivos. Não existe o melhor antidepressivo, o medicamento deve ser prescrito conforme as necessidades do paciente. Ele deve ser usado de forma contínua por três semanas ou mais, no mínimo, para que inicie os efeitos.

A classe mais utilizada atualmente são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRR) pois apresentam menos efeitos colaterais. A fluoxetina e a sertralina são os ISRR mais populares no mercado, sendo muito usadas também em quadros ansiosos.

Elas devem ser tomadas de manhã, pois um dos poucos efeitos colaterais é insônia (exceto a paroxetina e a fluvoxamina que aumentam o sono, devendo ser utilizadas a noite). Nessa classe, há também o citalopram e o escitalopram, remédios que têm menos efeitos colaterais entre todos.

Existem, também, os inibidores seletivos de recaptação de noradrenalina e serotonina (DUAIS) que têm pouca interação medicamentosa e auxilia na modulação da dor, principalmente em pacientes com dor crônica. Os DUAIS são: venlafaxina, desvenlafaxina e a duloxetina.

Seguindo entre as classes de antidepressivos, há os tricíclicos, que agem nos três neurotransmissores já citados. Eles aumentam o sono e o peso, por isso devem ser repensados em pacientes que não desejam engordar. Também, têm efeitos anticolinérgicos e alteram a condução cardíaca e, por isso, foram cada vez menos utilizados. São eles: amitriptilina, clomipramina, nortriptilina, imipramina e doexepina.

As medicações mais antigas são os inibidores da monoaminoxidade/IMAO e, atualmente, são utilizadas em casos refratários devido sua alta interação e grandes efeitos colaterais. Tranilcipromina e Monoclobemina são os representantes dessa classe.

Os antidepressivos atípicos são: mirtazapina (aumenta o apetite e sono), trazodona (hipnótico em dose baixa), vortioxetina e agomelatina (depressões sazonais). O inibidor de recaptação de noradrenalina é representado pela reboxetina.

Por último, a bupropiona é um inibidor seletivo de recaptação de noradrenalina e dopamina, é um medicamento importante, pois é utilizado no tratamento do tabagismo. Esse remédio não trata a ansiedade e não traz efeitos sexuais (por vezes aumenta a libido).

O mais importante, além disso, é conversar com alguém sobre os sintomas. Pedir ajuda é o primeiro passo para ganhar essa batalha. Existem vários profissionais capacitados que podem auxiliar nesse processo, a equipe multidisciplinar e seus vários ramos são de suma importância. Não sinta vergonha ou culpa por sentir tais sentimentos, estamos aqui pra você!


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Referências

Beny; VALLADA FILHO, Homero Pinto. Genética e fisiopatologia dos transtornos depressivos. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 21, supl. 1, p. 12-17, May 1999 . Availablefrom<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000500004&lng=en&nrm=iso>. accesson 24 Nov. 2020. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000500004.

KAPLAN, HI. & SADOCK, B. Compêndio de Psiquiatria. 11ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 2017.

GOLAN, David E.; ARMSTRONG, Ehrin J.; ARMSTRONG, April W. (Ed.). Principios de farmacología: bases fisiopatológicas del tratamiento farmacológico. Wolters Kluwer, 2017.

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