Um grupo de pesquisadores de Wuhan, na China, publicou um estudo baseado em duas coortes de pacientes grávidas, sendo um prévio e o outro durante a pandemia de Covid-19, em busca de avaliar parâmetros de depressão, ansiedade e níveis de estresse nestas mulheres. A coorte "Novel Coronavirus-Pregnancy" (NCP) foi conduzida ao longo da pandemia e incluiu 531 pacientes, ao passo que o estudo "Healthy Baby Cohort" (HBC) já havia sido realizado previamente e contava com 2352 participantes.
Os autores do estudo citam que, embora eventos relacionados a ansiedade, depressão, suicídio e aumento de estresse tenham aumentado de incidência ao redor do planeta e em todas as populações, as mulheres grávidas podem ser mais suscetíveis a desordens de saúde mental graças às flutuações hormonais características da gestação. Estes problemas de saúde mental, por sua vez, podem desencadear eventos adversos no parto e aumentam o risco de distúrbios no desenvolvimento da saúde mental dos filhos.
A média de idade das participantes em ambas as coortes foi de 30 anos. As taxas de depressão, especialmente de moderada a severa, encontradas pelos pesquisadores foi significativamente mais alta nas pacientes grávidas durante a pandemia de Covid-19 (10,36%) em comparação com as grávidas da coorte HBC (0,55%, com valor de p < 0,001), mas não houve diferença estatisticamente significativa nas taxas de ansiedade. Ao focar no grupo de mulheres da coorte NCP, os autores observaram que a presença de sobrepeso/obesidade materna prévia à gestação foi um fator protetor, ao passo que menores níveis educacionais maternos estiveram relacionados a maior probabilidade de desenvolvimento de depressão e ansiedade. Além disso, também constatou-se que a ocorrência de sangramento vaginal gestacional foi um fator de risco para depressão, ansiedade e maiores níveis de estresse materno.
Os autores discutem que a maior incidência de depressão em gestantes durante a pandemia de Covid-19 pode ter sido ocasionada pelas políticas de isolamento social, embora tenha sido menor quando comparada com os dados obtidos para a população em geral, na qual observou-se 16,5% de depressão moderada a severa. Os pesquisadores especulam que esta diferença se deva ao fato de que as gestantes são naturalmente uma população que recebe mais atenção e cuidado dos familiares, fato que poderia aliviar os sintomas depressivos nestas pacientes. Os autores também observaram que o trimestre gestacional no qual a paciente se encontrava não foi fator de risco para desordens de saúde mental.
De forma interessante, os pesquisadores notaram que a pandemia de Covid-19 pode aumentar os riscos de depressão para mulheres grávidas. As participantes da coorte estudada não estavam infectadas, e, para estas uma maior taxa de depressão pode ser esperada. Como resultado, eles indicam que a avaliação oportuna da saúde mental e a assistência são necessárias para a população, especialmente para os infectados com Covid-19. Para concluir, constatou-se que a taxa de estresse para aquelas pacientes que experimentaram a pandemia foi menor do que para aquelas que não. Embora os pesquisadores não tenham investigado motivos para tal, de acordo com as características da pandemia, eles inferem que os acompanhantes familiares e a redução da carga de trabalho podem beneficiar as gestantes.
Artigo escrito por Caroline Ahrens Ortolan
Artigos relacionados:
Você pode ser um escritor da Academia Médica!
Publique seu artigo na Academia Médica e faça parte de uma comunidade crescente de mais de 215 mil médicos, acadêmicos, pesquisadores e profissionais da saúde. Clique no botão "NOVO POST" no alto da página!
Referência:
Mei H, Li N, Li J, Zhang D, Cao Z, Zhou Y, Cao J, Zhou A. Depression, anxiety, and stress symptoms in pregnant women before and during the COVID-19 pandemic. J Psychosom Res. 2021 Jul 27;149:110586. doi: 10.1016/j.jpsychores.2021.110586. Epub ahead of print. PMID: 34454381; PMCID: PMC8314786.