Até 80% das mulheres grávidas podem apresentar náuseas e vômitos durante a gravidez. Em aproximadamente um terço dessa população, náuseas e vômitos na gravidez (e em particular, hiperêmese gravídica) representam um fardo significativo em termos de perda de tempo no trabalho, efeitos adversos nas relações pessoais e familiares e aumento das visitas relacionadas a cuidados de saúde. Além disso, náuseas e vômitos graves na gravidez podem causar desidratação e perda de peso, necessitando de hospitalização.
Vários medicamentos foram experimentados para tratar náuseas e vômitos na gravidez, com vários graus de sucesso. Atualmente, existem dados limitados disponíveis para orientar os médicos na escolha de medicamentos antieméticos para o tratamento de náuseas e vômitos na gravidez. No entanto, a experiência clínica e um número limitado de estudos têm apoiado o uso de medicamentos como doxilamina, piridoxina, metoclopramida e ondansetrona.¹
Embora a Ondansetrona seja frequentemente usada para tratar náuseas e vômitos durante a gravidez, pouco se sabe sobre os efeitos do seu uso ou o de outros antieméticos na gravidez, com isso em mente, será que existe alguma associação entre o uso de ondansetrona e outros antieméticos e abortos ou malformações congênitas?
É o que se propõe a responder um estudo realizado em 3 países( Canadá, EUA e Reino Unido)no qual foram incluidas mulheres de 12 a 55 anos que experimentaram aborto espontâneo, aborto induzido, natimorto ou nascimento vivo entre abril de 2002 e março de 2016.
O estudo incluiu pacientes com dispensa (ou prescrição) de ondansetrona ou outro antiemético durante a gravidez. O resultado primário foi a morte fetal, que foi uma combinação de aborto espontâneo e natimorto. Três desfechos secundários foram aborto espontâneo e natimorto e malformações congênitas maiores. Nascidos vivos com anomalias cromossômicas, síndromes genéticas, infecções virais congênitas e outras anomalias com causas conhecidas foram excluídos da coorte do estudo de malformações.
Foram analisados pacientes que usaram ondansetrona prescrita ou um antiemético comparador de uma farmácia comunitária durante a gravidez. Os medicamentos de comparação elegíveis foram diclectina (doxilamina com piridoxina), metoclopramida ou prometazina. Para morte fetal e natimorto, a exposição a medicamentos antieméticos foi avaliada em qualquer momento durante a gestação.
Para o aborto espontâneo, a exposição foi avaliada desde o início da gestação até a ocorrência de um desfecho ou 140 dias de gestação (20 semanas), o que ocorrer primeiro. Para malformações congênitas maiores, a exposição foi avaliada apenas durante os primeiros 84 dias de gestação (12 semanas). Em análises de sensibilidade, a exposição para todos os resultados foi entre 29 e 70 dias (4 a 10 semanas) de gestação, um período assumido de suscetibilidade máxima do feto aos efeitos teratogênicos.²
A principal análise de morte fetal incluiu 456 963 gestações expostas a ondansetrona ou a um antiemético comparador (249 787 gestações [54,7%] no Canadá, 197 913 gestações [43,3%] nos EUA e 9263 gestações [2,0%] no Reino Unido; idade materna 24 anos, 93 201 pacientes [20,4%]; 25-29 anos, 149 117 pacientes [32,6%]; 30-34 anos, 142 442 pacientes [31,2%]; e 35 anos, 72 203 pacientes [15,8%] ).
As gravidezes expostas a ondansetrona ou a um comparador foram identificadas a partir de uma população de origem de 4 116 424 gravidezes, composta por nascidos vivos (2 733 517 gravidezes [66,4%]), abortos espontâneos (842 112 gravidezes [20,5%]), abortos induzidos (501.165 gravidezes [12,2%]) e natimortos (39.630 gravidezes [1%]). Em suma, a prevalência de exposição durante a gravidez no período foi de 4,5% (185 086 gestações) para ondansetrona e 11,4% (466 693 gestações) para outros antieméticos. Como esperado, a maioria das exposições a antieméticos ocorreu durante o primeiro trimestre. Embora a prevalência geral do uso de antieméticos tenha sido semelhante nos EUA (16,2% [296 995 gestações]) e Canadá (19,3% [340 928 gestações). No Canadá e no Reino Unido, 3,0% das exposições a antieméticos (10 592 gestações) envolveram ondansetrona.²
Em resumo não houve associação entre a exposição a ondansetrona durante a gravidez e o aumento do risco de morte fetal, aborto espontâneo, natimorto ou malformações congênitas maiores em comparação com a exposição a outros medicamentos antieméticos.²
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Referências
CARSTAIRS, Shaun D. Ondansetron use in pregnancy and birth defects: a systematic review. Obstetrics & Gynecology, v. 127, n. 5, p. 878-883, 2016.
DORMUTH, Colin R. et al. Comparison of Pregnancy Outcomes of Patients Treated With Ondansetron vs Alternative Antiemetic Medications in a Multinational, Population-Based Cohort. JAMA network open, v. 4, n. 4, p. e215329-e215329, 2021.