Pesquisa liderada por cientistas do LSU Health New Orleans Neuroscience Center descreve o caminho de uma potente toxina pró-inflamatória que começa no intestino e termina no cérebro, ligada ao desenvolvimento da doença de Alzheimer (DA). Os pesquisadores fizeram um apanhado das últimas evidências e estudos e publicaram uma perspectiva no periódico Frontiers in Neurology.
A doença de Alzheimer é o diagnóstico mais comum para pacientes com demência e a sexta principal causa de morte para os norte-americanos. Especialistas estimam que até 5,8 milhões de norte-americanos com 65 anos ou mais têm a doença de Alzheimer, sendo que a prevalência nos Estados Unidos deve aumentar para 13,8 milhões até 2050.
Evidências crescentes de pesquisa demonstraram que a composição do microbioma do trato gastrointestinal pode afetar significativamente a homeostase fisiológica normal e contribuir para a patogênese de doenças que variam de vários tipos de doença inflamatória intestinal a câncer e distúrbios neurodegenerativos, como o Alzheimer
Os autores do estudo encontraram evidências de que uma molécula derivada de lipopolissacarídeos (ou LPS), contendo uma neurotoxina gerada pela bactéria Gram-negativa Bacteroides fragilis no trato gastrointestinal humano (conhecida como BF-LPS), está diretamente relacionada com a patogênese da DA.
Neste estudo, o caminho do BF-LPS do intestino para o cérebro e seus mecanismos de ação foram detalhados. O BF-LPS vaza para fora do trato gastrointestinal, atravessa a barreira hematoencefálica através do sistema circulatório e acessa os compartimentos cerebrais. Em seguida, aumenta a inflamação nas células cerebrais e inibe a expressão genética do neurofilamento específico do neurônio (NF-L), uma proteína que suporta a integridade celular. O déficit desta molécula está relacionado com a atrofia celular neuronal progressiva e, finalmente, à morte celular, como é observado nos neurônios afetados pela DA.
Segundo os autores, a abundância de Bacteroides fragilis no microbioma, que é a fonte da neurotoxina BF-LPS, pode ser regulada pela ingestão de fibra alimentar, muito negligenciada na dieta ocidental atual. As abordagens baseadas na dieta para equilibrar os microrganismos no microbioma podem ser um meio atraente para modificar a abundância, biodiversidade e complexidade das formas enterotoxigênicas de bactérias relevantes para a Doença de Alzheimer e seu potencial para a descarga patológica de microrganismos altamente neurotóxicos.
Os pesquisadores concluem que uma melhor compreensão da interação entre o eixo trato gastrointestinal-Sistema Nervoso Central tem potencial considerável para levar a novas estratégias diagnósticas e terapêuticas no manejo clínico da doença de Alzheimer e outras doenças letais, doenças neurodegenerativas progressivas e relacionadas com a idade.
Artigos relacionados:
Estudo revela 42 novos genes associados ao aumento do risco de doença de Alzheimer
Novos mecanismos fisiopatológicos são estudados para Alzheimer e Parkinson
Cochilos longos podem ser sinal precoce da doença de Alzheimer, mostra estudo
A revolução intestinal: microbiota, tecnologia e perspectivas do futuro
Referências:
Aileen I. Pogue, Vivian R. Jaber, Nathan M. Sharfman, Yuhai Zhao, Walter J. Lukiw. Downregulation of Neurofilament Light Chain Expression in Human Neuronal-Glial Cell Co-Cultures by a Microbiome-Derived Lipopolysaccharide-Induced miRNA-30b-5p. Frontiers in Neurology, 2022; 13 DOI: 10.3389/fneur.2022.900048 Disponível em https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fneur.2022.900048/full